Rio de Janeiro (RV) - No dia quinze de agosto ou, como ocorre no Brasil, no
domingo seguinte, a Igreja celebra a festa da Assunção de Nossa Senhora. É a afirmação
da Tradição da Igreja que Maria, concebida sem pecado, dormiu e foi assunta ao céu,
quer dizer, foi levada aos céus pelos anjos.
A fé na Assunção de Maria é professada
tanto pelos cristãos católicos quanto pelos ortodoxos. É a festa da elevação de Nossa
Senhora em corpo e alma ao céu para participar da glória celestial, reservada aos
santos e justos que viveram conforme os ensinamentos do Senhor. Essa afirmação foi
definida como dogma pelo Papa Pio XII, em 1º de novembro de 1950, através da Constituição
Apostólica Munificentissimus Deus (que quer dizer: O mais generoso Deus). É uma festa
com caráter de solenidade, que também é chamada pelos orientais de “Dormição de Nossa
Senhora”, uma vez que ela não morre, mas dorme e é levada ao céu de corpo e alma.
Na
referida Constituição, o Papa afirma que a Assunção de Maria não foi uma necessidade
lógica, mas um dom divino a Maria, como mãe de Jesus. Podemos, no entanto, perceber
que ela, Maria, se torna uma referência à ressurreição final, àquilo que deve acontecer
a todos os cristãos, seguidores e proclamadores de Cristo, do bem e da verdade.
A definição do dogma de forma solene se deu nas seguintes palavras: "Pelo que, depois
de termos dirigido a Deus repetidas súplicas, e de termos invocado a paz do Espírito
de verdade, para glória de Deus onipotente que à Virgem Maria concedeu a sua especial
benevolência, para honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e triunfador do pecado
e da morte, para aumento da glória da sua augusta mãe, e para gozo e júbilo de toda
a Igreja, com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos
São Pedro e São Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma
divinamente revelado que: a Imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado
o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial". (§44 da
Constituição Apostólica)
O Papa Bento XVI, no dia 15 de agosto de 2011, falando
sobre a solenidade, diz que é um dia especial para admirar e louvar pelas grandes
coisas que o Onipotente, por meio da Virgem Maria, fez e operou. O Papa destacou,
ainda, que Maria indica um caminho e uma meta que podem e devem se tornar, de qualquer
modo, o nosso mesmo caminho e a nossa mesma meta. Acrescenta que Maria é a Arca da
Aliança do Novo Testamento, porque acolheu em si Jesus; acolheu em si a Palavra vivente,
todo conteúdo da vontade de Deus, da verdade de Deus; acolheu em si Aquele que é a
nova e eterna Aliança, culminando com a oferta de seu corpo e do seu sangue: corpo
e sangue recebidos de Maria, enfatiza.
Neste ano em curso, no último dia 15,
ainda recordou o Papa Bento XVI: “Esta verdade de fé era conhecida pela Tradição,
afirmada pelos Padres da Igreja, e era, sobretudo, um aspecto relevante do culto rendido
à Mãe de Cristo. O elemento cultual constitui, por assim dizer, a força motora que
determinou a formulação deste dogma: o dogma parece um ato de louvor e de exaltação
em relação à Virgem Santa. Este emerge também do próprio texto da Constituição Apostólica,
onde se afirma que o dogma é proclamado “em honra ao Filho, para a glorificação da
Mãe e a alegria de toda a Igreja”.
Vale ressaltar que todos os feitos realizados
na vida de Maria são consequências de sua maternidade divina, eles existem porque
Maria aceitou ser a mãe do Filho de Deus. Portanto, o que a Ela se refere também se
refere a Deus, que nela tudo realizou, como saiu de sua própria boca no canto do Magnificat:
“O Senhor fez em mim maravilhas, santo é o seu nome”. Recordar toda a obra da vida
de Maria é recordar a ação de Deus na vida de seus eleitos, bem como recordar sua
força e poder agindo em favor e pelo bem de toda a humanidade, restaurada e readquirida
no sangue do Cordeiro. Maria se torna protótipo, modelo da nova humanidade, onde a
ação de Deus se faz visível e opera com toda a sua eficácia. Também esta dimensão
o Papa ressalta quando diz: "também nós somos destinados a esse imenso amor que Deus
reservou, e é Maria quem indica, com luminosa clareza, o caminho em direção à verdadeira
casa, aquela na qual é possível viver a comunhão da glória e da paz com Deus.
Deus,
em sua infinita bondade e misericórdia, nos destina para a felicidade eterna, aquela
que Ele mesmo goza. Essa felicidade acontece à medida que somos capazes de realizar
a finalidade a que viemos. Todos temos o mesmo objetivo: participar da glória eterna,
da visão beatífica de Deus, nos céus, pela eternidade, e aí está a nossa felicidade
plena e inigualável.
Maria é modelo desta felicidade e testemunha fiel da
beatitude dos santos, aqueles que tiveram suas vestes lavadas e alvejadas no sangue
do Cordeiro.
Maria é, pois, a mais bela de todas as mulheres, pois são as virtudes
que embelezam o corpo. O pecado só descaracteriza a beleza da criação, criada à imagem
e semelhança de seu Criador.
Que olhando para Maria, para sua vida de total
dedicação e obediência a Deus, possamos viver as virtudes e receber as graças de Deus
para que nossa alma cresça sempre mais no amor, no conhecimento e na contemplação
de nosso amado Deus, e assim possamos revelar ao mundo os sinais de sua bondade e
de sua salvação. Que Maria nos ajude a chegar às alturas, a buscar as coisas do alto
onde está Deus, a elevarmos nossa dignidade tal qual Ele nos garantiu quando, tornando-se
opróbrio entre os homens e oferecendo sua vida na mais humilhante forma de morte na
cruz, devolveu à humanidade a dignidade ferida pelo pecado.
Que Nossa Senhora
nos auxilie com sua intercessão para que também nós possamos contemplar a glória dos
céus, na eternidade, onde está Cristo, o desejado de nossa alma. Com Ela, com todos
os santos, mártires e bem-aventurados possamos contemplar eternamente a face Daquele
que nos faz subir ao monte santo da eterna adoração – a Jerusalém celeste, a pátria
dos cristãos.
Nossa Senhora da Assunção, rogai por nós!
† Orani João
Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro,
RJ