Festa de São Lourenço: o mártir, pessoa livre diante do poder, afirma Bento XVI
Cidade do Vaticano (RV) - "Não basta o testemunho cristão", mas "é necessário
também a palavra clara e corajosa", em particular diante do "conformismo dominante".
Foi
o que disse na manhã desta sexta-feira o arcebispo de Gênova e presidente da Conferência
Episcopal Italiana, Cardeal Angelo Bagnasco, durante a missa na Catedral de Gênova,
por ocasião da Festa de São Lourenço – diácono e mártir –, padroeiro da cidade. São
palavras que fazem eco às de Bento XVI sobre o Santo martirizado sob o Império Romano
no Séc. III.
O Cardeal Bagnasco definiu o martírio de São Lourenço uma "profecia":
o Santo diácono que administrava os bens da Igreja a serem distribuídos aos pobres
não se curvou diante das ordens do imperador Valério, que lhe pedia que entregasse
os seus tesouros em troca da vida.
"Eis aí, estes são os tesouros da Igreja",
respondeu sem medo São Lourenço mostrando os pobres, os doentes e os marginalizados
aos quais assistia todos os dias e aos quais havia dado tudo que tinha. "Não queria
defender as riquezas da Igreja – afirmou o purpurado –, mas a liberdade da Igreja
para a sua missão de salvação."
O mártir é uma pessoa livre, recorda também
Bento XVI:
"O mártir é uma pessoa sumamente livre, livre em relação ao poder
do mundo. Uma pessoa livre que num único ato definitivo doa a Deus toda a sua vida,
e num supremo ato de fé, de esperança e de caridade, se abandona nas mãos de seu Criador
e Redentor; sacrifica a própria vida para ser associado de modo total ao Sacrifício
de Cristo na Cruz. Numa palavra: o mártir é um grande ato de amor em resposta ao imenso
amor a Deus." (Audiência Geral, 11 de agosto de 2010)
"A Igreja tem a missão
de anunciar o Evangelho, uma verdade que está acima e que precede a autoridade humana"
e que obriga os cristãos a não negociar os princípios fundamentais, disse o Cardeal
Bagnasco na referida celebração. Daí, a possibilidade de pagar com a vida, como São
Lourenço, que foi queimado vivo, mas sem ódio no coração. Ainda as palavras do Papa:
"Estes
santos são testemunhas daquela caridade que ama 'até o fim', e não leva em consideração
o mal recebido, mas o combate com o bem (cfr 1 Cor 13,4-8). Deles podemos aprender,
especialmente nós sacerdotes, o heroísmo evangélico que nos impele, sem nada temer,
a dar a vida para a salvação das almas. O amor vence a morte!" (Angelus, 9 de
agosto de 2009)
São Lourenço foi morto porque o Império Romano considerava
a fé cristã um perigo para a unidade ideológica do Estado. Embora nem todos os cristãos
sejam chamados ao martírio – observa Bento XVI –, todos, porém, devem testemunhar
a caridade na verdade:
"Todos, sobretudo em nosso tempo em que egoísmo e
individualismo parecem prevalecer, devemos assumir como primeiro e fundamental compromisso
crescer todos os dias num amor sempre maior a Deus e aos irmãos para transformar este
nosso mundo." (Audiência Geral, 11 de agosto de 2010) (RL)