Brasília (RV) - Em agosto, mês das vocações, reflete-se sobre a vocação diaconal
e a presbiteral. No dia 10 de agosto, é celebrado o "dia do diácono", na festa de
São Lourenço, diácono e mártir e patrono dos diáconos. Para celebrar a data, o Presidente
da Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada, Dom Pedro Brito Guimarães,
saúda aos diáconos permanentes do Brasil e lembra que “quem aceita seguir Jesus,
como seu discípulo, assume a condição de servo, com a vocação de servir.”
Leia
a mensagem na íntegra:
Amados irmãos diáconos,
Tenho Sede!
A
diaconia da Igreja decorre da sua íntima união à missão do próprio Cristo, que disse
de si mesmo: "Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar
a vida em resgate por muitos" (Mc 10,45). Jesus definiu a sua missão como um serviço
que, no fundo, era a realização da vontade do Pai e do seu desígnio de salvação. É
assim que Ele se apresenta como Servo que deseja ser reconhecido, seguido e imitado:
"eu estou no meio de vós como aquele que serve" (Lc 22,27); "Dei-vos o exemplo para
que vós possais agir como Eu agi em relação a vós" (Jo 13,15). A atitude do servo
supõe a obediência. Servir é obedecer e pôr a vida a serviço da vontade e do projeto
do Pai que O enviou. "É preciso que o mundo saiba que eu amo o Pai e faço como o Pai
me mandou" (Jo 14,31). Portanto, quem aceita seguir Jesus, como seu discípulo, assume
a condição de servo, com a vocação de servir.
A diaconia na Igreja católica
tem a sua origem na diaconia de Jesus. O diaconato é sacramento da caridade aos pobres
e excluídos. Vocês, caros diáconos, “são ordenados para o serviço da Palavra, da caridade
e da liturgia, especialmente para os sacramentos do batismo e do matrimônio; também
para acompanhar a formação de novas comunidades eclesiais, especialmente nas fronteiras
geográficas e culturais, onde ordinariamente não chega a ação evangelizadora da Igreja”
(DAp 205). Isto quer dizer que vocês, diáconos, não são ordenados para vocês mesmos,
nem para se colocar acima dos demais leigos, nem para desempenhar funções diferentes
da dos presbíteros e dos bispos, mas para a missão, além do mundo que nos rodeia,
para além das fronteiras da fé. Pelo testemunho de vida doada à missão, incorporados
a Jesus Cristo, servo e servidor, vocês, por meio do sacramento da ordem, devem revelar
a dimensão especial da diaconia do ministério ordenado, ajudando a construir um mundo
mais de acordo com o projeto de Deus.
O Concílio Vaticano II, no texto da restauração
do diaconado, lembra: “dedicados aos ofícios da caridade e da administração, lembrem-se
os diáconos do conselho do bem-aventurado Policarpo: ‘Misericordiosos e diligentes,
procedam em harmonia com a verdade do Senhor, que se fez servidor de todos’” (LG 29).
Por
causa da dupla sacramentalidade, é de particular importância para vocês, diáconos,
chamados a serem homens de comunhão e de serviço, a capacidade de inter-relações com
todos. Vocês são diáconos na família, na Igreja, na sociedade e nos locais de convivência
e de trabalho. Isto exige que vocês sejam, a exemplo de Abraão, obedientes, acolhedores,
diligentes, caridosos (Gn 22,1ss;18,1ss), afáveis, hospitaleiros, sinceros nas palavras
e no coração, prudentes e discretos, generosos e disponíveis no serviço, capazes de
se oferecer pessoalmente e de suscitar, em todos, relações genuínas e fraternas, prontos
a compreender, perdoar e consolar.
Os elementos que mais caracterizam a espiritualidade
diaconal são a opção pelo serviço, missão e partilha de vida, a exemplo do amor de
Jesus Cristo, que não veio para ser servido, mas para servir. Vocês, diáconos, devem,
por isso, ser formados para adquirir, cotidiana e progressivamente as atitudes, que,
embora não sejam exclusivamente do diácono, são sinais deste ministério: a simplicidade
de coração, o dom total e desinteressado de si, o amor humilde e serviço aos irmãos,
sobretudo aos mais pobres, sofredores e necessitados, e a escolha de um estilo de
vida baseada na partilha, na pobreza e na missão.
O ministério que vocês recebem
tem como missão ajudar a abrir os olhos da Igreja e da sociedade para enxergar a realidade
dos pobres, excluídos, marginalizados, desamparados. Ao mesmo tempo suscitar ações,
não apenas momentâneas e circunstanciais, mas permanentes, que conduzam à recuperação
completa do bem estar e da cidadania cristã dos assaltados pelo capitalismo desumano.
O diácono é construtor da solidariedade, na medida em que, pelo seu ministério da
caridade, anima e suscita a solidariedade e o serviço em toda a Igreja.
Por
ocasião da festa do mártir São Lourenço, patrono dos diáconos, celebrada no dia 10
de agosto, manifestamos nossa cordial saudação a todos vocês, diáconos permanentes
do Brasil, com suas famílias - esposas, filhos e filhas -, bem como aos candidatos
das Escolas Diaconais, às Diaconias e à Comissão Nacional dos Diáconos. Lembrando,
por fim, o que diz o Documento de Aparecida: “A V Conferência espera dos diáconos
um testemunho evangélico e impulso missionário para que sejam apóstolos em suas famílias,
em seus trabalhos, em suas comunidades e nas novas fronteiras da missão” (DAp 208).
Esperamos
que as Diretrizes para o Diaconado Permanente da Igreja no Brasil passem a ser o manual
de instrução, a fim de que o diaconado seja implantado em todas as dioceses do Brasil. Que
Maria, serva e mãe do Belo Amor, que guardou e meditou radicalmente a Palavra de Deus
em seu coração, sirva de modelo para o serviço que vocês exercem na Igreja e na sociedade. “Amo
a todos vocês no Cristo Jesus” (1Cor 16,24).
Com minha bênção, Dom Pedro
Brito Guimarães, Arcebispo de Palmas e Presidente da Comissão para os Ministérios
Ordenados e a Vida Consagrada (CM-CNBB)