Jales (RV*) - Para a Diocese de Jales, agosto é propício para cultivar sua
identidade eclesial. No dia 15 celebra seu aniversário, solenizado com a romaria ao
redor do cruzeiro de fundação da cidade, que já se tornou tradição de cada ano.
A
recuperação de sua história, permite situar a Diocese no contexto mais amplo da realidade
eclesial do Brasil. Aí nos deparamos com dados históricos muito interessantes, que
ajudam na compreensão do fenômeno religioso que as estatísticas se empenham em apontar
com números, nem sempre bem definidos no seu significado.
Cento e poucos anos
atrás, o Brasil todo só contava com uma dezena de dioceses. Agora já são 274. Um crescimento
espetacular, que precisa ser entendido no seu significado eclesial.
De fato,
até a proclamação da República, só havia em todo o país onze dioceses. E todo o povo
era católico. Uma constatação salta aos olhos: com uma estrutura tão precária, a
Igreja Católica conseguiu a proeza de transmitir a fé cristã a toda a população. Mas
com poucos vínculos eclesiais, e com uma formulação teórica muito precária.
Assim,
o Brasil resultou num povo católico, mas sem garantias institucionais de manutenção
da identidade eclesial. Pela força das circunstâncias, a fé caminhava sem o amparo
da Igreja, e sua transmissão era feita em decorrência de práticas religiosas com pouca
consistência teórica, e quase nenhuma vinculação eclesial.
A fé cristã
tinha precedência diante da estrutura eclesial, o que está de acordo com a práxis
de Cristo, que ensinou aos apóstolos que deviam tolerar se encontravam alguém invocando
nome do Mestre, sem ser seu discípulo. “Não o impeçais... pois se alguém não está
contra vós, está a vosso favor”.
O povo se acostumou a prescindir da Igreja
para crer em Deus, o que em princípio é fato positivo, que mostra a força de convencimento
que a fé cristã possui.
Agora existe uma “investida eclesial”, que precisa
ser bem discernida. Da parte da Igreja Católica, enquanto se alardeiam perdas significativas
em número de fiéis, ela providenciou uma consolidação formidável de sua estrutura,
sobretudo pela implantação de centenas de Dioceses em todo o território nacional.
Concomitante
com o crescimento da estruturação básica da Igreja Católica, o povo cristão brasileiro
vem sendo solicitado com muita insistência por inúmeros apelos de pertença eclesial,
das mais diversas formas e procedências.
Dada a fragilidade histórica dos
laços que unem a expressão de fé com a vinculação eclesial, é mais do que compreensível
que estes apelos de pertença eclesial encontrem acolhida em muitos cristãos, que nunca
fizeram muita questão de vincular sua fé cristã com sua identidade eclesial.
O
problema de fundo é saber em que resulta esta exasperada disputa por adesões eclesiais.
Para que não aconteça o que Cristo advertiu aos fariseus, que eram capazes de ir até
o fim do mundo para tornar alguém discípulo deles, mas a custo de ficar pior do que
era antes.
A fé é um dom precioso, que Deus concede livremente a quem ele quer.
A Igreja faz sentido, não enquanto fatura benefícios da fé do povo, mas enquanto ajuda
o povo a fortalecer e purificar a própria fé. Com esta intenção se justifica a estruturação
eclesial da fé cristã.
O serviço eclesial não pode se transformar em disputa
de concorrência, mas em convergência de esforços. A Igreja está a serviço da fé, e
não a fé a serviço da Igreja. É sob este prisma que precisa ser analisado o panorama
eclesial no Brasil. Como Jesus advertiu os apóstolos, a pregação do seu nome não
pode se transformar em combate entre facções eclesiais.