2012-07-19 12:48:24

Causa indígena provoca movimento inverso de interesses; JPII e os índios.


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Cidade do Vaticano (RV) – Estaria a causa indígena provocando mais reações fora do que dentro do Brasil?

A atuação a Ong inglesa Survival International que, recentemente, lançou uma campanha para “salvar” a tribo mais ameaçada do mundo – os Awá-Guajá do Maranhão – é uma prova do envolvimento internacional em questões nacionais. Étnica, neste caso.

Em defesa dos índios que ainda vivem isolados, a Ong exerce pressão sobre o governo brasileiro por meio de campanhas como esta, porém, os envolvidos na causa, em sua maioria, não são brasileiros.

Sarah Shenker, responsável da Ong pelos assuntos em língua portuguesa, falou com a Rádio Vaticano.

“A Survival está instando o governo brasileiro para que os madeireiros sejam retirados imediatamente da terra dos Awá – que já foi demarcada – e oficialmente são de uso exclusivo dos índios. Contudo, mais de 30% de um dos territórios dos Awá já foi destruído por madeireiros. Essa é uma das campanhas mais importantes da Survival no momento e queremos enfatizar que os madeireiros estão destruindo a floresta”.

Teria a causa indígena chegado a um estágio de total irrelevância para a sociedade brasileira?

Absolutamente. Isso porquê há ainda alguns poucos cérebros brasileiros que se unem em sinapse pró-índios. Estas mentes, juntas, tentam encontrar saídas para o resultado do processo social, econômico e político de formação do povo brasileiro que condenou os habitantes originais da Terra de Santa Cruz à miséria e as mais variadas formas de preconceito e humilhação.

Não fosse a atuação de órgãos como o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), órgão ligado à CNBB, para trazer à tona um panorama sobre a condição dos índios, menos ainda se saberia.

O mais recente relatório do CIMI revela números de uma atrocidade, de um abandono secular e de exploração sem fim. Somente em 2011, 147 índios perderam a vida. Dentre estes, 51 foram assassinados, 26 crianças morreram em decorrência da desnutrição, 44 índios adultos por falta de atendimento médico e 26 cometeram suicídio.

O Secretário-geral do CIMI, Cleber César Buzatto confirma que grande parte dos problemas dos índios tange à questão das terras.

“O CIMI tem denunciado, nos últimos anos, as cada vez mais frequentes invasões de territórios de povos indígenas. Territórios estes, no geral, já demarcados. Um dos tipos mais recorrentes e violentos de invasão é aquele perpetrado pelos madeireiros – a derrubada e retirada da madeira para o comércio. As consequências são bastante danosas. Temos citado, por exemplo, o caso do povo Awá-Guaja, que é um povo que ainda não tem contato com a sociedade. O território onde eles sobrevivem da pesca, da coleta e do extrativismo está sendo invadido e destruído por empresas madeireiras. Essa invasão e derrubada da mata têm colocado este povo em sério risco de extinção. Essa é uma das consequências mais cruéis. Portanto, o avanço da fronteira agrícola junto com a invasão e o desmatamento das terras indígenas tem colocado muitos povos indígenas em risco de existência. Denunciamos, ainda, casos de suborno e cooptação de lideranças que acabam gerando divisões e conflitos internos devido ao assédio que é feito para a efetivação do desmatamento e da retirada de madeira em terras indígenas”.

João Paulo II, quando esteve em Cuiabá (MT), em 16 de outubro de 1991, teve a oportunidade de se encontrar, outra vez, com um grupo de indígenas.

“Volto a repetir hoje os votos, que já fazia em Manaus em 1980, de que se possa chegar, em todos os problemas, a soluções justas e realistas, para que seja garantido aos índios o direito de habitar suas terras ‘em paz e serenidade, sem o temor de serem desalojados em benefício de outrem, mas seguros de um espaço vital que será base, não somente para a sua sobrevivência, mas para a preservação de sua identidade como grupo humano, como povo. (Discurso aos índios em Manaus 2, 10 de julho de 1980)”.

Coerente em suas palavras, João Paulo II também falou aos governantes.

“Tenho recebido, com grande dor, as notícias que me chegam sobre violações desses direitos, motivadas pela ganância e por interesses escusos, com graves repercussões sobre a vida, a saúde e a sobrevivência de alguns grupos indígenas. Peço a Deus que ilumine a todos os responsáveis pelo bem comum deste país para que se encontrem soluções sábias e eficientes para essas situações lastimáveis”.

E completou:

“Aos olhos de Deus, Criador do mundo e Pai de todos, só existe uma raça: a raça dos homens chamados a serem filhos de Deus. Aos olhos de Deus, só existe um Povo, formado por muitos povos, cada um deles com seu modo de ser, sua cultura e suas tradições: a humanidade que Jesus Cristo resgatou, e salvou, com o preço do seu sangue. Diante do Criador, todos os homens têm o mesmo valor e uma imensa dignidade”.

(RB)







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