Especial Catedrais: seis séculos de fé e história erguem a sólida catedral de Florença
Florença (RV)
- Os sinos soam, a brisa sopra leve e o sol vai se pondo lentamente por traz do
rio Arno, enquanto a catedral de Florença espreita pelas frestas do tempo, século
após século. 600 anos de trabalho, beleza e fé misturam-se ao colorido suave de suas
pedras e mármores, cuja história o Especial Catedrais de hoje vai contar.
A
Basílica de Santa Maria del Fiore é a catedral, ou duomo, de Florença, capital da
Toscana. Marcos dessa monumental construção são a sua cúpula - obra do celebre arquiteto
renascentista Brunelleschi - e o campanário - de Giotto. Uma combinação entre arte
gótica e a primeira renascença italiana, a catedral é também símbolo da riqueza e
do poder da capital da Toscana nos séculos XIII e XIV, centro artístico e financeiro
do Renascimento.
O Duomo de Florença, como o vemos hoje, é o resultado de um
trabalho que se estendeu por seis séculos. Seu projeto básico foi elaborado por Arnolfo
di Cambio, no final do século XIII. Sua fachada, porém, foi concluída somente no século
XIX. Como a obra levou muito tempo para ficar pronta, inúmeros foram os arquitetos
e construtores que a ergueram.
O projeto inicial, como dissemos, foi confiado
a di Cambio, em 1294, que lançou a pedra fundamental em 8 de setembro de 1296. Embora
o estilo dominante da época fosse o gótico, seu projeto foi concebido com uma grandiosidade
clássica. De sua autoria, duas capelas e a fachada, que teve tempo de completar e
decorar só em parte. A construção estagnou-se com a sua morte, em 1309, sendo retomada
somente em 1330, quando fora descoberto o corpo de São Zenóbio entre os escombros
de Santa Reparata, a antiga igreja que existia naquele mesmo local, ainda parcialmente
de pé.
Giotto di Bondone assumiu em 1334 e dedicou-se completamente ao campanário
até a sua morte, três anos depois. Giotto foi sucedido por Andrea Pisano até 1348,
quando a peste levou ao óbito metade da população da cidade, passando de 90 mil para
45 mil habitantes.
Sob Francesco Talenti, supervisor entre 1349 e 1359, o campanário
foi concluído e preparou-se um novo projeto para o Duomo, com a colaboração de Giovanni
di Lapo Ghini e, em 1370, a construção já estava bastante adiantada. O imponente duomo
tomava forma enquanto suas paredes eram erguidas, suas naves estruturadas e o revestimento
externo ganhava mármores e decoração em torno das entradas laterais, a Porta dei Canonici
(sul) e a Porta della Mandorla (norte), esta coroada com um relevo da Assunção, última
obra de Nanni di Banco.
Contudo, o problema da cúpula ainda não fora resolvido.
Brunelleschi fez seu primeiro projeto em 1402, mas o manteve em segredo. Em 1418,
a Opera del Duomo, a centenária empresa administradora dos trabalhos na Catedral,
anunciou um concurso que Brunelleschi haveria de vencer, mas o trabalho não iniciaria
senão dois anos mais tarde, continuando até 1434. A Catedral foi consagrada pelo Papa
Eugênio IV em 25 de março (o Ano Novo florentino) de 1436, 140 anos depois do início
da construção. Os arremates que estavam sendo feitos eram a lanterna da cúpula (colocada
em 1461) e o revestimento externo com mármores brancos de Carrara, verdes de Prato
e vermelhos de Siena, seguindo o projeto original de Arnolfo. Arremates imprescindíveis
que doam-lhe um aspecto suave e imponente ao mesmo tempo.
Hoje nós temos,
portanto, uma catedral de planta basilical, com três naves, divididas por grandes
arcos suportados por colunas monumentais. Tem 153 metros de comprimento, 38 metros
de largura e 90 metros no transepto. Seus arcos se elevam até 23 metros de altura
e o cume da cúpula chega a 90 metros.
Sobre a porta de entrada há um relógio
colossal, com decoração em pintura de Paolo Uccello, ajustado de acordo com a hora
italica, uma divisão do tempo comumente empregada na Itália até o século XVIII, que
dava o por-do-sol como o início do dia.
Os vitrais são os maiores em seu gênero
na Itália entre os séculos XIV e XV, com imagens de santos do Velho e Novo Testamento.
E
essa viagem pela história da Catedral de Florença termina por aqui, enquanto ela permanece,
sólida, no coração da cidade. (ED)