2012-07-04 13:34:02

Card. Hummes: "Igreja na Amazônia está viva, mas preocupada com falta de clero"


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Santarém (RV) - Os bispos da Amazônia, reunidos em Santarém desde o dia 02, abriram o 10º Encontro com celebração eucarística na capela do Seminário São Pio X. Presidida por Dom Luiz Soares Vieira, arcebispo de Manaus, a celebração destacou a vida da caminhada pastoral nas práticas das comunidades de base que muito contribuíram para os movimentos sociais.

Houve destaque para o testemunho de Dom Moacyr Grecchi, arcebispo emérito de Porto Velho, considerado uma das vozes proféticas na Amazônia. Na homilia, Dom Moacir falou aos participantes da celebração e aos ouvintes da Rádio Rural de Santarém, que transmitiu a missa para diversas comunidades amazônicas.

Um dos problemas enfrentados hoje pelas populações da Amazônia são os grandes projetos, que além de causarem grande impacto ao meio ambiente, geram lucros para alguns e provocam inúmeros impactos sociais negativos nas cidades onde estão instalados. Esse foi o assunto principal da primeira coletiva oficial concedida à imprensa na tarde desta terça-feira, 03, no Seminário São Pio X.

A entrevista foi concedida por Dom Jesus Maria Berdonces, bispo da prelazia de Cametá e presidente do Regional Norte I; Dom Mosé João Pontelo, bispo da Diocese de Cruzeiro do Sul e presidente do regional Noroeste; Dom Roque Paloschi, bispo da Diocese de Roraima e presidente do Regional Norte 1 e Monsenhor Raimundo Possidônio, coordenador de Pastoral da Arquidiocese de Belém e historiador.

Dom Jesus Maria Berdonces afirmou que a Amazônia é tida até hoje como uma colônia, aonde as pessoas vêm, pegam a matéria prima, enriquecem e vão embora. “Esse é um modelo capitalista pautado pelo governo para a Amazônia, que não leva em conta o povo que aqui mora. Para eles, o povo é apenas um detalhe, que atrapalha o desenvolvimento, ressalta”.

Ele destacou que existe outro modelo defendido pela Igreja, cujo foco são os povos que estão na Amazônia. “A igreja defende o incentivo à agricultura familiar, defende que os lucros das riquezas (minerais e vegetais) sejam deixados na Amazônia, e que os povos sejam ouvidos”.
Já Dom Roque Paloschi destacou que a questão é saber quem está usufruindo dos lucros desses grandes projetos, que além de terem as bênçãos do governo, são financiados com o dinheiro público. Ele ressalta que as populações não têm garantias, e suas terras quase sempre são “abocanhadas” pelo agronegócio e por grupos econômicos que aqui chegam.

Dom Roque defende o respeito à biodiversidade, a participação de homens e mulheres amazônidas, que possuem a sabedoria milenar e tradicional de cuidar do meio ambiente sem agredi-lo. Ele espera que o encontro de Santarém provoque uma verdadeira reflexão. “Nós esperamos contribuir para que uma reflexão aconteça para que nossas comunidades se tornem sujeitos dessa região e não apenas vista como um entrave no processo do desenvolvimento sonhado pelo agronegócio e pelo governo”, enfatiza.

Dom Mosé João Pontelo afirma que os problemas estão aí, e isso requer responsabilidade dos pastores, que são lideres dessa igreja. E o encontro de Santarém vai apontar qual será o caminho a ser seguido nos próximos cinco anos.

Dom Jesus Maria acredita que os bispos têm a obrigação de tentar iluminar a caminhada com a Palavra de Deus, mas também assumir o desafio e o povo da Amazônia. “É necessário não fugirmos da cruz de nosso Senhor, que é a cruz dos pobres e dos povos desta região”, finalizou.

O 10º encontro dos bispos terá um documento conclusivo e uma carta encaminhada aos governantes dos Estados da Amazônia, outra ao Povo de Deus e uma ao Papa Bento XVI.

O evento celebra e avalia a caminhada da Igreja na região amazônica nos últimos 40 anos, inspirada pelo Documento de Santarém (1972). Qual o significado e a importância daquele Documento? Quem responde é o Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, o Cardeal Cláudio Hummes, presente em Santarém ao lado de 40 bispos da região:

“Estamos revisitando o célebre Documento de Santarém, de 40 anos atrás, um documento muito interessante na época, justamente depois de Medellín e do Concílio Vaticano II. No Documento, foi a primeira vez que se falou no Brasil de prioridades pastorais, de inculturação, de pastoral indígena, das comunidades eclesiais de base, que na época se chamavam comunidades cristãs de base. Enfim, o documento foi muito interessante na época, e agora está sendo revisitado.

Vemos que a Igreja aqui está muito viva, mas ao mesmo tempo, preocupada com a falta de padres, com a falta de condições de formar padres. Faltam recursos econômicos, porque hoje é muito caro formar um padre. Por outro lado, há uma grande vontade de formar o clero autóctone, de indígenas, com todos os desafios que isto comporta”.
(CM)








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