CNBB: saber identificar o tráfico de seres humanos
Brasília (RV) - A ligação entre exploração sexual, tráfico de drogas e trabalho
escravo foi um dos temas analisados por especialistas que participaram de uma audiência
da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico de Pessoas no Brasil, realizada
na Câmara dos Deputados, no dia 26 de junho.
Uma das participantes foi a coordenadora
da Comissão de Justiça e Paz, do Regional Norte 2 da CNBB (Amapá e Pará), Irmã Maria
Henriqueta Cavalcante. Segundo ela, a desigualdade social e a falta de políticas públicas
oferecem poucas alternativas de trabalho para jovens e adolescentes nos estados do
Pará e do Amapá.
Nos dois estados, há altos índices de tráfico de pessoas para
as capitais da Guiana Francesa e do Suriname – Caiena e Paramaribo, respectivamente.
Em muitos casos, essas pessoas trabalham em condição análoga à escravidão, informou
a coordenadora.
“O tráfico acontece ao nosso lado e não sabemos identificar”,
disse a religiosa, que é ameaçada de morte e vive acompanhada de escolta policial.
Parte do depoimento da Irmã Henriqueta sobre a rede de tráfico foi feita a portas
fechadas, por razões de segurança.
Para o coordenador-geral da Comissão de
Erradicação do Trabalho Escravo da Secretaria de Direitos Humanos (SDH), José Armando
Guerra, não há na legislação brasileira a tipificação de tráfico internacional de
pessoas. De acordo com o Código Penal, só há previsão de punição para aliciamento
de brasileiros para trabalho em condições análogas à escravidão.
“Essas pessoas
não conseguem se inserir no mercado de trabalho e são potenciais vítimas de trabalho
escravo. O primeiro registro civil que esses trabalhadores têm é, muitas vezes, a
carteira de trabalho recebida na hora da libertação”, explicou o coordenador.
O
subsecretário de Inspeção do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego, Renato
Bignami, informou ainda que a terceirização do trabalho é um canal para o tráfico
de pessoas no Brasil. Segundo ele, na maior parte das situações degradantes encontradas
pela fiscalização do ministério, os trabalhadores estão em regime de subcontratação.