Orientações pastorais para a promoção das vocações ao ministério sacerdotal (texto
integral)
(25/06/2012) “Orientações pastorais para a promoção das vocações ao ministério sacerdotal”
é o título de um documento de 25 páginas hoje publicado pela Congregação para a Educação
Católica, juntamente com a Obra Pontifícia para as Vocações Sacerdotais. Eis a versão
integral portuguesa:
Congregação para a Educação Católica Pontifícia Obra
para as Vocações Sacerdotais
Orientações pastorais para a promoção das
vocações ao ministério sacerdotal
INTRODUÇÃO
1. A Assembleia
Plenária da Congregação para a Educação Católica solicitou a publicação de orientações
pastorais para promover as vocações ao ministério sacerdotal. Para responder a
tal solicitação, a Pontifícia Obra para as Vocações Sacerdotais, em colaboração com
os seus Consultores, com os representantes da Congregação para a Evangelização dos
Povos, da Congregação para as Igrejas Orientais e para os Institutos de Vida Consagrada
e as Sociedades de Vida Apostólica e da Congregação para o Clero, elaborou um Inquérito
sobre a pastoral do ministério sacerdotal com a finalidade de obter um quadro actualizado
da pastoral vocacional nas diferentes regiões do mundo, especialmente no que diz respeito
ao sacerdócio ministerial. O Inquérito foi enviado no dia 15 de Maio de 2008, por
meio das Representações Pontifícias, a todos os delegados da pastoral vocacional das
Conferências Episcopais e aos directores dos “Centros Nacionais Vocacionais”, para
que pudessem fornecer informações acerca da situação das vocações e formular propostas
de acções pastorais. Examinadas as respostas das Conferências Episcopais e dos
Centros Nacionais ao Inquérito, surgiu o pedido de orientações para a pastoral vocacional,
com base numa clara e fundamentada teologia da vocação e da identidade do sacerdócio
ministerial.
I. A PASTORAL DA VOCAÇÃO AO MINISTÉRIO SACERDOTAL NO MUNDO
2.
Actualmente a situação das vocações presbiterais é muito diversificada no mundo. Ela
apresenta-se caracterizada por luzes e sombras. Enquanto no Ocidente se enfrenta o
problema da diminuição das vocações, nos outros continentes, não obstante os poucos
meios, nota-se um crescimento promissor das vocações sacerdotais. Nos países de
antiga tradição cristã a preocupante diminuição numérica dos sacerdotes, o crescente
aumento da sua média de idade e a necessidade da nova evangelização esboçam a apresentação
de uma nova situação eclesial. A diminuição do índice de natalidade também contribui
para a diminuição das vocações de especial consagração. A vida dos fiéis católicos
sofre o contragolpe da procura desenfreada dos bens materiais e da diminuição da prática
religiosa, que desviam das escolhas corajosas e comprometidas com o Evangelho. Assim
sendo, como escreveu o Santo Padre Bento XVI: «Precisamente no nosso tempo conhecemos
muito bem o “dizer não” de quantos foram convidados primeiro. De facto, a cristandade
ocidental, isto é, os novos “primeiros convidados”, agora em grande parte se recusam,
não têm tempo para se encontrar com o Senhor». Por mais que a pastoral vocacional
seja estruturada e criativa na Europa e nas Américas, os resultados obtidos não correspondem
ao empenho amplamente despendido. Todavia, ao lado de situações difíceis, que devem
ser vistas com coragem e verdade, registam-se alguns indícios de progressos, especialmente
onde se formulam claras e consistentes propostas de vida cristã.
3. A oração
da comunidade cristã sempre reforçou, no povo de Deus, a consciência comum para as
vocações, na forma de uma “solidariedade espiritual”. Ali onde amadurece e se
fortifica uma pastoral integrada, seja ela familiar, juvenil ou missionária, juntamente
com a pastoral vocacional, assiste-se a um florescimento de vocações sacerdotais.
As Igrejas locais tornam-se realmente «responsáveis pelo nascimento e pela maturação
das vocações sacerdotais». A dimensão vocacional não se propõe assim como um simples
acréscimo de programações e de propostas, mas torna-se natural expressão de toda a
comunidade. Os dados estatísticos da Igreja Católica e algumas pesquisas sociológicas
mostram que, quando são propostas iniciativas de nova evangelização nas paróquias,
nas associações, nas comunidades eclesiais e nos movimentos, os jovens demonstram
disponibilidade para responder ao chamamento de Deus e para oferecer a própria vida
ao serviço da Igreja. A família permanece a primeira comunidade para a transmissão
da fé cristã. Constata-se, por toda a parte, que muitas vocações presbiterais nascem
nas famílias, nas quais o exemplo de uma vida cristã coerente e a prática das virtudes
evangélicas fazem brotar o desejo de uma doação total. A solicitude com as vocações
pressupõe, de facto, uma válida pastoral familiar. É necessário ainda acrescentar
que, muitas vezes, a interrogação sobre a vocação presbiteral nasce nos adolescentes
e nos jovens graças ao alegre testemunho dos presbíteros. O testemunho de sacerdotes
unidos a Cristo, felizes do próprio ministério e fraternalmente unidos entre si, suscita
nos jovens um forte chamamento vocacional. Os Bispos e os sacerdotes oferecem aos
jovens uma elevada e atraente imagem do sacerdócio ordenado. «A própria vida dos padres,
a sua dedicação incondicional ao rebanho de Deus, o seu testemunho de amoroso serviço
ao Senhor e à sua Igreja - testemunho assinalado pela opção da cruz acolhida na esperança
e na alegria pascal -, a sua concórdia fraterna e o seu zelo pela evangelização do
mundo são o primeiro e mais persuasivo factor de fecundidade vocacional». De facto,
os sacerdotes são frequentemente testemunhas de dedicação à Igreja, capazes de uma
alegre generosidade, de uma humilde adaptação às diversas situações nas quais se encontram
e trabalham. O seu exemplo suscita o desejo de grandes compromissos na Igreja e a
vontade de doar a própria vida ao Senhor e aos irmãos. Exerce uma forte atracção,
especialmente nos jovens, o compromisso dos sacerdotes com as pessoas sedentas de
Deus, dos valores religiosos e que se encontram na condição de grande pobreza espiritual.
Nota-se também que muitos jovens descobrem o chamamento ao sacerdócio e à vida
consagrada depois de terem vivido uma experiência de voluntariado, um serviço de caridade
para com os que sofrem, os necessitados e os pobres, ou depois de se terem dedicado
por algum tempo nas missões católicas. A escola é outro ambiente da vida dos adolescentes
e dos jovens, no qual o encontro com um sacerdote professor ou a participação em iniciativas
de aprofundamento da fé cristã têm proporcionado o início de um caminho de discernimento
vocacional.
4. A difusão da mentalidade secularizada desencoraja a resposta
dos jovens ao convite de seguir o Senhor Jesus, com mais radicalidade e generosidade. Ao
Inquérito promovido pela Pontifícia Obra para as Vocações Sacerdotais, as Igrejas
locais enviaram muitas respostas que evidenciam uma série de motivos pelos quais os
jovens ignoram a vocação sacerdotal e a reenviam a um futuro incerto. Além disso,
os pais, com as suas expectativas acerca do futuro dos filhos, reservam espaços limitados
à possibilidade de vocações de especial consagração. Outro aspecto que desfavorece
a vocação presbiteral é a gradual marginalização do sacerdote na vida social, com
a consequente perda da relevância pública. Além disso, em muitos lugares a própria
escolha celibatária é colocada em discussão. Não somente uma mentalidade secularizada,
mas também opiniões erradas no interior da Igreja conduzem ao desprezo do carisma
e da escolha celibatária, mesmo se não podem ser silenciados os graves efeitos negativos
da incoerência e do escândalo, causados pela infidelidade aos deveres do ministério
sacerdotal entre os quais, por exemplo, os abusos sexuais. Isso cria confusão nos
próprios jovens que, não obstante isso, estariam dispostos a responder ao chamamento
do Senhor. A própria vida presbiteral, arrastada no turbilhão do activismo exagerado
com a consequente sobrecarga de trabalho pastoral, pode ofuscar e enfraquecer a luminosidade
do testemunho sacerdotal. Em tal situação, a promoção dos caminhos pessoais e o acompanhamento
espiritual dos jovens tornam-se uma ocasião propícia para a proposta e o discernimento
da vocação, especialmente da vocação presbiteral.
II. VOCAÇÃO E IDENTIDADE
DO SACERDÓCIO MINISTERIAL
5. A identidade da vocação ao ministério sacerdotal
coloca-se no íntimo da identidade do cristão enquanto discípulo de Cristo. «A história
de cada vocação sacerdotal, como aliás de qualquer outra vocação cristã, é a história
de um inefável diálogo entre Deus e o homem, entre o amor de Deus que chama e a liberdade
do homem que no amor responde a Deus». Os Evangelhos apresentam a vocação como
um maravilhoso encontro de amor entre Deus e o homem. Este é o mistério do chamamento,
mistério que envolve a vida de cada cristão, mas que se manifesta com maior evidência
naqueles que Cristo convida a deixar tudo para O seguir mais de perto. Cristo sempre
escolheu algumas pessoas para colaborarem de maneira mais directa com Ele na realização
do desígnio salvífico do Pai. Jesus, antes de chamar os discípulos a um serviço
particular, convida-os a deixar tudo, para viver em profunda comunhão com Ele, ou
melhor, para “estar” com Ele (Mc 3,14). Também hoje o Senhor Ressuscitado chama
os futuros presbíteros para transformá-los em verdadeiros anunciadores e testemunhas
da sua presença salvífica no mundo. É no exemplo daquela experiência que nasce
a necessidade de ser companheiro de viagem de Cristo Ressuscitado, de empreender um
percurso de vida que nada dá como certo mas que, com docilidade, se abre ao Mistério
de Deus que chama.
6. Cristo Pastor é origem e modelo do ministério sacerdotal.
Ele mesmo decidiu confiar a alguns dos seus discípulos a autoridade de oferecer o
Sacrifício eucarístico e de perdoar os pecados. «E assim, enviando os Apóstolos
tal como Ele tinha sido enviado pelo Pai, Cristo, através dos mesmos Apóstolos, tornou
participantes da sua consagração e missão os sucessores deles, os Bispos, cujo ofício
ministerial, em grau subordinado, foi confiado aos presbíteros, para que, constituídos
na Ordem do presbiterado, fossem cooperadores da Ordem do episcopado para o desempenho
perfeito da missão apostólica confiada por Cristo». Por isso, o sacerdote, como
afirma claramente a doutrina do carácter da Ordem sacra, é configurado a Cristo Sacerdote
que o habilita a agir na pessoa de Cristo Cabeça e Pastor. O ser e o agir do sacerdote,
no ministério, provém da fidelidade de Deus, marcada pelo dom espiritual que, no sacramento
da Ordem, passa a habitar no sacerdote de maneira permanente e o diferencia dos baptizados
participantes do sacerdócio comum. O sacerdote, de facto, enquanto unido à Ordem episcopal,
participa da autoridade com a qual Cristo «edifica, santifica e governa o seu corpo». Desta
forma, o sacerdócio ministerial diferencia-se essencialmente do sacerdócio comum e
está ao seu serviço. De facto, o sacerdote ministerial, «pelo seu poder sagrado, forma
e conduz o povo sacerdotal, realiza o sacrifício eucarístico fazendo as vezes de Cristo
e oferece-o a Deus em nome de todo o povo; os fiéis, por sua parte, concorrem para
a oblação da Eucaristia em virtude do seu sacerdócio real, que eles exercem na recepção
dos sacramentos, na oração e acção de graças, no testemunho da santidade de vida,
na abnegação e na caridade operosa». Para isto «tende e nisto se consuma o ministério
dos presbíteros». É claro que o dom transmitido pela imposição das mãos deve ser
sempre “reavivado” (cf. 2 Tm 1,6), porque os sacerdotes «quer se entreguem à oração
e à adoração quer preguem a Palavra de Deus, quer ofereçam o sacrifício eucarístico
e administrem os demais sacramentos, quer exerçam outros ministérios favor dos homens,
concorrem não só para aumentar a glória de Deus mas também para promover a vida divina
nos homens». A primeira dimensão do sacramento da Ordem, de carácter cristológico,
funda a dimensão eclesiológica. Enquanto é necessário que a própria Igreja seja convocada
pelo Cristo Ressuscitado, os sacerdotes são habilitados pelo sacramento da Ordem a
ser instrumentos eficazes para a edificação da Igreja, através do anúncio da Palavra,
da celebração dos sacramentos e da orientação do povo de Deus. Sem estes dons a Igreja
perderia a própria identidade. O sacerdócio ministerial é assim o ponto nevrálgico
e vital para a existência da Igreja, enquanto sinal eficaz da prioridade da graça
com a qual Cristo Ressuscitado a edifica no Espírito. Deste modo os sacerdotes,
representando Cristo Pastor, encontram na total dedicação à Igreja o elemento unificante
da própria identidade teológica e da própria vida espiritual. Por isso, «a caridade
do padre se refere primariamente a Jesus Cristo: só se amar e servir a Cristo Cabeça
e Esposo, a caridade se torna fonte, critério, medida, impulso de amor e de serviço
do sacerdote para com a Igreja corpo e esposa de Cristo». Se o sacerdócio ministerial
não tem nesse amor a sua origem, acaba por tornar-se uma tarefa funcional, em vez
de propor-se como o serviço de um pastor que dá a vida pelo rebanho. É, portanto,
o amor a Cristo que constitui a motivação prioritária da vocação ao presbiterado.
7.
O ministério presbiteral, conferido com o sacramento da Ordem, está marcado na sua
natureza pela vida trinitária, vida que é comunicada por Cristo e pela sua união com
o Pai no Espírito Santo. Esta vida determina essencialmente a identidade presbiteral. Cada
sacerdote vive na comunhão real e ontológica do Presbitério unido ao próprio Bispo.
De facto: «O ministério ordenado, em virtude da sua própria natureza, pode ser exercido
somente na medida em que o presbítero estiver unido a Cristo mediante a inserção sacramental
na ordem presbiteral e, por conseguinte, enquanto se encontrar em comunhão hierárquica
com o próprio Bispo. O ministério ordenado tem uma radical “forma comunitária” e pode
apenas ser assumido como “obra colectiva”». O sacerdote serve a communio da Igreja
em nome de Jesus Cristo. O Senhor chama o presbítero pessoalmente e associa-o à relação
pessoal consigo, à experiência da fraternidade apostólica e à missão pastoral de exemplar
origem trinitária. O “nós” apostólico, reflexo e participação da comunhão trinitária,
marca a identidade do ministério ordenado. É claro que o caminho vocacional e a
própria formação deverão retomar os elementos essenciais dessa mesma vida trinitária,
própria do ministério ordenado, no qual o chamamento pessoal de Cristo está ao serviço
de uma vida de comunhão-missão, reflexo da vida trinitária. Uma tarefa importante
da pastoral vocacional, portanto, será aquela de oferecer aos adolescentes e aos jovens
uma experiência cristã, por meio da qual se possa experimentar a realidade própria
de Deus na comunhão com os irmãos e na missão evangelizadora. Sentindo-se parte de
uma família de filhos e filhas que têm o mesmo Pai, que os ama imensamente, são chamados
a viver como irmãos e irmãs e, perseverando na unidade, se coloquem ao serviço da
nova evangelização «para proclamar e testemunhar a verdade maravilhosa do amor salvífico
de Deus». A pastoral da vocação ao ministério ordenado tende a gerar homens de
comunhão e missão, capazes de se inspirar no “mandamento novo” (cf Jo 13,34) fonte
da “espiritualidade de comunhão”. A promoção vocacional e o consequente discernimento
levam em grande consideração essa experiência cristã, fundamento de um caminho de
graça inscrito no sacramento da Ordem e condição para uma autêntica evangelização.
8.
Um prudente e sábio discernimento das condições essenciais para aderir ao sacerdócio
será oportunamente aprofundado para certificar a idoneidade dos “vocacionados”. A
pastoral vocacional está consciente de que a resposta ao chamamento fundamenta-se
na progressiva harmonização da personalidade nos seus diversos componentes: humano
e cristão, pessoal e comunitário, cultural e pastoral. «O conhecimento da natureza
e da missão do sacerdócio ministerial – lê-se na Pastores dabo vobis - é o pressuposto
irrecusável, e ao mesmo tempo o guia mais seguro bem como o estímulo mais premente
para desenvolver na Igreja a acção pastoral de promoção e discernimento das vocações
sacerdotais e da formação dos chamados ao ministério ordenado». Por esta razão
a pastoral vocacional tende, em primeiro lugar, ao desenvolvimento da pessoa na sua
totalidade e integralidade, com a finalidade de preparar os que são chamados ao sacerdócio
a serem conformes a Cristo Pastor, no contexto de uma profunda experiência comunitária. Cada
“vocacionado” deve ser colocado em condições de viver uma relação íntima de amor com
o Pai que o chama, com o Filho que o configura e com o Espírito que o plasma, por
meio da educação à oração, da escuta da Palavra, da participação à Eucaristia, do
silêncio adorador. A proposta vocacional caminha a par e passo com a assunção
gradual, por parte do “vocacionado”, de tarefas, escolhas e responsabilidades, também
com o objectivo de consentir um discernimento profundo e amplo da autenticidade da
vocação. A integração e a maturação afectiva são uma meta necessária para saber
acolher a graça do Sacramento. Convém evitar as propostas vocacionais dirigidas a
sujeitos que, mesmo sendo louváveis no seu caminho de conversão, são marcados por
fragilidades humanas profundas. É importante que o “vocacionado” perceba com clareza
os compromissos que deverá assumir, particularmente no celibato. É oportuno que
o chamamento tenha raízes num contexto eclesial preciso que dê consistência aos motivos
da escolha vocacional e que contribua para sanar os possíveis desvios individualistas
dessa mesma escolha. Assume uma fundamental importância, neste sentido, a qualidade
da experiência paroquial e diocesana, a frequência e a participação activa em associações
e movimentos eclesiais. Normalmente, antes que o adolescente ou o jovem entre
no seminário, é prevista uma experiência de vida comunitária.
9. Um papel decisivo
é realizado pelos acompanhadores vocacionais que, frequentemente, sucedem ao sacerdote
que favoreceu e sustentou os inícios da vocação. Tanto a relação educativa com os
animadores, como o estilo de fraternidade com os outros “vocacionados”, torna mais
autêntico e válido o discernimento da escolha vocacional. Sem dúvida, a vida de
cada sacerdote e de todo o presbitério diocesano, capaz de forjar a imagem ideal do
sacerdote e as condições do seu ministério na vida ordinária também através da sua
visibilidade, favorece o caminho de crescimento do chamamento à vocação presbiteral. Os
exemplos de sacerdotes, venerados como santos, contribuem muito ao encorajamento e
à generosidade dos “vocacionados”. Sacerdotes totalmente dedicados ao cumprimento
do seu ministério pastoral constituem os modelos referenciais seguros para a consolidação
das razões da escolha da ordem presbiteral. Basta lembrar São João Maria Vianney,
o Santo Cura d’Ars, indicado pelo Santo Padre Bento XVI a todos os sacerdotes como
modelo luminoso durante o ano sacerdotal de 2010. Com ele se poderiam recordar muitos
outros sacerdotes exemplares que têm acompanhado, com abnegação, o caminho do povo
de Deus nas igrejas locais durante muito tempo. Certamente é de grande importância
a invocação, confiante e insistente, dirigida à Virgem Maria, Mãe dos Sacerdotes,
para se ser ajudado a acolher, com disponibilidade, o projecto de Deus na própria
vida e a responder “sim”, com fé e com amor, ao Senhor que chama sempre novos operários
para a difusão do Reino de Deus.
10. O crescimento e a maturação de uma vocação
presbiteral requer o amor concreto à própria Igreja particular e a completa disponibilidade
total para qualquer serviço pastoral, experimentando a liberdade interior ao não sentir-se
proprietário da própria vocação. A participação activa na vida de uma comunidade
cristã pode contribuir para que se evitem novas formas de clericalismo, situações
de centralizações pastorais inoportunas, serviços pastorais em part-time, escolhas
ministeriais ajustadas às necessidades individuais, incapazes duma visão de conjunto
e de unidade da comunidade. Para edificar uma Igreja em estado permanente de missão,
a vocação do presbítero realiza-se quando este faz crescer uma comunidade rica em
ministérios, na qual existem amplos espaços para a participação activa e responsável
dos fiéis leigos. Para se tornarem capazes de animar e de sustentar uma comunidade,
é oportuno que os jovens chamados ao sacerdócio aprendam a colaborar e a confrontar-se
com toda a comunidade cristã e a estimar cada vocação. A dimensão universal é
intrínseca ao ministério sacerdotal. A ordenação torna o presbítero idóneo para a
missão, que constitui um aspecto essencial da identidade presbiteral. Neste sentido,
é importante educar o “vocacionado” a preocupar-se dos que estão próximos e, ao mesmo
tempo, ter presente aqueles que estão distantes. A disponibilidade para a missão
define a verdade do presbítero em cada uma das suas actividades. Isto significa plasmar
uma estrutura interior e um modo de ser, mais que um modo de fazer, que se caracteriza
pela coragem de sair de toda a forma de particularismo, para abrir o coração às necessidades
da nova evangelização.
III. PROPOSTAS PARA A PASTORAL DAS VOCAÇÕES
SACERDOTAIS
11. As vocações sacerdotais são o fruto da acção do Espírito Santo
na Igreja. Nalguns países regista-se um vigoroso e promissor florescimento das vocações
sacerdotais, que encoraja o prosseguimento no caminho da promoção vocacional. A
Igreja, consciente da necessidade das vocações ao sacerdócio, reconhece que elas são
um dom de Deus e roga, com súplicas incessantes e confiantes ao Senhor, para que Ele
as conceda com generosidade. «É o próprio Cristo, o “Senhor da messe”, que escolhe
os seus operários. A sua chamada é sempre imerecida e inesperada. E contudo, no mistério
da aliança de Deus connosco, somos chamados a cooperar com a Sua Providência e a utilizar
o poderoso instrumento que Ele confiou nas nossas mãos: a oração! Eis quanto o próprio
Jesus pediu que fizéssemos: “Rogai, portanto, ao Senhor da messe que envie trabalhadores
para a Sua messe” (Mt 9, 38)». A oração toca o coração de Deus; torna-se uma grande
escola de vida para os fiéis, ensina a olhar o mundo e as necessidades de cada ser
humano com sabedoria evangélica; e sobretudo une os corações na mesma caridade e na
compaixão de Cristo pela humanidade. A experiência de muitas Igrejas locais atesta
que um número considerável de jovens sente o chamamento ao sacerdócio ministerial
especialmente nas comunidades nas quais a oração constitui uma dimensão constante
e profunda.
12. No Ocidente prevalece uma cultura indiferente à fé cristã e
incapaz de compreender o valor das vocações de especial consagração. Todavia, a
Igreja, chamada a viver no tempo, vê com um olhar sapiente, dentro da história, a
presença de Deus que acompanha, interpela e chama à aliança, mesmo nos momentos aparentemente
menos fecundos e frutuosos; Ela vê «o mundo com grande simpatia porque mesmo se o
mundo se sentisse estranho ao cristianismo, a Igreja não pode sentir-se estranha ao
mundo, qualquer que seja a atitude do mundo em relação à Igreja». A Igreja continua,
ainda hoje, a anunciar a Palavra de Deus e a comunicar a boa nova da salvação com
a coragem da verdade. De modo particular, procura propor aos adolescentes e aos jovens
a fé que interpela a vida e responde à sede de felicidade que habita no coração do
homem. Trata-se de propor a experiência da fé como relação pessoal e profunda com
o Senhor Jesus Cristo, revelador do Mistério de Deus. Da resposta de fé nasce a
descoberta da vocação, especialmente quando é vivida no interior de comunidades cristãs,
que vivem a beleza do Evangelho, e nos ambientes onde trabalham animadores e educadores
capazes de perceber os sinais da vocação. Para que se realize uma proposta de fé
cristã, que suscite uma resposta vocacional, é necessário favorecer espaços autênticos
de relações humanas, através da acção de educadores e acompanhadores adultos na fé
e através de ambientes comunitários de vida cristã atraentes e envolventes. É positivo
propor abertamente a vida sacerdotal aos adolescentes e aos jovens e, ao mesmo tempo,
é necessário convidar as comunidades cristãs a rezar com mais intensidade “ao Senhor
da Messe” (Mt 9,38) para que suscite novos ministros e novas pessoas consagradas. Para
atingir esse objectivo, nas Igrejas locais é oportuno apoiar uma pastoral geral que
trabalhe com impulso evangélico, vocacional e missionário.
13. Todos os membros
da Igreja têm a responsabilidade da solicitude das vocações sacerdotais. «O Concílio
Vaticano II é explícito, ao afirmar que “o dever de fomentar as vocações sacerdotais
pertence a toda a comunidade cristã, que as deve promover, sobretudo mediante uma
vida plenamente cristã” (Optatam totius, n. 2). Só na base desta convicção, a pastoral
das vocações poderá manifestar o seu rosto verdadeiramente eclesial, desenvolvendo
uma acção concorde, servindo-se também de organismos específicos e de adequados instrumentos
de comunhão e de corresponsabilidade». A Santa Sé instituiu, há setenta anos, a
Pontifícia Obra para as Vocações Sacerdotais com o objectivo de favorecer a colaboração
entre a Santa Sé e as Igrejas locais para a formação das vocações ao ministério ordenado. Esse
organismo empenha-se na difusão e no conhecimento da Mensagem para o Dia Mundial de
Oração pelas Vocações, que o Santo Padre envia todos os anos à Igreja. Além disso,
tem a tarefa de recolher e de difundir as iniciativas vocacionais mais significativas
que enriquecem as Igrejas locais; organiza Congressos internacionais; promove e colabora
na realização dos Congressos continentais, com o objectivo de favorecer a sinergia
entre todos aqueles que trabalham no campo da pastoral vocacional. A experiência
das últimas décadas demonstra que a utilização da Mensagem do Santo Padre ajuda as
Igrejas locais a definir, propor e realizar os programas anuais de pastoral vocacional. A
função do Bispo na promoção das vocações, especialmente daquelas sacerdotais, é central
e fundamental. «A primeira responsabilidade da pastoral orientada para as vocações
sacerdotais é do Bispo (Christus Dominus, n. 15), que é chamado a vivê-la em primeira
pessoa, ainda que possa e deva suscitar múltiplas colaborações. Ele é pai e amigo
no seu presbitério, e é sua, antes de mais, a solicitude de “dar continuidade” ao
carisma e ao ministério presbiteral, associando-lhe novos efectivos pela imposição
das mãos. Ele cuidará que a dimensão vocacional esteja sempre presente em todos os
âmbitos da pastoral ordinária, melhor, seja plenamente integrada e como que identificada
com ela. Cabe-lhe a tarefa de promover e coordenar as várias iniciativas vocacionais». É
compromisso do Bispo favorecer para que a pastoral juvenil e vocacional seja confiada
a sacerdotes e a pessoas capazes de transmitir, com entusiasmo e com o exemplo da
própria vida, a alegria de seguir o Senhor Jesus na escola do Evangelho. A nível
diocesano, o Bispo constitui o Centro diocesano para as vocações, composto por sacerdotes,
consagrados e leigos - como um organismo de comunhão, ao serviço da pastoral vocacional
na Igreja local - com a função de promover as vocações de especial consagração, no
contexto de todas as vocações. O Centro diocesano para as vocações ocupa-se da
formação dos animadores vocacionais, suscita e difunde no povo de Deus uma cultura
vocacional, participa na elaboração do programa pastoral diocesano, colabora especialmente
com os organismos diocesanos da pastoral familiar, da catequese e da pastoral juvenil. Nas
dioceses e nas paróquias convém incentivar e sustentar os grupos vocacionais, que
propõem itinerários de educação cristã e de preliminar discernimento vocacional. Os
Centros nacionais ou interdiocesanos para as vocações, sob mandato das Conferências
Episcopais e, normalmente, sob a orientação de um Bispo, coordenam os Centros diocesanos
para as vocações.
14. A graça do chamamento encontra um terreno fértil numa
Igreja que, por meio das suas comunidades e de todos os fiéis, cria condições para
respostas vocacionais livres e generosas. O Beato João Paulo II pediu aos Bispos
para «fortificar o tecido social da comunidade cristã por meio da evangelização da
família, para ajudar os leigos a difundir os valores da coerência, da justiça e da
caridade cristã no mundo juvenil». O testemunho das comunidades cristãs, que saibam
testemunhar a fé, torna-se ainda mais necessário nos dias de hoje para que os cristãos,
comprometidos no seguimento de Cristo, possam transmitir o seu amor. A comunhão dos
crentes em Cristo predispõe a receber o chamamento do Senhor que convida à consagração
e à missão. A promoção das vocações sacerdotais acontece já nas famílias cristãs;
se animadas pelo espírito de fé, de caridade e de piedade, constituem como que o “primeiro
seminário” (Optatam totius, n. 2) e continuam «a oferecer as condições favoráveis
para o nascimento das vocações». Ainda que nas famílias cristãs se cultive um sentido
de respeito pela figura do sacerdote, todavia, nessas mesmas famílias, particularmente
no Ocidente, manifesta-se uma certa dificuldade em acolher a vocação sacerdotal ou
de consagração de um filho. Existe um espaço educativo comum entre a pastoral familiar
e a pastoral vocacional. Tendo presente esse espaço, ocorre tornar mais conscientes
os pais do seu ministério de educadores da fé, enraizado no sacramento do Matrimónio,
para que no coração da família se desenvolvam as condições humanas e sobrenaturais
que tornem possível a descoberta da vocação sacerdotal. A paróquia é, por sua vez,
o lugar por excelência no qual se proclama o Evangelho da vocação cristã e, em particular,
onde se apresenta o ideal do sacerdócio ministerial. Ela é o terreno fértil no qual
brotam e amadurecem as vocações, com a condição de que seja «a família de Deus em
fraternidade animada por um mesmo espírito e, por Cristo e no Espírito Santo» e, portanto,
caracterizada pelo estilo de vida das primeiras comunidades cristãs (cf. At 2, 42;
4, 32). Na paróquia é evidente a variedade das vocações e é mais consciente e viva
a urgência das vocações sacerdotais, necessárias para assegurar a celebração da Eucaristia
e do sacramento da Reconciliação. A comunidade paroquial é um seio fecundo, capaz
de oferecer a todos os que se encaminham para o ministério sacerdotal um precioso
contributo de formação humana e espiritual. Os presbíteros e os consagrados, especialmente
aqueles que trabalham nas comunidades paroquiais, são pessoas decisivas para uma proposta
explícita da vocação sacerdotal às crianças, aos adolescentes e aos jovens, graças
a uma sapiente e convicta acção educativa, capaz de provocar a questão vocacional. Também
os catequistas e os animadores da pastoral nas paróquias, oferecendo uma proposta
global da mensagem cristã, podem individuar e oferecer preciosas conexões entre os
temas da catequese e a apresentação das vocações específicas, especialmente da sacerdotal:
«em particular, os catequistas, professores, educadores, animadores da pastoral juvenil,
cada um segundo os recursos e modalidades próprias, têm uma grande importância na
pastoral das vocações sacerdotais: quanto mais aprofundarem o sentido da sua vocação
e missão na Igreja, tanto melhor poderão reconhecer o valor e carácter insubstituível
da vocação e da missão presbiteral».
15. Aos seminaristas deve ser lembrada
uma consistente verdade pastoral: «Ninguém está mais apto do que os jovens para evangelizar
os jovens. Os jovens estudantes que se preparam para o prebiterado, os jovens e as
jovens que se encontram em formação religiosa e missionária, tanto pessoalmente como
em comunidade, são os primeiros e imediatos apóstolos da vocação no meio dos outros
jovens». Além disso, deve-se ter em consideração os grupos eclesiais organizados,
os movimentos e as associações, enquanto preciosos lugares pedagógicos de proposta
da vocação sacerdotal. Nestes ambientes, o encontro com Cristo é favorecido por uma
concreta atenção às pessoas, por uma proposta espiritual clara e centrada na oração.
Muitas vocações nasceram a partir destas experiências. Na escola, os professores
empenhados num serviço que, por sua natureza, é vocação e missão, podem ampliar a
obra educativa da família no horizonte da cultura e nunca negligenciar a dimensão
vocacional da vida. O seu serviço pode abrir para uma escolha de vida de total
doação a Deus e aos irmãos, infundindo «no ânimo das crianças e dos jovens o desejo
de cumprir a vontade de Deus no estado de vida mais idóneo para cada um, sem nunca
excluir a vocação ao ministério sacerdotal». O período universitário, em muitas
nações, está também a tornar-se para muitos jovens um tempo fecundo para as próprias
escolhas de vida. Tal facto merece a máxima atenção: os anos da juventude são preciosos
e decisivos para a busca do sentido pleno da própria existência. Os animadores
do tempo livre e do desporto, dentro das instituições eclesiais, além dos motivos
específicos que inspiram a sua actividade e os valores humanos que permitem realizar,
não devem perder de vista o objectivo maior: a formação integral e harmónica da pessoa.
Tal formação humana, na medida em que se encontra com a proposta educativa cristã,
constitui de facto um terreno fértil para a proposta da vocação sacerdotal. A direcção
espiritual é uma forma privilegiada de discernimento e de acompanhamento vocacional.
Da parte dos sacerdotes é pedida a convicta disponibilidade à escuta e ao diálogo,
a capacidade de suscitar e dar respostas às interrogações fundamentais da existência,
uma notável sabedoria no tratar as questões inerentes às escolhas de vida e a vocação
ao ministério presbiteral. A direcção espiritual e o counselling vocacional requerem
uma preparação específica na formação inicial e permanente dos presbíteros.
16.
A promoção da vocação sacerdotal encontra os seus pontos fortes nas propostas de formação
à vida cristã, fundamentadas na escuta da Palavra de Deus, participação na Eucaristia
e no exercício da caridade. O anúncio da Palavra passa pela proclamação que inicia
e indica os modos e as formas de actuação do Evangelho na vida de cada fiel e das
comunidades eclesiais. «É precisa uma pregação directa sobre o mistério da vocação
na Igreja, sobre o valor do sacerdócio ministerial, e sobre a sua urgente necessidade
para o Povo de Deus». Também a catequese é um caminho ordinário para a promoção
das vocações, quando ajuda os adolescentes e os jovens a considerar a vida como resposta
ao chamamento de Deus e os acompanha para acolher na fé o dom da vocação pessoal. A
catequese de preparação para o sacramento da Confirmação é uma ocasião para dar a
conhecer aos crismandos os dons do Espírito, os carismas, os ministérios e os diversos
chamamentos que lhes estão relacionados. Em qualquer tipo de catequese não deve
ser esquecida a apresentação da vocação sacerdotal. «Uma catequese orgânica e proporcionada
a todas as componentes da Igreja, além de dissipar dúvidas e refutar ideias unilaterais
e distorcidas sobre o ministério sacerdotal, abre os corações dos crentes à expectativa
do dom e cria condições aptas ao nascimento de novas vocações». A Eucaristia, centro
da vida do cristão e da comunidade, favorece a proposta de um itinerário litúrgico
sacramental, que possa alimentar ordinariamente o caminho de cada vocação. A frequência
constante e periódica ao sacramento da Reconciliação resulta também decisiva para
o discernimento da vocação sacerdotal. O Ano Litúrgico constitui a escola permanente
de fé da comunidade cristã, marca os tempos e os momentos da sua vida ordinária e
acompanha o amadurecimento vocacional dos fiéis. As várias iniciativas de oração,
entre as quais sobressai a adoração eucarística, preparadas e realizadas de maneira
significativa e com profundo sentido litúrgico, podem colocar em evidência a importância
extraordinária da vocação sacerdotal. O testemunho da caridade tem na Igreja uma
expressão multiforme e surpreendente. É fundamental que um tal empenho de iniciativas
se reforce através de caminhos formativos concretos, que encorajem à gratuidade e
ao serviço do Reino de Deus e que tendam à configuração pessoal e comunitária com
Cristo. Cresce a sensibilidade dos jovens para com a condição dos mais fracos e
dos pobres; muitos se mostram prontos a servir, a identificar-se com o próximo nas
alegrias e nas dificuldades da vida. Alguns escolhem o voluntariado caritativo
como forma de serviço aos que sofrem, aos idosos e aos pobres. Outros empenham-se
na educação das crianças na catequese, nas associações católicas, nas actividades
de tempo livre. A eles se unem todos os que vivem o testemunho precioso do voluntariado
missionário com a sua entusiasta capacidade de transformar a vida de uma pessoa, abrindo-a
às urgentes e graves necessidades materiais e espirituais, fortemente presentes nos
países em vias de desenvolvimento. As vocações que florescem no âmbito do testemunho
cristão da caridade resultam sólidas e autênticas, seriamente motivadas ao serviço.
17.
Nas comunidades eclesiais ocorre encorajar um verdadeiro movimento de oração para
pedir vocações Senhor. «A oração cristã, de facto, nutrindo-se da Palavra de Deus,
cria o espaço ideal para que cada um possa descobrir a verdade do ser e a identidade
do projecto de vida pessoal e irrepetível que o Pai lhe confia. É necessário, portanto,
educar em particular as crianças e os jovens para que sejam fiéis à oração e à meditação
da Palavra de Deus: no silêncio e na escuta poderão ouvir o chamamento do Senhor ao
sacerdócio e segui-lo com prontidão e generosidade». Devem ser sustentadas e incrementadas
algumas iniciativas que apresentem uma comunidade concorde na oração pelas vocações. Desta
forma, o Centro diocesano para as vocações poderia propor e organizar a iniciativa
do “mosteiro invisível”, que envolve muitas pessoas, dia e noite, na oração contínua
pelas vocações sacerdotais. A “quinta-feira vocacional” constitui um momento tradicional
de oração comunitária mensal para os sacerdotes e as vocações sacerdotais, centralizado
na adoração eucarística. O “Dia Mundial de Oração pelas Vocações” e o “Dia do Seminário”
representam dois momentos de notável relevância para a oração, a catequese e o anúncio
vocacional nas comunidades cristãs.
18. O serviço ao altar é, frequentemente,
premissa para outras formas de serviço na comunidade cristã. Esta experiência, sabiamente
integrada com a educação à oração litúrgica, à escuta da Palavra, à vida sacramental,
pode ser configurada como um verdadeiro itinerário aberto à vocação sacerdotal. Por
este motivo a pastoral vocacional ao ministério sacerdotal dedica uma especial atenção
aos acólitos. Muitos sacerdotes e seminaristas, antes de entrar no Seminário, fizeram
parte dos grupos dos acólitos e prestaram serviço ao altar. Os retiros e os exercícios
espirituais vocacionais, organizados para os jovens, têm uma grande importância e
permite-lhes viver a experiência do silêncio, da oração contínua e do confronto com
a Palavra de Deus. Tais eventos podem constituir momentos singulares de reflexão sobre
o projecto de vida, como descoberta pessoal do próprio chamamento vocacional. As
“comunidades vocacionais residenciais” também ajudam os jovens na orientação e no
discernimento vocacional em vista do seminário. Essas constituem uma espécie de “pré-seminário”,
com a presença estável de sacerdotes preparados, que propõem uma “regra de vida” marcada
por momentos de vida fraterna, de estudo pessoal, de partilha da Palavra, de oração
pessoal e comunitária, de celebração da Eucaristia, de direcção espiritual.
19.
O Seminário menor pode oferecer aos adolescentes e aos jovens a oportunidade de serem
acompanhados, educados e formados no discernimento do desejo de se tornarem sacerdotes.
Além disso, pela «sua natureza e missão, seria bom que o seminário menor se tornasse
na Diocese um válido ponto de referência da pastoral das vocações, com adequadas experiências
de formação de jovens em busca do sentido das suas vidas, da vocação, ou que já se
decidiram a seguir o caminho do sacerdócio ministerial, mas que ainda não podem iniciar
um verdadeiro processo de formação».
CONCLUSÃO
20. A solicitude
com as vocações sacerdotais é um desafio permanente para a Igreja. Por ocasião do
LXX aniversário de sua constituição, a Pontifícia Obra para as Vocações Sacerdotais,
para encorajar todas as comunidades cristãs e nelas todos os que estão particularmente
comprometidos na pastoral vocacional, oferece às Igrejas particulares este documento,
como compêndio para a promoção das vocações ao sacerdócio ministerial. O ambiente
mais favorável para a vocação ao sacerdócio é a comunidade cristã que escuta a Palavra
de Deus, que reza com a liturgia e testemunha com a caridade. Em tal contexto, a missão
do sacerdote é compreendida e reconhecida com maior evidência. O documento deseja
apoiar as comunidades eclesiais, as associações e os movimentos no seu empenho a favor
das vocações, orientando o seu esforço para uma pastoral vocacional capaz de fazer
amadurecer cada escolha do dom de si na vida e de favorecer, em particular, o acolhimento
do chamamento de Deus ao ministério sacerdotal.
O Santo Padre, durante a audiência
concedida ao Prefeito da Congregação para a Educação Católica, aprovou e autorizou
a publicação deste documento.
Roma, 25 de Março de 2012, Solenidade da Anunciação
do Senhor.
Zenon Cardeal Grocholewski Prefeito
+Jean-Louis Bruguès Secretário
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
A PASTORAL DA VOCAÇÃO AO MINISTÉRIO SACERDOTAL NO MUNDO VOCAÇÃO E IDENTIDADE
DO SACERDÓCIO MINISTERIAL PROPOSTAS PARA A PASTORAL DAS VOCAÇÕES SACERDOTAIS