Rio+20: Para Card. Scherer, o resultado é positivo. Dom Odilo ressalta a novidade
da 'economia azul'
Rio
de Janeiro (RV) - A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável,
a Rio+20, será encerrada sexta-feira 22, com a divulgação do documento final, contendo
49 páginas, denominado “O Futuro Que Queremos”. O balanço dos dez dias de discussões
divide opiniões. Autoridades brasileiras consideram um avanço a inclusão do desenvolvimento
sustentável com erradicação da pobreza, enquanto movimentos sociais e alguns líderes
estrangeiros condenam a falta de ousadia do texto.
Segundo a Agência Brasil,
o tom de crítica deve predominar nesta sexta-feira, pois as organizações não-governamentais
(ONGs) que promoveram vários protestos durante a conferência prometem manifestações.
Para o legado pontifício para a Cúpula, Arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo
Scherer, além de algumas lacunas, como a não-criação do fundo de contribuições dos
países ricos, a Conferência trouxe novidades, como a nova consideração de chefes de
Estado e Governo em relação aos oceanos:
“Acredito que o resultado é bastante
positivo, embora haja muitas observações críticas de que o resultado é menos do que
o esperado e que não foi bastante ousado em estabelecer metas ou medidas concretas
que deveriam ser assumidas. Temos que considerar que numa Cúpula internacional deste
porte, com a presença de quase 190 nações não se pode esperar demais, no sentido de
resultados concretos. A crítica é que, por exemplo, não se chegou a estabelecer a
contribuição dos países ricos, daqueles que mais poluem, para formar um fundo a partir
do qual possa ser financiada a economia limpa, a economia verde que se quer promover.
É uma verdade que esta lacuna naturalmente deverá ser preenchida através de novas
negociações, com iniciativas como a da França, que anunciou claramente que quer taxar
as transações financeiras internacionais que passam pelo país, e aplicar esta taxa
em uma economia mais limpa e promover a preservação do meio ambiente.
Existem
certamente muitos pontos positivos a serem observados: a declaração, que foi concordada
através de negociações, contém pontos relevantes, primeiro porque estabelece uma identificação
do que se pode chamar de economia verde, economia sustentável, colocando três pilares
fundamentais. Primeiramente, que o homem esteja ao centro, e portanto, que a economia
sustentável deve ser socialmente sustentável. Depois, é claro, que a economia seja
economicamente sustentável. Deve seguir as leis econômicas porque senão se torna um
caos. O terceiro ponto, que a economia verde seja ecologicamente sustentável, que
tenha sempre em consideração a dimensão ecológica da economia, do trabalho, da produção
e do consumo. O que também é novo neste documento, com uma nova posição, é a preocupação
com os oceanos, que até agora nos documentos anteriores estava ausente. Por isso já
se está falando na Conferência que a economia sustentável, além de verde, deve ser
também azul, em referência aos oceanos, às águas.
Outro apelo que vai
aparecendo é que o modelo de economia não deve se basear simplesmente na produção
e no consumo; o critério de desenvolvimento não devem ser simplesmente os índices
econômicos: deve haver um conjunto de índices que apontem um modelo de desenvolvimento.
Enfim,
acredito que o mais positivo de todas as contribuições que a Rio+20 está trazendo
é uma nova tomada de consciência da comunidade internacional a respeito dos problemas
da sustentabilidade da economia, dos problemas do clima e da urgente necessidade de
todos de fazerem a sua parte; que não podemos protelar por mais tempo a tomada de
decisões porque o clima, o planeta está reclamando: a sustentabilidade está ameaçada”.