2012-06-21 11:54:21

Rio+20: 50 Igrejas e Ongs católicas assinam declaração conjunta


Rio de Janeiro (RV) - Mais de 50 líderes de igrejas e da sociedade civil assinaram uma declaração conjunta intitulada "Hora de repensar e recuperar o controle sobre o futuro da família humana", apresentada à imprensa domingo, 17 junho, após a Santa Missa celebrada na Catedral do Rio de Janeiro. Abaixo, a íntegra do documento:

“Tempo de repensar e recuperar o controle sobre o futuro da humanidade”

Os líderes da Igreja e da sociedade civil exigem dos governos que se concentrem nos pobres e traçem um novo caminho para um mundo justo e sustentável na conferência Rio+20.
Nós, os representantes da Igreja Católica e da sociedade civil provenientes de todos os continentes, empenhados na erradicação da pobreza e em prol do desenvolvimento humano integral, apelamos aos líderes mundiais que mostrem liderança política na Conferência Rio+20 e incentivamos todas as pessoas de boa vontade a agirem a favor de um mundo mais justo e sustentável.

Não podemos esperar para repensar e realizar um mundo mais justo e mais verde onde as pessoas, mulheres e homens, reconheçam que são uma parte integral da criação, vivendo em harmonia e respeito consigo e com os outros. A tarefa é urgente, porque construímos um mundo onde ainda demasiadas pessoas não têm alimentação, água e energia suficientes para viverem com dignidade.

Trabalhamos diariamente com aqueles que vivem em grandes dificuldades e queremos dar-lhes uma voz de esperança. As comunidades pobres estão a lutar pela obtenção dos recursos necessários ao seu próprio desenvolvimento, ao mesmo tempo tornando-se cada vez mais vulneráveis às ameaças ambientais com os ecossistemas gradativamente mais esgotados ou destruídos.

A procura de terra, água, alimentação, recursos minerais e energia está aumentando drasticamente. Tem sido a origem de violentos conflitos no mundo inteiro e a luta pelos recursos naturais tornar-se-á ainda mais intensa nas gerações vindouras.

As mudanças climáticas são cada vez mais visíveis e rápidas e só poderemos mitigá-las se agirmos já. As pessoas mais pobres e mais vulneráveis no mundo inteiro são as mais afectadas, muito embora elas sejam as menos responsáveis pelas suas causas.

Estamos perante uma tarefa enorme, porque deixamos as regras do mercado descontroladas, a nossa vontade e imaginação distorcida e a diversidade da criação de Deus classificada como «capital natural» e «humano». Permitimos que os nossos desejos e aspirações humanos se tornassem fundamentalmente materialistas, em vez de generosos, impulsionados pelo interesse pessoal em vez de o serem pela solidariedade.

Juntos, seremos capazes de traçar um novo caminho que conduza a um mundo justo e sustentável. Esta mudança depende igualmente do indivíduo, sendo a nossa tarefa fundamental agir para uma conversão radical, promover um estilo de vida alternativo e uma nova cultura de respeito pela criação, de simplicidade e de solidariedade com vista a um desenvolvimento humano mais forte e autêntico e uma melhor qualidade de vida. Os pobres podem ser marginalizados, mas no seu esforço diário pela sobrevivência demonstram criatividade e têm forjado alternativas que constituem uma fonte inesgotável de aprendizagem e referência na elaboração das políticas publicas.

Esta afirmação é apoiada pela aliança internacional de agências Católicas de desenvolvimento CIDSE. Mais informações através www.cidse.org/rioplus20

É tempo de repensar e regressar ao controlo! É tempo de regular o mercado de maneira a servir o bem comum. Os líderes mundiais centram-se no crescimento econômico como principal medida de sucesso. Mas o que significa crescimento se os mais pobres não podem participar nos seus benefícios, se ele não melhora a qualidade de vida e piora as desigualdades persistentes? O que significa crescimento econômico em vista da destruição das nossas florestas, dos nossos oceanos e dos nossos recursos naturais? Precisamos valorizar as coisas que tenham sentido, a economia tem que ser julgada na sua capacidade de reduzir a pobreza, criar postos de emprego dignos emelhorar a sustentabilidade ecológica bem como a estabilidade social. Uma economia que nos conduza verdadeiramente ao desenvolvimento sustentável deve ser justa e equitativa, reconhecendo as valiosas contribuições e soluções locais com amplos benefícios sociais e, acima de tudo, que respeite a dignidade e os direitos humanos, tanto para as mulheres como os homens.

O desenvolvimento sustentável deve ser apoiado por um sistema financeiro, que coloque a dignidade humana, o bem comum e o cuidado pela criação no centro da vida econômica. Um sistema financeiro justo consiste na subsidiariedade, na função social da propriedade privada e na redistribuição através de impostos. O setor informal e das micro empresas deve ser reconhecido e apoiado, porque representa uma parte importante do setor privado e é a fonte de renda e de emprego de milhões de pessoas. As grandes corporações, incluindo as instituições financeiras, representam apenas uma pequena parte do setor privado, embora controlem a maioria do poder e dos recursos. Elas deveriam demonstrar maior transparência e contribuir para o desenvolvimento sustentável atraves da mudancas das práticas insustentáveis e exploradoras.
Os governos devem assegurar que as condições básicas dessem prioridade às necessidades básicas e ao direito das comunidades e dos países pobres, como por ex. água, alimentação e energia. Além disso é indispensável assegurar o acesso a recursos naturais e partilha de benefícios.

Deve ser dada prioridade às mulheres que são a maioria das pessoas que vivem na pobreza e são afetadas adversamente pelas injustiças sociais, ambientais e econômicas atuais. Medidas fortes de promoção da igualdade entre mulheres e homens são necessárias aos níveis social, econômico e ambiental nas ações dos governos para um desenvolvimento justo e sustentável.
O escândalo de um bilhão de pessoas sofrendo fome, em violação do direito humano à alimentação, não pode continuar. Maior apoio deve ser destinado aos milhões de famílias agrícolas que produzem respeitando o meio ambiente; são elas a principal fonte da segurança alimentar para os pobres a nível mundial.

É necessário dar maior ênfase à luta contra as mudanças climáticas induzidas pelo ser humano. Isto é a principal ameaça que enfrentamos, particularmente os mais pobres. Devem ser tomadas medidas mais ambiciosas baseadas nos princípios da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas.

Por último, o quadro previsto para o desenvolvimento sustentável deve ser baseado nas conquistas realizadas; deve definir as responsabilidades e os desafios dos países desenvolvidos, os em via de desenvolvimento e os menos desenvolvidos; deve ser mensurável e compreensível por todos.

Esperamos que a Cúpula do Rio transmita uma mensagem de esperança bem fundada para todos aqueles que estão sofrendo e para as gerações futuras! Esperamos que os líderes mundiais assumam a sua responsabilidade e se responsabilizem pelos seus compromissos. Exigimos dos líderes mundiais e de todas as pessoas de boa vontade que não deixem passar esta oportunidade de caminharmos juntos em prol de um desenvolvimento baseado nos direitos e equitativo, rumo a uma vida verdadeiramente humana e a um mundo onde aceitemos que somos parte da criação que nos foi dada para dela cuidarmos.

Lista de signatários
Líderes da Igreja:
• Mgr Pedro Ricardo BARRETO JIMENO – Archbishop of Huancayo and President of the
Commission for Justice and Solidarity of CELAM (Consejo Episcopal Latinoamericano) (PERU)
• Mgr Jean-Claude HOLLERICH – Archbishop of Luxembourg (LUXEMBOURG)
• Mgr Gabriel MBILINGI – Vice President of SECAM (Symposium of Episcopal Conferences of Africa and Madagascar), Archbishop of Lubango (ANGOLA)
• Mgr Paul OUEDRAOGO – Archbishop of Bobo-Dioulasso (BURKINA FASO)
• Mgr Werner THISSEN – Archbishop of Hamburg (GERMANY)
• Mgr John ARNOLD – Auxiliary Bishop of Westminster (ENGLAND)
• Mgr Paul BEMILE – Bishop of Wa (GHANA)
• Mgr Markus BÜCHEL – Bischop of St. Gallen (SWITZERLAND)
• Mgr Claude CHAMPAGNE – Bishop of Edmundston, New Brunswick (CANADA)
• Mgr Raymond FIELD – Auxiliary Bishop of Dublin and Chairman of the Council for Justice and
Peace of the Irish Bishops’ Conference (IRELAND)
• Mgr Theotonius GOMES – Auxiliary Bishop of Dhaka (BANGLADESH)
• Mgr Richard GRECCO – Bishop of Charlottetown, Prince Edward Island (CANADA)
• Mgr Bernard HOUSSET – Bishop of La Rochelle (-Saintes) and President of the Conseil pour la
Solidarité (FRANCE)
• Mgr Aloysius JOUSTEN – Bishop of Liège (BELGIUM)
• Mgr John KIRBY – Bishop of Clonfert (IRELAND)
• Mgr Gerard de KORTE – Bishop of Groningen-Leeuwarden (THE NETHERLANDS)
• Mgr Peter MORAN – Bishop Emeritus of Aberdeen (SCOTLAND)
• Mgr Alvaro Leonel RAMAZZINI – Bishop of Huehuetenango (GUATEMALA)
• Mgr Josef SAYER (GERMANY)
• Mgr Dr. Ludwig SCHWARZ SDB – Bishop of Linz (AUSTRIA)
• Presidency of the Brazilian Catholic Bishops Conference CNBB (BRAZIL)
Líderes CIDSE
• Chris BAIN – President of CIDSE and Director of CAFOD (ENGLAND and WALES)
• Philippa BONELLA – SCIAF (SCOTLAND)
• Ronald BREAU – President of Development and Peace (CANADA)
• Michael CASEY – Executive Director of Development and Peace (CANADA)
• Myriam GARCÍA ABRISQUETA – President of Manos Unidas (SPAIN)
• René GROTENHUIS – Director of CORDAID (THE NETHERLANDS)
• Antonio HAUTLE – Director of Fastenopfer (SWITZERLAND)
• Lieve HERIJGERS – Director of BROEDERLIJK DELEN (BELGIUM)
• Heinz HÖDL - Director of Koordinierungsstelle der Österreichischen Bischofskonferenz für
internationale Entwicklung und Mission (AUSTRIA)
• Jim HUG S.J. – President of Center of Concern (UNITED STATES)
• Justin KILCULLEN – Director of Trócaire (IRELAND)
• Patrick KRÃNIPÎ GODAR – Director of Fondation Bridderlech Deelen (LUXEMBOURG)
• Jorge LÍBANO MONTEIRO – Director of FEC – Fundação Fé e Cooperação (PORTUGAL)
• Sergio MARELLI – Secretary General of FOCSIV – Volontari nel mondo (ITALY)
• Bernd NILLES – Secretary General of CIDSE
• Bernard PINAUD – Délégué Général CCFD–Terre Solidaire (FRANCE)
• Rafael SERRANO CASTRO – Secretary General of Manos Unidas (SPAIN)
• Angelo SIMONAZZI – Secretary General of Entraide et Fraternité (BELGIUM)
• Fr. Pirmin SPIEGEL – Director of MISEREOR (GERMANY)
Parceiros e aliados CIDSE
• Firmin ADJAHOSSOU – SECAM (Symposium of Episcopal Conferences of Africa and Madagascar) (BENIN)
• Brian ASHLEY – AIDC (Alternative Information and Development Centre) (SOUTH AFRICA)
• Sr. Denise BOYLE – Franciscans International
• Camille CHALMERS – PAPDA (Plate-forme Haïtienne de Plaidoyer pour un Développement Alternatif) (HAITI)
• Mamadou GOÏTA – ROPPA (Réseau des organisations paysannes et de producteurs de l’Afrique
de l’Ouest (WEST AFRICA)
• Pedro GONTIJO – CBJP (Comissão Brasileira Justiça e Paz) (BRAZIL)
• Jenny GRUENBERGER – LIDEMA (Liga de Defensa del Medio Ambiente) (BOLIVIA)
• Ivo LESBAUPIN – Iser Assessoria (BRAZIL)
• Fr. Martinho MAULANO – SECAM (Symposium of Episcopal Conferences of Africa and Madagascar) (MOZAMBIQUE)
• Moema de MIRANDA – IBASE (BRAZIL)
• Paul MUCHENA – SECAM (Symposium of Episcopal Conferences of Africa and Madagascar) (ZIMBABWE)
• Fr. Ferdinand MUHIGIRWA RUSEMBUKA – CEPAS (Centre d'études pour l'action sociale) (CONGO-DRC)
• Francis F. NGANG – Inades Formation International (IVORY COAST)
• Br. Rodrigo de Castro Amédée PERET, ofm – Franciscans (BRAZIL)
• Regina "Nanette" SALVADOR-ANTEQUISA – ECOWEB (Ecosystems Work for Essential Benefits, Inc.) (PHILIPPINES)
• L.A. SAMY –AREDS (Association of Rural Education and Development Service) (INDIA)
• Lorenzo SOLIS TITO – CIPCA (Centro de Investigación y Promoción del Campesinado)
(BOLIVIA)
• Can TRUONG QUOC – SRD (Sustainable Rural Development) (VIETNAM)
• COPAGEN (Coalition pour la protection du patrimoine génétique Africain) (AFRICA

(CM)








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