Rio+20: 50 Igrejas e Ongs católicas assinam declaração conjunta
Rio de Janeiro (RV) - Mais de 50 líderes de igrejas e da sociedade civil assinaram
uma declaração conjunta intitulada "Hora de repensar e recuperar o controle sobre
o futuro da família humana", apresentada à imprensa domingo, 17 junho, após a Santa
Missa celebrada na Catedral do Rio de Janeiro. Abaixo, a íntegra do documento:
“Tempo
de repensar e recuperar o controle sobre o futuro da humanidade”
Os líderes
da Igreja e da sociedade civil exigem dos governos que se concentrem nos pobres e
traçem um novo caminho para um mundo justo e sustentável na conferência Rio+20. Nós,
os representantes da Igreja Católica e da sociedade civil provenientes de todos os
continentes, empenhados na erradicação da pobreza e em prol do desenvolvimento humano
integral, apelamos aos líderes mundiais que mostrem liderança política na Conferência
Rio+20 e incentivamos todas as pessoas de boa vontade a agirem a favor de um mundo
mais justo e sustentável.
Não podemos esperar para repensar e realizar um mundo
mais justo e mais verde onde as pessoas, mulheres e homens, reconheçam que são uma
parte integral da criação, vivendo em harmonia e respeito consigo e com os outros.
A tarefa é urgente, porque construímos um mundo onde ainda demasiadas pessoas não
têm alimentação, água e energia suficientes para viverem com dignidade.
Trabalhamos
diariamente com aqueles que vivem em grandes dificuldades e queremos dar-lhes uma
voz de esperança. As comunidades pobres estão a lutar pela obtenção dos recursos necessários
ao seu próprio desenvolvimento, ao mesmo tempo tornando-se cada vez mais vulneráveis
às ameaças ambientais com os ecossistemas gradativamente mais esgotados ou destruídos.
A
procura de terra, água, alimentação, recursos minerais e energia está aumentando drasticamente.
Tem sido a origem de violentos conflitos no mundo inteiro e a luta pelos recursos
naturais tornar-se-á ainda mais intensa nas gerações vindouras.
As mudanças
climáticas são cada vez mais visíveis e rápidas e só poderemos mitigá-las se agirmos
já. As pessoas mais pobres e mais vulneráveis no mundo inteiro são as mais afectadas,
muito embora elas sejam as menos responsáveis pelas suas causas.
Estamos perante
uma tarefa enorme, porque deixamos as regras do mercado descontroladas, a nossa vontade
e imaginação distorcida e a diversidade da criação de Deus classificada como «capital
natural» e «humano». Permitimos que os nossos desejos e aspirações humanos se tornassem
fundamentalmente materialistas, em vez de generosos, impulsionados pelo interesse
pessoal em vez de o serem pela solidariedade.
Juntos, seremos capazes de traçar
um novo caminho que conduza a um mundo justo e sustentável. Esta mudança depende igualmente
do indivíduo, sendo a nossa tarefa fundamental agir para uma conversão radical, promover
um estilo de vida alternativo e uma nova cultura de respeito pela criação, de simplicidade
e de solidariedade com vista a um desenvolvimento humano mais forte e autêntico e
uma melhor qualidade de vida. Os pobres podem ser marginalizados, mas no seu esforço
diário pela sobrevivência demonstram criatividade e têm forjado alternativas que constituem
uma fonte inesgotável de aprendizagem e referência na elaboração das políticas publicas.
Esta
afirmação é apoiada pela aliança internacional de agências Católicas de desenvolvimento
CIDSE. Mais informações através www.cidse.org/rioplus20
É tempo de repensar
e regressar ao controlo! É tempo de regular o mercado de maneira a servir o bem comum.
Os líderes mundiais centram-se no crescimento econômico como principal medida de sucesso.
Mas o que significa crescimento se os mais pobres não podem participar nos seus benefícios,
se ele não melhora a qualidade de vida e piora as desigualdades persistentes? O que
significa crescimento econômico em vista da destruição das nossas florestas, dos nossos
oceanos e dos nossos recursos naturais? Precisamos valorizar as coisas que tenham
sentido, a economia tem que ser julgada na sua capacidade de reduzir a pobreza, criar
postos de emprego dignos emelhorar a sustentabilidade ecológica bem como a estabilidade
social. Uma economia que nos conduza verdadeiramente ao desenvolvimento sustentável
deve ser justa e equitativa, reconhecendo as valiosas contribuições e soluções locais
com amplos benefícios sociais e, acima de tudo, que respeite a dignidade e os direitos
humanos, tanto para as mulheres como os homens.
O desenvolvimento sustentável
deve ser apoiado por um sistema financeiro, que coloque a dignidade humana, o bem
comum e o cuidado pela criação no centro da vida econômica. Um sistema financeiro
justo consiste na subsidiariedade, na função social da propriedade privada e na redistribuição
através de impostos. O setor informal e das micro empresas deve ser reconhecido e
apoiado, porque representa uma parte importante do setor privado e é a fonte de renda
e de emprego de milhões de pessoas. As grandes corporações, incluindo as instituições
financeiras, representam apenas uma pequena parte do setor privado, embora controlem
a maioria do poder e dos recursos. Elas deveriam demonstrar maior transparência e
contribuir para o desenvolvimento sustentável atraves da mudancas das práticas insustentáveis
e exploradoras. Os governos devem assegurar que as condições básicas dessem prioridade
às necessidades básicas e ao direito das comunidades e dos países pobres, como por
ex. água, alimentação e energia. Além disso é indispensável assegurar o acesso a recursos
naturais e partilha de benefícios.
Deve ser dada prioridade às mulheres que
são a maioria das pessoas que vivem na pobreza e são afetadas adversamente pelas injustiças
sociais, ambientais e econômicas atuais. Medidas fortes de promoção da igualdade entre
mulheres e homens são necessárias aos níveis social, econômico e ambiental nas ações
dos governos para um desenvolvimento justo e sustentável. O escândalo de um bilhão
de pessoas sofrendo fome, em violação do direito humano à alimentação, não pode continuar.
Maior apoio deve ser destinado aos milhões de famílias agrícolas que produzem respeitando
o meio ambiente; são elas a principal fonte da segurança alimentar para os pobres
a nível mundial.
É necessário dar maior ênfase à luta contra as mudanças climáticas
induzidas pelo ser humano. Isto é a principal ameaça que enfrentamos, particularmente
os mais pobres. Devem ser tomadas medidas mais ambiciosas baseadas nos princípios
da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas.
Por último,
o quadro previsto para o desenvolvimento sustentável deve ser baseado nas conquistas
realizadas; deve definir as responsabilidades e os desafios dos países desenvolvidos,
os em via de desenvolvimento e os menos desenvolvidos; deve ser mensurável e compreensível
por todos.
Esperamos que a Cúpula do Rio transmita uma mensagem de esperança
bem fundada para todos aqueles que estão sofrendo e para as gerações futuras! Esperamos
que os líderes mundiais assumam a sua responsabilidade e se responsabilizem pelos
seus compromissos. Exigimos dos líderes mundiais e de todas as pessoas de boa vontade
que não deixem passar esta oportunidade de caminharmos juntos em prol de um desenvolvimento
baseado nos direitos e equitativo, rumo a uma vida verdadeiramente humana e a um mundo
onde aceitemos que somos parte da criação que nos foi dada para dela cuidarmos.
Lista
de signatários Líderes da Igreja: • Mgr Pedro Ricardo BARRETO JIMENO – Archbishop
of Huancayo and President of the Commission for Justice and Solidarity of CELAM
(Consejo Episcopal Latinoamericano) (PERU) • Mgr Jean-Claude HOLLERICH – Archbishop
of Luxembourg (LUXEMBOURG) • Mgr Gabriel MBILINGI – Vice President of SECAM (Symposium
of Episcopal Conferences of Africa and Madagascar), Archbishop of Lubango (ANGOLA) •
Mgr Paul OUEDRAOGO – Archbishop of Bobo-Dioulasso (BURKINA FASO) • Mgr Werner THISSEN
– Archbishop of Hamburg (GERMANY) • Mgr John ARNOLD – Auxiliary Bishop of Westminster
(ENGLAND) • Mgr Paul BEMILE – Bishop of Wa (GHANA) • Mgr Markus BÜCHEL – Bischop
of St. Gallen (SWITZERLAND) • Mgr Claude CHAMPAGNE – Bishop of Edmundston, New
Brunswick (CANADA) • Mgr Raymond FIELD – Auxiliary Bishop of Dublin and Chairman
of the Council for Justice and Peace of the Irish Bishops’ Conference (IRELAND) •
Mgr Theotonius GOMES – Auxiliary Bishop of Dhaka (BANGLADESH) • Mgr Richard GRECCO
– Bishop of Charlottetown, Prince Edward Island (CANADA) • Mgr Bernard HOUSSET
– Bishop of La Rochelle (-Saintes) and President of the Conseil pour la Solidarité
(FRANCE) • Mgr Aloysius JOUSTEN – Bishop of Liège (BELGIUM) • Mgr John KIRBY
– Bishop of Clonfert (IRELAND) • Mgr Gerard de KORTE – Bishop of Groningen-Leeuwarden
(THE NETHERLANDS) • Mgr Peter MORAN – Bishop Emeritus of Aberdeen (SCOTLAND) •
Mgr Alvaro Leonel RAMAZZINI – Bishop of Huehuetenango (GUATEMALA) • Mgr Josef SAYER
(GERMANY) • Mgr Dr. Ludwig SCHWARZ SDB – Bishop of Linz (AUSTRIA) • Presidency
of the Brazilian Catholic Bishops Conference CNBB (BRAZIL) Líderes CIDSE • Chris
BAIN – President of CIDSE and Director of CAFOD (ENGLAND and WALES) • Philippa
BONELLA – SCIAF (SCOTLAND) • Ronald BREAU – President of Development and Peace
(CANADA) • Michael CASEY – Executive Director of Development and Peace (CANADA) •
Myriam GARCÍA ABRISQUETA – President of Manos Unidas (SPAIN) • René GROTENHUIS
– Director of CORDAID (THE NETHERLANDS) • Antonio HAUTLE – Director of Fastenopfer
(SWITZERLAND) • Lieve HERIJGERS – Director of BROEDERLIJK DELEN (BELGIUM) •
Heinz HÖDL - Director of Koordinierungsstelle der Österreichischen Bischofskonferenz
für internationale Entwicklung und Mission (AUSTRIA) • Jim HUG S.J. – President
of Center of Concern (UNITED STATES) • Justin KILCULLEN – Director of Trócaire
(IRELAND) • Patrick KRÃNIPÎ GODAR – Director of Fondation Bridderlech Deelen (LUXEMBOURG) •
Jorge LÍBANO MONTEIRO – Director of FEC – Fundação Fé e Cooperação (PORTUGAL) •
Sergio MARELLI – Secretary General of FOCSIV – Volontari nel mondo (ITALY) • Bernd
NILLES – Secretary General of CIDSE • Bernard PINAUD – Délégué Général CCFD–Terre
Solidaire (FRANCE) • Rafael SERRANO CASTRO – Secretary General of Manos Unidas
(SPAIN) • Angelo SIMONAZZI – Secretary General of Entraide et Fraternité (BELGIUM) •
Fr. Pirmin SPIEGEL – Director of MISEREOR (GERMANY) Parceiros e aliados CIDSE •
Firmin ADJAHOSSOU – SECAM (Symposium of Episcopal Conferences of Africa and Madagascar)
(BENIN) • Brian ASHLEY – AIDC (Alternative Information and Development Centre)
(SOUTH AFRICA) • Sr. Denise BOYLE – Franciscans International • Camille CHALMERS
– PAPDA (Plate-forme Haïtienne de Plaidoyer pour un Développement Alternatif) (HAITI) •
Mamadou GOÏTA – ROPPA (Réseau des organisations paysannes et de producteurs de l’Afrique de
l’Ouest (WEST AFRICA) • Pedro GONTIJO – CBJP (Comissão Brasileira Justiça e Paz)
(BRAZIL) • Jenny GRUENBERGER – LIDEMA (Liga de Defensa del Medio Ambiente) (BOLIVIA) •
Ivo LESBAUPIN – Iser Assessoria (BRAZIL) • Fr. Martinho MAULANO – SECAM (Symposium
of Episcopal Conferences of Africa and Madagascar) (MOZAMBIQUE) • Moema de MIRANDA
– IBASE (BRAZIL) • Paul MUCHENA – SECAM (Symposium of Episcopal Conferences of
Africa and Madagascar) (ZIMBABWE) • Fr. Ferdinand MUHIGIRWA RUSEMBUKA – CEPAS (Centre
d'études pour l'action sociale) (CONGO-DRC) • Francis F. NGANG – Inades Formation
International (IVORY COAST) • Br. Rodrigo de Castro Amédée PERET, ofm – Franciscans
(BRAZIL) • Regina "Nanette" SALVADOR-ANTEQUISA – ECOWEB (Ecosystems Work for Essential
Benefits, Inc.) (PHILIPPINES) • L.A. SAMY –AREDS (Association of Rural Education
and Development Service) (INDIA) • Lorenzo SOLIS TITO – CIPCA (Centro de Investigación
y Promoción del Campesinado) (BOLIVIA) • Can TRUONG QUOC – SRD (Sustainable
Rural Development) (VIETNAM) • COPAGEN (Coalition pour la protection du patrimoine
génétique Africain) (AFRICA