ACNUR na Rio+20: "Trabalho da Igreja com os refugiados é pilar fundamental"
Rio de Janeiro (RV) - O Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados (Acnur),
Antonio Guterres, chamou a atenção das lideranças mundiais para a necessidade de terem
um olhar mais humanitário para as populações que se veem obrigadas a sair de suas
regiões, seja por conflitos políticos, por crises econômicas e financeiras ou por
desastres naturais. Guterres está no Rio de Janeiro para participar da Conferência
das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.
“Nós vivemos
em um mundo em que não só assistimos a uma multiplicação de conflitos – nos últimos
meses, Síria, Sudão – mas, também, ao fato de os velhos conflitos não terminarem,
o que tem feito aumentar o número de refugiados e, cada vez mais, por períodos mais
longos”, comentou o alto comissário da ONU. “Isso é dramático”.
De acordo com
relatório divulgado segunda-feira, 18, pela Acnur, o ano passado registrou o recorde
de 800 mil deslocamentos forçados entre fronteiras internacionais, ampliando o número
de refugiados desde o ano 2000. Em todo o mundo, 42,5 milhões de pessoas chegaram
ao final de 2011 em uma situação de deslocamento, dos quais 15,42 milhões como refugiados.
A
esses se somam as pessoas que hoje são obrigadas a deixar suas comunidades e países
porque já não há condições de vida. Segundo Guterres, isso ocorre devido à conjugação
das condições climáticas com os desastres naturais, insegurança alimentar, escassez
de água, desertificação em várias regiões. Ele observou ainda que, para essas pessoas,
não existe um regime internacional de proteção, como há para os refugiados de
guerras e perseguição.
O problema foi exposto às lideranças mundiais no ano
passado, em conferência intergovernamental da ONU. “É necessário encontrar resposta
para essa lacuna de proteção que existe na comunidade internacional”, apontou.
De
acordo com o alto comissário, países como o México, a Costa Rica, Noruega, Alemanha
e Suíça aceitaram liderar um debate mundial para encontrar novas formas de mobilização
global para responder a esse novo desafio. Na falta de uma convenção tão forte como
a dos refugiados, Guterres disse que gostaria de ver aprovadas, pelo menos, linhas
que orientassem o comportamento dos países, ainda que de forma não obrigatória, como
a ONU aprovou no caso dos deslocamentos internos.
Guterres citou como soluções
possíveis o exemplo do visto humanitário, concedido pelo Brasil aos imigrantes do
Haiti, ou regimes de proteção temporária, no caso de desastres naturais, adotados
por alguns países. “Importaria, de alguma forma, criar um enquadramento de todas essas
situações em um todo harmônico e colocá-lo como uma orientação geral dada aos estados
para melhor proteger as pessoas”. Segundo ele, poderia ser um misto de reconhecimento
de direitos e de ação humanitária para resolver as necessidades básicas dessas populações.
A
Acnur pretende, na Rio+20, alertar os governos e a opinião pública que os problemas
de sustentabilidade, se não forem resolvidos, levarão, cada vez mais, pessoas a fugirem
em razão de conflitos por causa dos impactos das mudanças climáticas. “Fala-se pouco
dos impactos das alterações climáticas no movimento forçado das pessoas”, observou.
Em
visita na tarde desta terça-feira ao arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta,
Guterres destacou o apoio que a Acnur recebe da organização Caritas no Brasil e de
todo o conjunto de organizações da sociedade civil ligadas à Igreja. “São um pilar
fundamental na proteção aos refugiados e na assistência a eles e na sua reintegração
à sociedade brasileira. Sem esse trabalho, nós não poderíamos exercer o nosso mandato”.
Quarta-feira,
20, Dia Mundial do Refugiado, Guterres e o diretor-geral da Organização Internacional
para Migrações (OIM), William Swing, promovem, no Riocentro, o evento paralelo à Rio+20
Vulnerabilidade de Migrantes Urbanos: Desafios e Respostas. (CM com informações
da Agência Brasil)