"Para o índio, terra é sobrevivência; para a sociedade, mercadoria"
Brasília (RV) - Nesta quarta feira, 13 de junho, o Conselho Indigenista Missionário
(Cimi) lançou os dados de 2011 do Relatório Anual de Violência Contra os Povos Indígenas
no Brasil. O evento foi realizado no auditório Dom Helder Câmara da Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB).
No lançamento estiveram presentes o presidente
do Cimi e bispo da Prelazia do Xingu (PA), Dom Erwin Krautler; o Secretário-Geral
da CNBB, Dom Leonardo Ulrich Steiner, a professora da PUC/SP, assessora antropológica
do Cimi e coordenadora do relatório, Lúcia Helena Rangel. Também estavam presentes
as lideranças indígenas o cacique Nailton Pataxó Hã-Hã-Hãe (BA), e o presidente da
União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (AM), Jader Marubo.
Na abertura
do evento, Dom Leonardo se referiu ao presidente do CIMI como um símbolo na atuação
na causa indígena: “Dom Erwin tem significado na luta e presença cidadã perante esses
povos”, disse. O Secretário-Geral ainda disse esperar que a publicação contribua com
a diminuição das injustiças a que são submetidos os índios: “Que esse livro ajude
na dignificação desses irmãos e irmãs, e que acorde a sociedade para situação dos
povos indígenas”, afirmou . Dom Erwin, em sua apresentação, citou o evento Xingu+23,
que marca os 23 anos da primeira vitória dos povos indígenas contra o projeto de barramento
do rio em 1989, após o histórico 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu. “Há 23
anos lutamos e nos empenhamos para que esse projeto monstruoso não seja implantado.
Belo Monte será fatal para os povos indígenas do Xingu”, disse.
O presidente
do Cimi também descreveu como “inimaginável” a situação no estado do Mato Grosso,
onde há altos índices de mortalidade infantil e de suicídios de jovens. De acordo
com o relatório, entre 2000 e 2011, foram registrados 555 suicídios de índios no Mato
Grosso do Sul. Em 2011, 45 indígenas se suicidaram, e, em 2010, 42 casos de suicídio.
A incidência está entre jovens de 14 a 18 anos e adultos entre 21 e 30 anos, sendo
de maioria do povo Guarani Kaiowá, maior etnia do país.
Dom Erwin também lembrou
do índio Galdino Jesus dos Santos, queimado vivo por cinco jovens de classe média,
em Brasília. “Faz 15 anos que incendiaram vivo Galdino, uma de nossas lideranças.
No ‘terreiro’ do Governo”, enfatizou.
O presidente da União dos Povos Indígenas
do Vale do Javari, Jader Marubo, também descreveu a situação de sua região, carente
de todo tipo de assistência por parte do estado: “Venho de uma terra onde temos total
abandono público, onde a CAD 12 dias morre um índio”, declarou. O cacique Nailton
Pataxó Hã-Hã-Hãe, da Bahia, também disse ser “uma testemunha viva de 30 anos de lutas,
massacre, opressão e torturas” de seu povo. “Morreram 30 lideranças”, desabafou.
A
coordenadora do relatório, a professora Lúcia Helena Rangel, trouxe à tona a situação
de vulnerabilidade dos povos indígenas. “As epidemias matam muito e a prevenção seria
possível. Isso é nitidamente, desassistência. Uma gripe que não é tratada se transforma
em pneumonia”, exemplificou. “Há muitas comunidades isoladas, sendo alcançadas por
motosserras e tratores”, ilustrou.
Dom Erwin finalizou a apresentação explicando
o significado da terra para as populações indígenas e porque o índio se torna “entrave
para o que o Governo entende por desenvolvimento”. “Para o índio, terra é sobrevivência,
para a sociedade, é mercadoria”, cmpletou. (CM-cnbb)