Especial Catedrais: a sólida e austera Sé de Lisboa
Lisboa (RV)
– Os séculos e a história se fazem sentir nas pesadas paredes de pedra dessa catedral.
A Sé de Lisboa, inicialmente designada de Igreja de Santa Maria Maior, teve sua construção
iniciada no século XII, por Dom Afonso Henriques, três anos depois de ter tomado Lisboa
dos Mouros. É para lá que vamos hoje com o Especial Catedrais, explorar os segredos
do principal templo de um país reconhecido como um dos centros mais fortes do catolicismo
no mundo.
A Sé de Lisboa foi construída no local de uma antiga mesquita, pelo
primeiro Bispo de Lisboa, o cruzado inglês Gilbert de Hastings. O primeiro impulso
edificador deu-se entre a retoma da cidade e a expulsão dos Mouros, no início do século
XII, e os primeiros anos do século XIII. O seu projeto apresentava uma estrutura idêntica
à da Catedral de Coimbra, com três naves, trifório (que é uma galeria estreita) sobre
as naves laterais, transepto saliente - deixando-a em forma de cruz - e cabeceira
tripartida.
Nos séculos seguintes, importantes construções foram sendo acrescentadas
à planta básica. Do lado Norte da entrada principal, ergue-se a Capela de Bartolomeu
Joanes, e o claustro dionisino, no estilo dos claustros góticos portugueses. Também
D. Afonso IV mandou construir, para se panteão familiar, uma nova cabeceira com deambulatório,
caracterizado por um corredor que circunda o altar-mor, o coro e a capela-mor, estabelecendo
comunicação entre as naves laterais.
Mas o tempo e a natureza tiveram seus
efeitos sobre a catedral, que foi devastada por três terremotos no século XV e outro
em 1755. Ela foi renovada ao longo dos anos e hoje a Sé é uma mistura de estilos.
O interior possui ainda três naves, porém com seis tramos, que são espaços formados
por quatro pilares, delimitando uma área quadrada, bem típico das catedrais medievais
europeias.
Uma abóbada de canhão coroa a nave central da catedral, enquanto
abóbadas de aresta cobrem as naves laterais. O transepto também é abobadado, decorado
por rosáceas em ambos os topos. A fachada, com as duas torres sineiras ameadas, bem
como a esplêndida rosácea, mantém um sólido aspecto românico.
A cor da sua
pedra hora bege, hora acinzentado, dependendo da incidência da luz. O interior é escuro,
simples e austero, pedra lisa ocupa os espaços anteriormente ornamentados a pedido
de D. João V na primeira metade do século XVIII.
Na Pia batismal dessa catedral,
foi batizado Santo Antônio. O claustro gótico a que se chega pela terceira capela
tem duplos arcos elegantes com belos capitéis esculpidos. Uma das capelas ainda exibe
um portão de ferro forjado do século XIII. Nos Claustros, as escavações arqueológicas
revelaram vestígios romanos e outros. À esquerda da entrada da capela franciscana,
encontra-se a pia onde Santo Antônio foi batizado, no ano de 1195. A decoração é feita
por azulejos pintados que representam o Santo pregando aos peixes.
No topo
da escadaria, encontra-se a sala do tesouro da Igreja em Portugal. A coleção, que
inclui pratarias, trajes eclesiásticos, estatuaria, manuscritos com iluminuras e relíquias
associadas a São Vicente pode ser visitado.
A peça mais preciosa da catedral
é a arca que contém os restos mortais do santo, transferidos do Cabo de São Vicente
para Lisboa em 1173. Reza a lenda que dois corvos sagrados mantiveram uma vigília
permanente sobre o barco que transportava as relíquias. Os corvos e o barco tornaram-se
símbolo da cidade de Lisboa. Diz-se também que os descendentes dos dois corvos originais
viviam nos claustros da catedral. E entre lendas e pedras seculares vamos encerrando
o Especial Catedrais de hoje. Até a próxima viagem, daqui a 15 dias…