2012-06-06 18:06:39

Aliança Internacional de Organizações Católicas publica nota sobre os principais temas da Rio+20


Cidade do Vaticano (RV) - A Aliança Internacional de Organizações Católicas (CIDSE) publicou, nesta quarta-feira, um comunicado em vistas da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, que acontece no Rio de Janeiro, entre 20 e 22 de junho.

A declaração aborda uma série de itens da agenda a ser discutida no Rio de Janeiro, principalmente na questão do desenvolvimento dos povos. Abaixo, a íntegra do comunicado.

Tempo de repensar e recuperar o controle sobre o futuro da humanidade

Os líderes da Igreja e da sociedade civil exigem dos governos concentrarem-se nos pobres e traçarem um novo caminho para um mundo justo e sustentável na conferência Rio+20

Nós, os representantes da Igreja Católica e da sociedade civil provenientes de todos os continentes, empenhados na erradicação da pobreza e em prol do desenvolvimento humano integral, apelamos aos líderes mundiais que mostrem liderança política na Conferência Rio+20 e incentivamos todas as pessoas de boa vontade a agirem a favor de um mundo mais justo e sustentável.

Não podemos esperar para repensar e realizar um mundo mais justo e mais verde onde as pessoas, mulheres e homens, reconheçam que são uma parte integral da criação, vivendo em harmonia e respeito consigo e com os outros. A tarefa é urgente, porque construimos um mundo onde ainda demasiadas pessoas não têm alimentação, água e energia suficientes para viverem com dignidade.

Trabalhamos diariamente com aqueles que vivem em grandes dificuldades e queremos dar-lhes uma voz de esperança. As comunidades pobres lutam pela obtenção dos recursos necessários ao seu próprio desenvolvimento, ao mesmo tempo tornando-se cada vez mais vulneráveis às ameaças ambientais com os ecossistemas gradativamente mais esgotados ou destruídos.

A procura de terra, água, alimentação, recursos minerais e energia está aumentando drasticamente. Isso tem sido a origem de violentos conflitos no mundo inteiro e a luta pelos recursos naturais tornar-se-á ainda mais intensa nas gerações vindouras.

As mudanças climáticas são cada vez mais visíveis e rápidas e só poderemos mitigá-las se agirmos já. As pessoas mais pobres e mais vulneráveis no mundo inteiro são as mais afetadas, muito embora elas sejam as menos responsáveis pelas suas causas.

Estamos diante de uma tarefa enorme porque deixamos as regras do mercado descontroladas, a nossa vontade e imaginação distorcida e a diversidade da criação de Deus classificada como "capital natural" e "humano". Permitimos que os nossos desejos e aspirações humanos se tornassem fundamentalmente materialistas, em vez de generosos, impulsionados pelo interesse pessoal em vez de o serem pela solidariedade.

Juntos, seremos capazes de traçar um novo caminho que conduza a um mundo justo e sustentável. Esta mudança depende igualmente do indivíduo, sendo a nossa tarefa fundamental agir para uma conversão radical, promover um estilo de vida alternativo e uma nova cultura de respeito pela criação, de simplicidade e de solidariedade com vista a um desenvolvimento humano mais forte e autêntico e uma melhor qualidade de vida. Os pobres podem ser marginalizados, mas no seu esforço diário pela sobrevivência demonstram criatividade e têm forjado alternativas que constituem uma fonte inesgotável de aprendizagem e referência na elaboração das políticas públicas.

Exigimos da Conferência do Rio+20 a implementação de mudanças estruturais que permitam às mulheres e aos homens alcançarem de maneira equitativa o seu pleno potencial e um verdadeiro desenvolvimento pessoal.

É tempo de repensar e retomar ao controle! É tempo de regular o mercado de maneira a servir ao bem comum. Os líderes mundiais centram-se no crescimento econômico como principal medida de sucesso. Mas o que significa crescimento se os mais pobres não podem participar nos seus benefícios, se ele não melhora a qualidade de vida e piora as desigualdades persistentes?

O que significa crescimento econômico em vista da destruição das nossas florestas, dos nossos oceanos e dos nossos recursos naturais? Precisamos valorizar as coisas que tenham sentido, a economia tem que ser julgada na sua capacidade de reduzir a pobreza, criar postos de emprego dignos e melhorar a sustentabilidade ecológica bem como a estabilidade social. Uma economia que nos conduza verdadeiramente ao desenvolvimento sustentável deve ser justa e equitativa, reconhecendo as valiosas contribuições e soluções locais com amplos benefícios sociais e, acima de tudo, que respeite a dignidade e os direitos humanos, tanto para as mulheres como os homens.

O desenvolvimento sustentável deve ser apoiado por um sistema financeiro que coloque a dignidade humana, o bem comum e o cuidado pela criação no centro da vida econômica. Um sistema financeiro justo consiste na subsidiariedade, na função social da propriedade privada e na redistribuição através de impostos. O setor informal e das micro empresas deve ser reconhecidos e apoiados, porque representam uma parte importante do setor privado e são a fonte de renda e de emprego de milhões de pessoas.

As grandes corporações, incluindo as instituições financeiras, representam apenas uma pequena parte do setor privado, embora controlem a maioria do poder e dos recursos. Elas deveriam demonstrar maior transparência e contribuir para o desenvolvimento sustentável através da mudança das práticas insustentáveis e exploradoras.

Os governos devem assegurar que as condições básicas dessem prioridade às necessidades básicas e ao direito das comunidades e dos países pobres, como por exemplo, água, alimentação e energia. Além disso, é indispensável assegurar o acesso a recursos naturais e partilha de benefícios.

Deve ser dada prioridade às mulheres. Elas são a maioria das pessoas que vivem na pobreza e são afetadas adversamente pelas injustiças sociais, ambientais e econômicas atuais. Medidas fortes de promoção da igualdade entre mulheres e homens são necessárias nos níveis social, econômico e ambiental e nas ações dos governos para um desenvolvimento justo e sustentável.

O escândalo de 1 bilhão de pessoas sofrendo fome, em violação do direito humano à alimentação, não pode continuar. Maior apoio deve ser destinado as milhões de famílias agrícolas que produzem respeitando o meio ambiente; são elas a principal fonte da segurança alimentar para os pobres em nível mundial.

É necessário dar maior ênfase à luta contra as mudanças climáticas induzidas pelo ser humano. Isto é a principal ameaça que enfrentamos, particularmente os mais pobres. Devem ser tomadas medidas mais ambiciosas baseadas nos princípios da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas.

Por último, o quadro previsto para o desenvolvimento sustentável deve ser baseado nas conquistas realizadas; deve definir as responsabilidades e os desafios dos países desenvolvidos, os em via de desenvolvimento e os menos desenvolvidos; deve ser mensurável e compreensível por todos.

Esperamos que a Cúpula do Rio transmita uma mensagem de esperança bem fundada para todos aqueles que estão sofrendo e para as gerações futuras! Esperamos que os líderes mundiais assumam a sua responsabilidade e se responsabilizem pelos seus compromissos. Exigimos dos líderes mundiais e de todas as pessoas de boa vontade que não deixem passar esta oportunidade de caminharmos juntos em prol de um desenvolvimento baseado nos direitos e equitativo, rumo a uma vida verdadeiramente humana e a um mundo onde aceitemos que somos parte da criação que nos foi dada para dela cuidarmos.

(RB)







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