Católicos e Ortodoxos da Europa refletem em Lisboa sobre os desafios da atual crise
económico e situações de pobreza
(05/06/12) “Crise económica e pobreza: desafios para a Europa hoje” é o tema do 3.º
Fórum Católico e Ortodoxo que a partir desta terça e até sexta-feira congrega em Lisboa
dezenas de figuras do clero das duas Igrejas. “O objetivo é olharmos juntos para a
crise que estamos quase todos a viver em toda a Europa, procurando – e esta é a novidade
cristã – perceber as causas e as soluções que vão para além da economia”, explicou
à agência Ecclesia, o secretário-geral do Conselho das Conferências Episcopais da
Europa (CCEE), padre Duarte da Cunha. Em comunicado hoje publicado pelo CCEE,
o presidente deste organismo, cardeal Péter Erdo, sublinha que o atual declínio económico
coloca em risco os próprios “modelos de sociedade” na Europa, mas constitui “apenas
a ponta do icebergue e tem origens muito mais profundas”. O arcebispo de Budapeste
destaca “as graves consequências negativas ético-morais” de modelos antropológicos
e culturais “errados” que afetam “ambientes sociais, políticos e económicos”.
A
iniciativa inicia-se esta terça-feira, às 17h30, numa sessão aberta aos jornalistas
no seminário dos Dehonianos em Alfragide (Amadora), mas o resto do encontro vai decorrer
à porta fechada, com a publicação de um comunicado no final dos trabalhos. O programa
prevê que os participantes estejam presentes esta quinta-feira na Sé de Lisboa para
a missa do Corpo de Deus presidida pelo cardeal-patriarca, D. José Policarpo, às 11h30.
O encontro inclui também uma oração ecuménica no Colégio do Bom Sucesso, em Lisboa,
às 19h00 de quarta-feira, aberta ao público.
A lista de participantes ortodoxos
integra prelados de patriarcados e dioceses da Península Ibérica, Grécia, Rússia,
Roménia, Polónia, República Checa, Eslováquia, Sérvia, Geórgia, Albânia e Chipre.
Do lado católico, para além do presidente da CCEE, participam arcebispos e bispos
da Alemanha, Bélgica, Bielorrússia, Bósnia-Herzegovina, Escócia, Espanha, França,
Itália, Rússia e Ucrânia. Uma das duas intervenções sobre a relação da pobreza
com a justiça social vai ser proferida por um leigo, o grego Christos Tsironis.
O
padre Duarte da Cunha considera que “há um empobrecimento da espiritualidade, sobretudo
da fé e da prática da relação com Deus, o que gera instabilidade social, egoísmo e
falta de ética, fatores que conduzem à crise”. Por outro lado as dificuldades “levam
as pessoas a estarem de tal maneira aflitas que muitas vezes se esquecem de olhar
para o que está para além das circunstâncias do momento, ou seja, para Deus, para
os valores permanentes, para a Igreja e para a caridade”, acrescentou. A prioridade
do fórum, que desde 2008 junta clero e leigos da Europa a cada dois anos, é deixar
“um olhar de esperança”, assinala o secretário da CCEE. “A nossa intenção é valorizar
o que tem sido feito de bom nas obras que nascem da fé e que se concretizam no apoio
à erradicação da pobreza, desenvolvimento e educação, entre outras dimensões”, acrescenta
o sacerdote português. Este responsável está convicto de que os fóruns, organizados
alternadamente por católicos e ortodoxos, “têm gerado proximidade”. “Por vezes as
relações a nível local não são fáceis e estes encontros têm promovido alguma co-responsabilidade
ao nível dos desafios comuns, além de gerarem uma grande sintonia em muitos aspetos.
Numa Europa secularizada esta voz comum talvez seja o mais importante que podemos
oferecer agora”, referiu.