2012-06-03 13:54:38

Mais de um milhão de fiéis na missa presidida pelo Papa em Milão


Milão (RV) - Mais de um milhão de fiéis participaram na manhã deste domingo da Santa Missa celebrada por Bento XVI no Parque de Bresso, em Milão, por ocasião do VII Encontro Mundial das Famílias. Em sua homilia, Bento XVI afirmou que a solenidade da Santíssima Trindade “nos convida a contemplar este mistério, mas também nos impulsiona ao compromisso de viver em comunhão com Deus e uns aos outros segundo o modelo da Trindade”. Leia abaixo a íntegra da homilia do Santo Padre. (SP)


Venerados Irmãos,
Distintas Autoridades,
Amados irmãos e irmãs!

Grande momento de alegria e de comunhão é este que vivemos ao celebrar o Sacrifício Eucarístico, nesta manhã. Está reunida com o Sucessor de Pedro uma grande assembleia, composta por fiéis vindos de muitas nações. Nela temos uma expressiva imagem da Igreja, una e universal, fundada por Cristo e fruto da missão que Jesus, como ouvimos no Evangelho, confiou aos seus Apóstolos: «Ide, pois, fazer discípulos de todas as nações, baptizai-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo» (Mt 28, 18-19). Saúdo com afecto e gratidão o Cardeal Angelo Scola, Arcebispo de Milão, e o Cardeal Ennio Antonelli, Presidente do Pontifício Conselho para a Família, principais artífices deste VII Encontro Mundial das Famílias, bem como os seus colaboradores, os Bispos Auxiliares de Milão e todos os outros Prelados. Com prazer, saúdo todas as Autoridades presentes. E, hoje, o meu caloroso abraço vai sobretudo para vós, queridas famílias! Obrigado pela vossa participação!

Na segunda Leitura, o apóstolo Paulo recordou-nos que recebemos no Baptismo o Espírito Santo, que de tal modo nos une a Cristo como irmãos e liga ao Pai como filhos, que podemos gritar: «Abba! Pai!» (cf. Rm 8, 15.17). Então foi-nos dado um gérmen de vida nova, divina, que se há-de fazer crescer até à realização definitiva na glória celeste; tornamo-nos membros da Igreja, a família de Deus, «sacrarium Trinitatis» – na expressão de Santo Ambrósio –, «um povo – como ensina o Concílio Vaticano II – unido pela unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo» (Const. Lumen gentium, 4).

A solenidade litúrgica da Santíssima Trindade, que hoje celebramos, convida-nos a contemplar este mistério, mas impele-nos também ao compromisso de viver a comunhão com Deus e entre nós segundo o modelo da comunhão trinitária. Somos chamados a acolher e a transmitir, concordes, as verdades da fé; a viver o amor recíproco e para com todos, compartilhando alegrias e sofrimentos, aprendendo a pedir e a dar o perdão, valorizando os diversos carismas sob a guia dos Pastores. Numa palavra, está-nos confiada a tarefa de construir comunidades eclesiais que sejam cada vez mais família, capazes de reflectir a beleza da Trindade e evangelizar não só com a palavra mas – diria eu – por «irradiação», com a força do amor vivido.

Não é só a Igreja que é chamada a ser imagem do Deus Uno em Três Pessoas, mas também a família fundada no matrimónio entre o homem e a mulher. No princípio, de facto, «Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus: Ele os criou homem e mulher. Abençoando-os, Deus disse-lhes: “Crescei e multiplicai-vos”» (Gn 1, 27-28). Deus criou o ser humano, homem e mulher, com igual dignidade, mas também com características próprias e complementares, para que os dois fossem dom um para o outro, se valorizassem reciprocamente e realizassem uma comunidade de amor e de vida. O amor é o que faz da pessoa humana a autêntica imagem da Trindade, imagem de Deus. Queridos esposos, na vivência do matrimónio, não dais qualquer coisa ou alguma actividade, mas a vida inteira.

E o vosso amor é fecundo, antes de mais nada, para vós mesmos, porque desejais e realizais o bem um do outro, experimentando a alegria do receber e do dar. Depois é fecundo na procriação generosa e responsável dos filhos, na solicitude carinhosa por eles e na educação cuidadosa e sábia. Finalmente é fecundo para a sociedade, porque a vida familiar é a primeira e insubstituível escola das virtudes sociais, tais como o respeito pelas pessoas, a gratuidade, a confiança, a responsabilidade, a solidariedade, a cooperação. Queridos esposos, cuidai dos vossos filhos e, num mundo dominado pela técnica, transmiti-lhes com serenidade e confiança as razões para viver, a força da fé desvendando-lhes metas altas e servindo-lhes de apoio na fragilidade nas fragilidades. Mas também vós, filhos, sabei manter sempre uma relação de profundo afecto e solícito cuidado com os vossos pais, e as relações entre irmãos e irmãs sejam também oportunidade para crescer no amor.

O projeto de Deus para o casal humano alcança a sua plenitude em Jesus Cristo, que elevou o matrimónio a Sacramento. Com um dom especial do Espírito Santo, queridos esposos, Cristo faz-vos participar no seu amor esponsal, tornando-vos sinal do seu amor pela Igreja: um amor fiel e total. Se souberdes acolher este dom, renovando diariamente o vosso «sim» com fé e com a força que vem da graça do Sacramento, também a vossa família viverá do amor de Deus, tomando por modelo a Sagrada Família de Nazaré. Queridas famílias, pedi muitas vezes, na oração, o auxílio da Virgem Maria e de São José, para que vos ensinem a acolher o amor de Deus como o acolheram eles. A vossa vocação não é fácil de viver, especialmente hoje, mas a realidade do amor é maravilhosa, é a única força que pode verdadeiramente transformar o universo, o mundo.

Aos vossos olhos foi oferecido o testemunho de tantas famílias, que indicam os caminhos para crescer no amor: manter um relacionamento perseverante com Deus e participar na vida eclesial, cultivar o diálogo, respeitar o ponto de vista do outro, estar disponíveis para servir, ser paciente com os defeitos alheios, saber perdoar e pedir perdão, superar com inteligência e humildade os possíveis conflitos, concordar as directrizes educacionais, estar abertos às outras famílias, atentos aos pobres, ser responsáveis na sociedade civil. Todos estes são elementos que constroem a família. Vivei-os com coragem, pois na medida em que, com o apoio da graça divina, viverdes o amor mútuo e para com todos, tornar-vos-eis um Evangelho vivo, uma verdadeira Igreja doméstica (cf. Exort. ap. Familiaris consortio, 49). Quero dedicar uma palavra também aos fiéis que, embora compartilhando os ensinamentos da Igreja sobre a família, estão marcados por experiências dolorosas de falência e separação. Sabei que o Papa e a Igreja vos apoiam na vossa fadiga. Encorajo-vos a permanecer unidos às vossas comunidades, enquanto almejo que as dioceses assumam adequadas iniciativas de acolhimento e proximidade.
No livro do de Génesis, Deus confia ao casal humano a sua criação, para que a guarde, cultive e guie de acordo com o seu plano (cf. 1, 27-28; 2, 15).

Nesta indicação da Sagrada Escritura, podemos ler a missão que tem o homem e a mulher de colaborar com Deus para transformar o mundo, através do trabalho, da ciência e da técnica. O homem e a mulher são também imagem de Deus nesta obra preciosa, que devem realizar com o mesmo amor do Criador. Vemos que, nas teorias económicas modernas, prevalece muitas vezes uma concepção utilitarista do trabalho, da produção e do mercado. Mas, o projecto de Deus e a própria experiência mostram que não é a lógica unilateral do que me é útil e do maior lucro que pode concorrer para um desenvolvimento harmonioso, o bem da família e para construir uma sociedade mais justa, porque traz consigo uma competição exasperada, fortes desigualdades, degradação do meio ambiente, corrida ao consumo, mal-estar nas famílias. Antes, a mentalidade utilitarista tende a estender-se também às relações interpessoais e familiares, reduzindo-as a convergências precárias de interesses individuais e minando a solidez do tecido social.

Um último elemento. O homem, enquanto imagem de Deus, é chamado também ao descanso e à festa. A narrativa da criação termina com estas palavras: «Concluída, no sétimo dia, toda a obra que tinha feito, Deus repousou, no sétimo dia, de todo o trabalho por Ele realizado. Deus abençoou o sétimo dia e santificou-o» (Gn 2, 2-3). Para nós, cristãos, o dia de festa é o Domingo, dia do Senhor, Páscoa da semana. É o dia da Igreja, assembleia convocada pelo Senhor ao redor da mesa da Palavra e do Sacrifício Eucarístico, como estamos a fazer hoje, para nos alimentar d’Ele, entrar no seu amor e viver do seu amor. É o dia do homem e dos seus valores: convivência, amizade, solidariedade, cultura, contacto com a natureza, jogo, desporto. É o dia da família, em que se há-de viver, juntos, o sentido da festa, do encontro, da partilha, também com a participação na Santa Missa. Queridas famílias, mesmo nos ritmos acelerados do nosso tempo, não percais o sentido do dia do Senhor! É como o oásis onde parar para saborear a alegria do encontro e saciar a nossa sede de Deus.

Família, trabalho, festa: três dons de Deus, três dimensões da nossa vida que se devem encontrar num equilíbrio harmonioso. Harmonizar os horários do trabalho e as exigências da família, a profissão e a paternidade e maternidade, o trabalho e a festa é importante para construir sociedades com um rosto humano. Nisto, privilegiai sempre a lógica do ser sobre a do ter: a primeira constrói, a segunda acaba por destruir. É preciso educar-se para crer, em primeiro lugar na família, no amor autêntico: o amor que vem de Deus e nos une a Ele e, por isso mesmo, «nos transforma em um Nós, que supera as nossas divisões e nos faz ser um só, até que, no fim, Deus seja “tudo em todos” (1 Cor 15, 28)» (Enc. Deus caritas est, 18).








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