Cidade do Vaticano (RV) - A Caritas Internacional
realiza nestes dias um Congresso sobre “Fome Global e Segurança Alimentar Sustentável”,
em Viena, na Áustria, alertando para o “escândalo” que representa a negação deste
direito básico da humanidade.
Segundo dados citados pela organização, 925 milhões
de pessoas no mundo passam fome. “A fome não é um evento natural, mas tem causas sociais,
econômicas e políticas. É uma tragédia global, sobretudo porque é evitável” – lê-se
no site da Caritas. E falar de fome não é apenas falar de um fenômeno natural com
causas sociais, econômicas e políticas. É falar de uma “tragédia global que poderia
ser evitada”, assinala a Caritas em um comunicado.
Todos os dias, organizações
como a Caritas em todo o mundo testemunham casos de pessoas que passam fome. Somente
na área do Sahel, no sul do Sahara, são 18 milhões as pessoas que padecerão a fome
nos próximos seis meses. Entre esses, 1 milhão de crianças com menos de 5 anos corre
perigo de vida e outros 2 milhões vão ao encontro de graves problemas de desnutrição.
Se os dados falam de uma só região podemos alargar a estatística e pensar que um entre
sete habitantes do nosso planeta dorme com fome. Mais ainda: a cada 12 segundos, uma
criança morre por inanição.
São números que gritam à nossa consciência, que
gritam a uma sociedade opulenta que joga no seu lixo diário a vida de milhões de pessoas,
onde um pedaço de pão, um copo de leite, um prato de sopa, pode ser a diferença de
ter ou não a oportunidade de um outro dia. Somente quem viveu e vive a enorme tristeza
da fome, do prato vazio, da falta de esperança, pode entender que a luz desse túnel
poder ser acesa somente com a solidariedade, com a partilha, com o interesse pelo
próximo, com o fim do egoísmo.
Todo ser humano tem direito ao alimento, à
vida. Ai nasce e se configura o dever e a necessidade de políticas que ajudem o desenvolvimento
de uma agricultura sustentável que combatam com coerência a pobreza e a fome. É preciso
dar acesso aos alimentos através de um comércio justo e regulamentado, sem a especulação
do mercado. É necessário construir uma segurança alimentar que possa tirar do abismo
da fome, onde se encontram, mais de 900 milhões de pessoas, de seres humanos.
Um
mundo sem fome, com as pessoas bem alimentadas e bem nutridas, é possível. Nosso planeta
produz alimentos suficientes, precisamos distribuí-los melhor. As vozes dos famintos,
ainda contam pouco, e toda e qualquer desculpa encobre o grito desse exército de desesperados;
é a crise econômica, são os problemas climáticos, que fazem com que os preços aumentem;
essas sãos as alegações.
Mas o mais bizarro de tudo isso é que se passa fome
sobretudo nas regiões onde os alimentos são produzidos, ou seja, no campo, onde as
pessoas vivem da agricultura familiar e não têm seus interesses representados nas
instituições econômicas multilaterais. Essa grande maioria silenciosa nos países em
desenvolvimento paga o preço da ganancia de um sistema econômico que visa somente
o lucro.
Quase 40 anos atrás o então Secretário de Estado norte-americano,
Henry Kissinger, prometeu numa conferência internacional sobre a alimentação: “Em
uma década, nenhuma criança precisará mais ir para a cama à noite com fome”. Hoje,
nossas crianças continuam a morrer de fome. Desde o início do nosso editorial, nos
últimos 3 minutos 15 crianças morreram no mundo por causa da fome. Um verdadeiro atestado
da falência da nossa sociedade no que diz respeito ao homem. (Silvonei José)