2012-06-02 14:04:56

Editorial: Fome, falência da sociedade


Cidade do Vaticano (RV) - RealAudioMP3 A Caritas Internacional realiza nestes dias um Congresso sobre “Fome Global e Segurança Alimentar Sustentável”, em Viena, na Áustria, alertando para o “escândalo” que representa a negação deste direito básico da humanidade.

Segundo dados citados pela organização, 925 milhões de pessoas no mundo passam fome. “A fome não é um evento natural, mas tem causas sociais, econômicas e políticas. É uma tragédia global, sobretudo porque é evitável” – lê-se no site da Caritas. E falar de fome não é apenas falar de um fenômeno natural com causas sociais, econômicas e políticas. É falar de uma “tragédia global que poderia ser evitada”, assinala a Caritas em um comunicado.

Todos os dias, organizações como a Caritas em todo o mundo testemunham casos de pessoas que passam fome. Somente na área do Sahel, no sul do Sahara, são 18 milhões as pessoas que padecerão a fome nos próximos seis meses. Entre esses, 1 milhão de crianças com menos de 5 anos corre perigo de vida e outros 2 milhões vão ao encontro de graves problemas de desnutrição. Se os dados falam de uma só região podemos alargar a estatística e pensar que um entre sete habitantes do nosso planeta dorme com fome. Mais ainda: a cada 12 segundos, uma criança morre por inanição.

São números que gritam à nossa consciência, que gritam a uma sociedade opulenta que joga no seu lixo diário a vida de milhões de pessoas, onde um pedaço de pão, um copo de leite, um prato de sopa, pode ser a diferença de ter ou não a oportunidade de um outro dia. Somente quem viveu e vive a enorme tristeza da fome, do prato vazio, da falta de esperança, pode entender que a luz desse túnel poder ser acesa somente com a solidariedade, com a partilha, com o interesse pelo próximo, com o fim do egoísmo.

Todo ser humano tem direito ao alimento, à vida. Ai nasce e se configura o dever e a necessidade de políticas que ajudem o desenvolvimento de uma agricultura sustentável que combatam com coerência a pobreza e a fome. É preciso dar acesso aos alimentos através de um comércio justo e regulamentado, sem a especulação do mercado. É necessário construir uma segurança alimentar que possa tirar do abismo da fome, onde se encontram, mais de 900 milhões de pessoas, de seres humanos.

Um mundo sem fome, com as pessoas bem alimentadas e bem nutridas, é possível. Nosso planeta produz alimentos suficientes, precisamos distribuí-los melhor. As vozes dos famintos, ainda contam pouco, e toda e qualquer desculpa encobre o grito desse exército de desesperados; é a crise econômica, são os problemas climáticos, que fazem com que os preços aumentem; essas sãos as alegações.

Mas o mais bizarro de tudo isso é que se passa fome sobretudo nas regiões onde os alimentos são produzidos, ou seja, no campo, onde as pessoas vivem da agricultura familiar e não têm seus interesses representados nas instituições econômicas multilaterais. Essa grande maioria silenciosa nos países em desenvolvimento paga o preço da ganancia de um sistema econômico que visa somente o lucro.

Quase 40 anos atrás o então Secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger, prometeu numa conferência internacional sobre a alimentação: “Em uma década, nenhuma criança precisará mais ir para a cama à noite com fome”. Hoje, nossas crianças continuam a morrer de fome. Desde o início do nosso editorial, nos últimos 3 minutos 15 crianças morreram no mundo por causa da fome. Um verdadeiro atestado da falência da nossa sociedade no que diz respeito ao homem. (Silvonei José)







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