A família e a identidade cristã: "o Sacramento não é a família, mas o amor conjugal"
Cidade do Vaticano (RV) – Falta exatamente uma semana para o VII Encontro Mundial
das Famílias em Milão, e, por essa ocasião, o Diretor de Programas da Rádio Vaticano,
Pe. Andrea Koprowski, preparou uma reflexão sobre a temática da família.
Pe.
Andrea inicia criticando as classificações ideológicas da família, que transformam
uma argumentação sobre o tema em algo contraproducente. Propõe então a família como
sendo célula fundamental da vida social e explica que, tendo esse conceito em mente,
os organizadores do Encontro Mundial propuseram o tema família, trabalho e festa.
“A família é entendida como um bem insubstituível da sociedade e como condição indispensável
para projetar o futuro da sociedade. Ela é um sujeito social e político – reafirma
Koprowski -, um fato público ao qual o bom governo deve dar atenção adequada”.
Para
o sacerdote, o problema da família diz respeito ao mundo todo. Citou alguns dos motivos,
começando pela interrupção da "renovação geracional”: “falta uma população jovem em
idade produtiva que traga o equilíbrio entre as gerações – ponderou. Emerge o problema
das aposentadorias e do sistema de saúde, os grandes fatores sócio-econômicos que
regulam um sistema-país. Percebe-se um enfraquecimento da família, abandonada a si
própria, muito embora produza capital social.” “Os jovens – disse ele – têm dificuldade
em decidir-se pelo matrimônio e em assumir a responsabilidade de uma família”.
Passando
ao aspecto espiritual da família, Pe. Andrea diz que este é um ponto que sofre de
profunda incompreensão, ou seja, “de uma negação do fato de que a pessoa humana é
uma unidade de alma e corpo, nascida do amor criador de Deus e destinada a viver eternamente”.
Para ele, “uma sociedade de bem-estar, materialmente desenvolvida, mas opressora da
integridade da pessoa humana criada à imagem e semelhança de Deus, não é por si só
orientada para o desenvolvimento”. Então explica: “As novas formas de escravidão da
droga e do desespero às quais se entregam tantas pessoas são explicadas não só social
ou psicologicamente, mas, em essência, espiritualmente. O vazio no qual a alma se
sente abandonada produz sofrimento, mesmo em presença de terapias corporais e psicológicas”.
Koprowski então sublinha: “não há desenvolvimento global e bem comum universal sem
o bem espiritual e moral das pessoas, consideradas nas suas integridades de alma e
corpo”.
Falando sobre o matrimônio, onde inicia a família, enumerou alguns
problemas de base econômica que desencorajam jovens a formá-las, defendendo, por isso,
uma modulação do sistema fiscal às condições da família como um todo, tendo como base
os encargos familiares, considerando o peso da tributação sobre as pessoas.
A
família, segundo sua análise, tem duas faces. Uma referente ao fato que cada um deve
pagar as taxas em base a sua capacidade produtiva, portanto o reconhecimento dos encargos
familiares. “Isso significa reconhecer que os filhos são um investimento e um valor
e que a família tem um papel no futuro da sociedade”. A outra face se refere à atuação
do “Fator Família”, ou seja, os encargos familiares na formulação de tarifas de acesso
aos serviços sociais, da infância à terceira idade.
Encaminhando-se para a
conclusão, em referência à família como fator fundamental para a identidade cristã,
Pe. Andrea salienta que “não é a família o Sacramento, mas o amor conjugal”. E portanto
“a questão de encontrar equilíbrio entre trabalho e família é algo a ser enfrentado
pelo casal”, pois “os cônjuges devem entender que têm uma vocação para o trabalho
e outra para o matrimônio, e ambas estão radicadas na vocação fundamental cristã do
amor”.
O VII Encontro Mundial das Famílias realiza-se de 30 de maio a 3 de
junho, em Milão, norte da Itália. Contará com a presença do Santo Padre de 1º a 3
de junho. Faremos a cobertura completa do evento. (ED)