Rio de Janeiro (RV) - No terceiro domingo de maio, celebra-se o Dia do Congregado
Mariano. Elas existem no Brasil desde 1583, quando a primeira foi fundada no Colégio
dos Jesuítas da Bahia pelo Beato José de Anchieta.
Surgidos no seio da Igreja
e para o bem da Igreja, é impossível não reconhecer que as Congregações Marianas são
frutos do Espírito Santo. Como negar, por exemplo, a grande contribuição nos idos
de 1950 desse referido movimento apostólico na formação e evangelização da juventude
católica brasileira inserida em um contexto particularmente difícil? Sou testemunha
em meus tempos de coroinha, quando acompanhei o trabalho missionário dos marianos
nas capelas rurais da paróquia e a alegria com que trabalhavam nessa missão. Depois
mais tarde pelas dioceses por onde passei pude constar a presença, participação e
espiritualidade marianas dessas pessoas que se tornaram sinais de “Jesus, o centro
da história”, seguindo a escola da “Virgem soberana”. Também agora nesta missão carioca
constato a luta, o ânimo, a coragem desses irmãos e irmãs que levam adiante com “entusiasmo
e alegria a fidelidade por toda a vida”.
Mas enfim, o que são as Congregações
Marianas? Onde surgiram? Que missão desenvolvem? É justo que façamos esses questionamentos,
sobretudo por que, ao buscarmos suas respostas, poderemos ver a grande obra de Deus
que é essa família cristã no seio da Igreja.
Nascidas nos ambientes escolares
da Companhia de Jesus, no famoso e conceituado Colégio Romano, as Congregações Marianas
eram formadas por jovens que, cheios de santos propósitos, desejavam aprender na escola
de Maria o caminho seguro para seguir o Filho. Nela, Maria, “a discípula mais perfeita
do Senhor, encontramos a mais perfeita realização da existência Cristã” (DA nº 266).
Essa espiritualidade, além de dar uma fisionomia própria aos membros da entidade,
também alimenta a espiritualidade e o próprio modo de vida.
Aos poucos, aquele
pequeno grupo do Colégio Romano foi tomando corpo, as fileiras do pequeno exército
iam se engrossando e, em pouco tempo, outros colégios jesuítas abraçaram o novo jeito
de evangelizar a juventude e iam assim formando uma “rede de evangelização”. Uma comunhão
de vida com Cristo, partindo de uma espiritualidade fortemente mariana, fincada no
amor filial ao Magistério da Igreja, eram as colunas e o alicerce que sustentariam
aquela obra até os nossos dias.
Recordando o Evangelho, somos chamados a trazer
diante de nossos olhos aquela cena em que Jesus afirma ser possível conhecer a árvore
pelos seus frutos. (Mt 17,7) Sendo assim, os primeiros frutos daquela “pequena árvore”
plantada nos jardins do Colégio Romano já apontavam para o tipo de “qualidade” do
referido movimento. Por essa razão, não demorou muito para que esses frutos se tornassem
visíveis, a ponto de levar o Papa Gregório VIII a conceder a essa família religiosa
uma personalidade jurídica canônica, que lhes permitiu sair do anonimato, e deu-lhe
reconhecido prestígio no meio eclesial. Com esse gesto, os Congregados Marianos deixaram
definitivamente os muros das Escolas Jesuíticas romanas e se lançaram no mundo.
Em
solo brasileiro, as Congregações Marianas foram se estabelecendo juntamente com os
Colégios Jesuítas, que, desde o Período Colonial, desenvolvem precioso serviço à formação
intelectual e cristã de nosso povo. Porém, com a expulsão dos Jesuítas do Brasil,
fruto do sentimento laicista do Marquês de Pombal, as referidas Congregações se enfraqueceram
e desapareceram. Quase cem anos depois, ressurge em São Paulo, e mais uma vez, de
uma maneira providencial, rapidamente outros grupos vão surgindo. Isso se deu em 31
de maio de 1870, quando em Itu surgiu a primeira Congregação Mariana dos novos tempos.
Em 1935 o Brasil passou a ser o líder mundial no crescimento das Congregações Marianas.
Uma
coisa chama a nossa atenção. Após o seu ressurgimento nessa Terra de Santa Cruz, as
Congregações Marianas deixaram de ser movimentos exclusivamente dos ambientes escolares
e jesuíticos, chegando assim a outros ambientes, tais como paróquias, ambientes de
trabalho etc. Sem dúvida essas “inovações” são sinais de que o Espírito Santo não
só cria, mas cuida e sustenta. Após as mudanças de 1967, quando foram criadas as Comunidades
de Vida Cristã (CVX), as Congregações Marianas foram remodeladas e passaram a ser
uma Associação Pública de Fiéis de Âmbito Nacional, e, em 1993 foram aprovadas pela
CNBB, a pedido do então assistente nacional, o meu predecessor na Sé do Rio de Janeiro,
o Cardeal D. Eugênio Araújo Sales.
Estando no mundo, as Congregações Marianas
precisam e devem se relacionar com ele. É ele, o mundo, o campo de atuação daqueles
que aprenderam de Nossa Senhora também o seu “ser missionária”, sobretudo, diante
da grande sede de Deus que experimenta o nosso povo. “Maria é a grande missionária,
continuadora da missão de Jesus e formadora de missionários” (DA nº269). Aliás, é
preciso sempre renovar o compromisso de olhar o mundo e comprometer-se com ele à luz
dos critérios do Reino. A atualidade dessa espiritualidade é importante para o mundo
atual, e sua regra de vida conduz a pessoa na Escola da Santidade.
Como é ação
do Espírito Santo atualizar em nós a Graça que nos sustenta e nos apontar o caminho
que devemos trilhar rumo à santidade de vida, podemos então concluir que as Congregações
Marianas, sendo fruto desse Espírito, são, consequentemente, caminho que pode levar
ao céu.
Caminhando com Maria, ela que é “Mãe da Igreja, modelo e paradigma
da humanidade” (DA 268), somos convidados a buscar conformar nossa vida à vida de
Cristo, e, assim, morrermos aos poucos para que Cristo viva em nós e sua luz ilumine
o mundo. Essa comunhão, conformidade de vida com Jesus, fez surgir dentro da família
dos congregados marianos muitos homens e mulheres que, corajosamente, trilharam o
caminho da santidade. E mesmo em meio às diferenças do tempo, à cultura de cada época,
nesses mais de 400 anos de existência já se somam 62 Santos canonizados, 46 Beatos
e um número ainda maior dos santos anônimos que, como soldados, revestem-se com a
fita azul e empunham o Santo Terço, buscando em suas vidas fazer apenas o “que Ele
vos disser” (Jo 2,5).
“Como mãe de tantos, Maria fortalece os vínculos fraternos
entre todos, estimula a reconciliação e o perdão e ajuda os discípulos de Jesus a
se experimentarem como família – a família de Deus” (DA 267).
Que Maria, a
mãe do Belo Amor, Rainha do Mundo, nos ensine a caminhar! Ser "escolas vivas de piedade
e vida cristã operante”, pois Ela é a inspiração da espiritualidade que mantém viva
as Congregações Marianas ao longo dos séculos. Do Prata ao Amazonas, do mar às Cordilheiras,
avante Congregados Marianos!
† Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo
Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ