Nova Evangelização e "Evangelii Nuntiandi": ai de mim se não evangelizar
Cidade do
Vaticano (RV) - Amigo ouvinte, voltamos ao nosso encontro de todas as semanas
reservado à nova evangelização: como se tem reiterado, não um modismo na Igreja, mas
uma prioridade para a Igreja em nossos tempos.
Justamente por ser uma prioridade,
Bento XVI "decidiu convocar a XIII Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos sobre o tema
A nova evangelização para a transmissão da fé cristã, que se realizará de 7 a 28 de
outubro deste ano. Retomando a reflexão até agora realizada sobre o tema, a Assembleia
sinodal terá por objetivo analisar a situação atual nas Igrejas particulares, para
traçar, em comunhão com o Santo Padre Bento XVI (...), novas formas e expressões da
Boa Notícia que devem ser transmitidas ao homem contemporâneo com renovado entusiasmo,
próprio dos santos, alegres testemunhas do Senhor Jesus Cristo (...). É um desafio
a retirar, como o escriba que se tornou discípulo do Reino dos céus, coisas novas
e coisas antigas do precioso tesouro da Tradição (cf. Mt. 23, 52)". (Prefácio dos
Lineamenta para o referido Sínodo)
É nesse sentido que temos recorrido
a alguns documentos magisteriais pertinentes à ação missionária da Igreja para uma
oportuna revisitação – em vista do aguardado Sínodo de outubro próximo.
Nesta
edição, com a segunda parte do nº 80 da "Evangelii Nuntiandi" concluímos nossa revisitação
à Exortação Apostólica do Papa Paulo VI, de 8 de dezembro de 1975. Concluindo o importante
documento, no nº 80 – que tem por título "Com o fervor dos santos" – Paulo
VI relança a prioridade da Evangelização, e, em sua segunda parte, diz o seguinte:
"Será
então um crime contra a liberdade de outrem o proclamar com alegria uma Boa Nova que
se recebeu primeiro, pela misericórdia do Senhor? (132) Ou por que, então, só a mentira
e o erro, a degradação e a pornografia, teriam o direito de serem propostos e com
insistência, infelizmente, pela propaganda destrutiva dos "mass media", pela tolerância
das legislações e pelo acanhamento dos bons e pelo atrevimento dos maus? Esta maneira
respeitosa de propor Cristo e o seu reino, mais do que um direito, é um dever do evangelizador.
E é também um direito dos homens seus irmãos o receber dele o anúncio da Boa Nova
da salvação. Esta salvação, Deus pode realizá-la em quem ele quer por vias extraordinárias
que somente ele conhece.(133) E entretanto, se o seu Filho veio, foi precisamente
para nos revelar, pela sua palavra e pela sua vida, os caminhos ordinários da salvação.
E ele ordenou-nos transmitir aos outros essa revelação, com a sua própria autoridade. Sendo
assim, não deixaria de ter a sua utilidade que cada cristão e cada evangelizador aprofundasse
na oração este pensamento: os homens poderão salvar-se por outras vias, graças à misericórdia
de Deus, se nós não lhes anunciarmos o Evangelho; mas nós, poder-nos-emos salvar se,
por negligência, por medo ou por vergonha, aquilo que São Paulo chamava exatamente
"envergonhar-se do Evangelho",(134) ou por se seguirem idéias falsas, nos omitirmos
de o anunciar? Isso seria, com efeito, trair o apelo de Deus que, pela voz dos ministros
do Evangelho, quer fazer germinar a semente; e dependerá de nós que essa semente venha
a tornar-se uma árvore e a produzir todo o seu fruto. Conservemos o fervor do espírito,
portanto; conservemos a suave e reconfortante alegria de evangelizar, mesmo quando
for preciso semear com lágrimas! Que isto constitua para nós, como para João Batista,
para Pedro e para Paulo, para os outros apóstolos e para uma multidão de admiráveis
evangelizadores no decurso da história da Igreja, um impulso interior que ninguém
nem nada possam extinguir. Que isto constitua, ainda, a grande alegria das nossas
vidas consagradas. E que o mundo do nosso tempo que procura, ora na angústia, ora
com esperança, possa receber a Boa Nova dos lábios, não de evangelizadores tristes
e descoroçoados, impacientes ou ansiosos, mas sim de ministros do Evangelho cuja vida
irradie fervor, pois foram quem recebeu primeiro em si a alegria de Cristo, e são
aqueles que aceitaram arriscar a sua própria vida para que o reino seja anunciado
e a Igreja seja implantada no meio do mundo."
Amigo ouvinte, o anúncio de Jesus
Cristo é a via ordinária da salvação, mas Deus dispõe de outros meios para aqueles
que não receberam tal anúncio: a via extraordinária. O grande teólogo Karl Rahner
afirma que todos são beneficiados pela graça da morte e ressurreição de Cristo (a
via existencial sobrenatural). Mas depois há o anúncio explícito que alcança uma
minoria e nós somos chamados a esse anúncio. Paulo VI afirma com palavras claras que
quem não evangeliza coloca em perigo a própria vida. Compreende-se que os motivos
da evangelização são a vontade de Deus e a salvação pessoal. Uma última observação:
na exortação resulta claro que a evangelização é coextensiva à ação eclesial. É a
dinâmica fundamental da Igreja.
Amigo ouvinte, por hoje é só. Semana que vem
tem mais, se Deus quiser! (RL)