Fátima (RV) – O bispo de Leiria-Fátima defendeu, neste domingo, a necessidade
de uma “nova cultura” diante do atual momento de crise internacional, lamentando a
excessiva preocupação com “os mercados”.
Dom Antônio Marto, que falava aos
jornalistas na apresentação da peregrinação anual de maio ao Santuário de Fátima,
disse que este local é uma “pátria espiritual do coração humano”, no qual se mostra
que “não bastam as leis do mercado”, porque “a humanidade não foi criada para servir
aos mercados”.
O “santuário de paz” acrescentou, vai lembrar em particular
as “zonas de conflito doloroso e mesmo trágico”, em particular a Síria e vários países
africanos, incluindo a Guiné-Bissau.
O prelado falou de um “mundo ferido e
vulnerável, marcado por uma cultura do desencanto, esgotada”, a que contrapôs Fátima
como “lugar de encontro, de comunhão, não só das pessoas, mas também de culturas,
unidas todas pela beleza da celebração da mesma fé”.
A peregrinação internacional
de maio é este ano presidida pelo Cardeal Gianfranco Ravasi, do Conselho Pontifício
para a Cultura (CPC), organismo da Santa Sé, e tem como tema ‘Eis a serva do Senhor’.
O
cardeal italiano revelou, na coletiva de imprensa, a sua intenção de aludir à figura
da “feminilidade”, da “mulher no interior da cultura católica”, um tema com “desenvolvimentos
cada vez mais complexos”.
Falando de Fátima como “lugar materno da cultura
contemporânea” – expressão que tinha sido citada pelo bispo de Leiria-Fátima – Cardeal
Ravasi evocou Goethe e Nietzsche para sublinhar a importância do cristianismo na cultura
europeia.
O presidente do CPC disse que "Fátima deve ser considerada como lugar
de fé e também como um lugar de cultura", porque esta "não é apenas a produção artística,
mas é também a experiência de um povo".
“Uma experiência como aquela que se
vive através das velas, símbolo de luz, através dos lenços, símbolos brancos, através
da procissão ou da peregrinação, também são símbolos de cultura”, precisou.
Neste
contexto, o Cardeal Ravasi sublinhou a necessidade de repensar a questão da “comunicação
da fé”, que é feita em lugares como Fátima ainda de “maneira tradicional”.
“Temos
de começar a recordar que existe outra via, que a da comunicação informática”, declarou
o responsável, ele próprio um utilizador habitual da rede social Twitter, onde tem
cerca de 20 mil seguidores.
“O modo de comunicar a fé deve ter uma nova gramática,
para além do modo tradicional”, acrescentou, convidando à presença dos santuários
e das dioceses católicas na internet.
O membro da Cúria Romana frisou também
a importância dos santuários como lugares de peregrinação, referindo que “o mundo
atual vive quase sempre em lugares de dispersão, nos quais domina a palavra múltipla,
que já não tem consistência”.
Segundo o cardeal, cada peregrino deveria promover
"uma operação de mudança profunda, em particular através do silêncio, do silêncio
‘branco’, que não é apenas a ausência de palavras, mas a interioridade".