Cidade do Vaticano (RV) - A exploração
sexual, o trabalho escravo e roubo de órgãos são os crimes com maior taxa de crescimento
em todo o mundo: afirmação que vem das Nações Unidas. No início desta semana, o Pontifício
Conselho da Justiça e da Paz promoveu uma Conferência Internacional sobre o tráfico
de seres humanos. Um encontro organizado em parceria com o Departamento para as Políticas
Migratórias da Conferência Episcopal da Inglaterra e Gales. Foi mais um evento na
tentativa de iniciar um processo de colaboração entre Igrejas, polícias e organizações
internacionais para lutar contra esse fenômeno. Os números do terrível fenômeno falam
por si: Segundo um documento divulgado pelo Pontifício Conselho, as pessoas vítimas
do tráfico seriam dois milhões e 400 mil. Deste número, 79% é explorado com fins sexuais.
Os
bilhões de pobres e miseráveis que caminham errantes neste mundo são o exército onde
organizações encontram “a sua matéria prima”, na maioria mulheres e crianças, dois
grupos mais vulneráveis ao tráfico de seres humanos, um crime transnacional cometido
por redes difíceis de desmantelar. O tráfico de seres humanos é um atentado ao direito
do ser humano e uma forma de escravidão alicerçada em lógicas de exploração sexual
e de trabalho, tudo isso ligado a fenômenos sociais como a pobreza e a exclusão social.
Segundo
estimativas de organizações que combatem esse flagelo, como “Juntos contra o tráfico
de seres humanos”, o tráfico de pessoas é o terceiro comércio ilegal mais lucrativo,
depois do tráfico de armas e de drogas, gerando 27 bilhões de euros anuais.
Para
diversas entidades envolvidas no combate, sendo um fenômeno de cariz transnacional,
é necessária uma intervenção articulada entre os diversos países (de origem e de destino
das pessoas traficadas), através de prevenção, repressão e mecanismos de apoio às
vítimas.
A Conferência promovida no Vaticano centralizou-se na prevenção,
no suporte pastoral e na reabilitação das vítimas, recordando os esforços da comunidade
internacional em criar leis, acordos para combater este fenômeno. Mas apesar disso,
o problema persiste. Para o Presidente do Pontifício Conselho, Cardeal Peter Kodwo
Appiah Turkson, as leis nacionais e os acordos internacionais são necessários, mas
não suficientes para derrotar este flagelo. “A promoção dos direitos fundamentais
da pessoa, de cada pessoa, é uma tarefa que exige em primeiro lugar a conversão dos
corações”.
É preciso investir numa educação autêntica das pessoas, principalmente
dos grupos mais vulneráveis. É necessária uma ordem internacional mais justa, para
que a pobreza e o subdesenvolvimento deixem de constituir um terreno fértil em que
os traficantes possam encontrar potenciais vítimas.
A Igreja sempre esteve
e estará ao lado dos que sofrem e são explorados trabalhando não só diretamente com
as pessoas, mas também analisando, identificando as rotas deste fenômeno.
Damos
eco às palavras do Cardeal Turkson “não podemos ceder ao desconforto. Se de um lado
há quem tenta se enriquecer explorando a vida das pessoas, de outro existe outra humanidade,
feita de homens e mulheres que todos os dias consagram suas vidas na luta contra o
flagelo do tráfico de seres humanos”.
O tráfico de seres humanos viola os direitos
fundamentais das pessoas e é essencial que se desenvolva um trabalho de intervenção
para que este tipo de crime deixe de existir. (Silvonei José)