Card. Hummes revela bastidores da aprovação diocesana do Shalom
Cidade
do Vaticano (RV) – O Cardeal Claudio Hummes, Prefeito emérito da Congregação para
o Clero, presidiu quarta-feira dia 9, na Basílica de São João de Latrão, a missa
de profissão das promessas definitivas no carisma Shalom para os membros missionários
de diversos países.
O percurso institucional da comunidade nascida em Fortaleza
teve início em 1982 com o Cardeal Aloísio Lorscheider, então arcebispo de Fortaleza,
e amadureceu com o apoio do Cardeal Hummes, que aprovou em 1998 os primeiros estatutos
da associação, na época teve caráter apenas diocesano, não obstante a comunidade tivesse
já dado frutos de missão em outras dioceses do Brasil.
Em entrevista exclusiva
à RV (ouça clicando acima), Dom Claudio revela um episódio dos bastidores daquela
aprovação:
“Conheci a Comunidade Católica Shalom em Fortaleza, quando fui
nomeado arcebispo em 1996. Para mim foi uma bela surpresa, porque era uma organização
de leigos - embora tenha também sacerdotes - fundada por leigos e que tinha uma presença
muito forte também na cidade de Fortaleza. Eles eram capazes de mover a cidade em
termos de agilização, de celebração. Eles enchiam o Castelão, o grande estádio de
futebol que só o Papa JPII conseguiu encher. Eles o lotavam em suas concentrações
chamadas “Queremos Deus” e ficava gente de fora, sem conseguir entrar. Era algo absolutamente
extraordinário. Na época era um movimento, hoje é uma Associação Católica de fiéis.
São de origem, corte e perfil carismático. Fui, é claro, conhecê-los e participar
dessas concentrações enormes, e fui vendo como eles tinham realmente um conteúdo muito
autêntico, de muita comunhão com a Igreja, porque eram muito unidos ao Cardeal Aloísio
Lorscheider, que foi o meu predecessor. Eram muito estimados por todo lado, inclusive
pelo clero, que os acolhia muito bem. Faziam um intenso trabalho de evangelização:
eles iam ao povo sem esperar que o povo se aproximasse – o que é uma característica
destes novos movimentos. Pouco a pouco, tive este relacionamento muito bom com eles,
pastoral.
“Estive em Fortaleza apenas 21 meses, um ano e nove meses.
Eles já existiam há mais tempo, mas não estruturados, organizados em forma canônica
e jurídica. Eles estavam preparando os estatutos, já tinham muitos textos, uma regulamentação
interna, mas para ser uma Associação reconhecida pela Igreja – como desejavam – era
preciso o reconhecimento da diocese, primeiramente”.
“Eles estavam
preparando isto. Não estava marcado quando seria o reconhecimento da parte minha,
como Arcebispo. Aí, o Vaticano me informou de que o Papa havia me transferido para
São Paulo e isto era uma segredo. Por 30 dias, só na publicação, é que poderia falar
disso. Mas eu queria assinar o reconhecimento como Arcebispo. Foi um momento muito
interessante, porque aí comecei a pressionar o fundador Moisés e a co-fundadora, Emir.
Eu dizia: “apresse isso, porque eu preciso rápido”. E Moisés ficou meio intrigado.
Eles tinham ainda que tomar uma série de providências para se tornar Associação. Tinham
que fazer uma Assembleia, uma ata assinada pelos futuros membros. Enfim, aprovar os
estatutos que deviam apresentar para ser aprovados. E eu dizia: “preciso disso antes
da Páscoa, porque sabia que na 4ª feira depois da Páscoa seria anunciada a minha transferência.
Então, eles apressaram tudo e fizeram a documentação. Então, no Domingo de Páscoa
assinei o reconhecimento diocesano desta Associação de Fiéis. Eles ficaram muito felizes,
tinham feito tudo muito bem. Eram, e ainda são, milhares. Foi uma grande festa. Três
dias depois, souberam que havia sido transferido, e puderam entender o porque da minha
pressa”.