Comportamento e fé: as pazes com a teoria evolutiva
Cidade do Vaticano
(RV) - A maioria dos jovens brasileiros vive em paz com suas crenças religiosas
e a ciência da teoria evolutiva. Essa é a conclusão de uma pesquisa realizada com
dois mil e 300 alunos do ensino médio no Brasil, coordenada pelo professor Nelio Bizzo,
da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Especial Saúde de hoje
fala sobre comportamento e fé.
A pesquisa, veiculada pelo jornal Estado de
São Paulo, mostra que os jovens brasileiros têm fé em Deus e, ao mesmo tempo, concordam
com as premissas estabelecidas por Charles Darwin. Darwin teorizara, mais de 150 anos
atrás, que todas as espécies da Terra - incluindo o homem - evoluíram de um ancestral
comum por meio da seleção natural.
Os entrevistados tinham uma média de 15
anos de idade, estudantes de escolas privadas e públicas de todo o país, e foram submetidos
a um questionário sobre religião e ciência. De acordo com o coordenador do projeto,
os dados têm representatividade nacional sobre o assunto para essa faixa populacional.
Para Bizzo, os resultados são surpreendentes, pois mostram que, no futuro, a população
tenderá a uma interpretação mais elástica das doutrinas religiosas e mais sensível
no que concerne a ciência.
Dos entrevistados, 52% são católicos e 29% evangélicos,
enquanto 7,5% declararam-se sem religião. Vamos então a alguns números: mais de 70%
se consideram pessoas religiosas e acreditam nas doutrinas de sua religião; mais de
70% dizem que a religião não impede que se aceite a evolução biológica; 58% concluem
que sua fé não contradiz as teorias científicas atuais; e cerca de 64% concordaram
que “as espécies atuais de animais e plantas se originaram de outras espécies do passado”.
O
ponto mais delicado e que mostrou maiores divisões diz respeito à evolução do ser
humano e à origem da vida. 43% concordam e outros exatos 43% discordam que a vida
surgiu naturalmente na Terra por meio de “reações químicas que transformaram compostos
inorgânicos em orgânicos”. 44% concordam e 45% discordam que “o ser humano se originou
da mesma forma como as demais espécies biológicas”.
E quando falamos em opiniões,
estamos falando em pensamento e estruturas cognitivas que nos levam a ver e julgar
as coisas de diferentes formas. Sempre no tema das religiões e comportamento, portanto,
uma publicação da edição passada da revista Science mostrou que pensar de forma analítica
reduz a fé em Deus.
Pesquisadores da Universidade da Colúmbia Britânica,
no Canadá, submeteram cerca de 180 alunos de graduação a uma bateria de testes e questionários
e descobriram que, ao forçar os estudantes a pensar de forma mais analítica sobre
algum assunto, esse raciocínio influenciava a sua fé, tornando-os menos religiosos.
A
explicação seria a de que o cérebro humano tem dois “modus operandi”, duas estruturas
de funcionamento para processar informações e tomar decisões: um mais intuitivo e
outro mais analítico. Muito resumidamente, os estudos teriam mostrado que as pessoas
que resolvem as questões do modo intuitivo são mais propensas à religiosidade que
aquelas que decidem de modo analítico.
A Igreja hoje está mais aberta à possibilidade
de que “o Evolucionismo seja mais do que uma simples teoria”, como já afirmara João
Paulo II. Isso, contudo, deve ser entendido dentro de uma perspectiva na qual a possibilidade
de uma veracidade do processo evolutivo não exclua a ação de Deus.
E esse
Especial Saúde, sobre comportamento e fé, vai ficando por aqui. Deixando o pensamento
vagar pelos mistérios do céu e da terra. (ED)