2012-05-06 13:12:38

Amar sem medida


Rio de Janeiro (RV) - Os frutos do encontro com o Senhor são justamente os frutos da caridade. O ramo para dar fruto precisa estar unido à ao tronco, como nos recorda o evangelho deste domingo. E para dar frutos necessitamos ainda de podas para produzirmos mais. São comparações simples de imensa profundidade que lemos neste final de semana. E esse amor não pode ser só de palavras e de boca, mas com ações e de verdade!

Nós definimos a todos como amigos: aparentemente nós temos muitos, talvez demasiado, mas quando olhamos para nós: “Filhinhos, não amemos somente com palavras e de boca, mas com ações e de verdade! Aí está o critério para saber que somos da verdade e para sossegar diante dele o nosso coração, pois, se o nosso coração nos acusa, Deus é maior que o nosso coração e conhece todas as coisas. Caríssimos, se o nosso coração não nos acusa, temos confiança diante de Deus. E qualquer coisa que pedimos recebemos Dele, porque guardamos os seus mandamentos e fazemos o que é do seu agrado. Este é o seu mandamento: que creiamos no nome do seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, de acordo com o mandamento que Ele nos deu. Quem guarda os seus mandamentos permanece com Deus e Deus permanece com ele. Que Ele permanece conosco, sabemo-lo pelo Espírito que Ele nos deu." (1 Jo 3, 18-24). Estas palavras são tão claras, que não teriam sequer necessidade de comentários: o mandamento de Deus é que amemos todos os homens, sem exceção, todos aqueles que o Senhor coloca em nosso caminho. Devemos tornar-nos capazes de "amar por obra e em verdade".

Temos diante de nós irmãos que sofrem de falta de moradia, esperança e até mesmo de dignidade. Embora sejam infinitas as cruzes da vida, nossas palavras são aceitas na medida em que forem acompanhadas de fatos. E a Igreja desde os seus inícios procura, como consequência do amor ao próximo praticar o bem com inúmeras atividades. Descobrimos. Para todos e cada um de nós é sempre hora de amar, "não com palavras, mas com ações". Amor, para nós cristãos, tem a sua origem, não só do mandamento: "Amai-vos como eu vos amei", mas o mesmo Pai, ou seja, como vivemos a nossa relação com Deus. A frase atribuída a São Bernardo, dizendo que a medida do amor é amar sem medida, hoje é muito atual. Deve ser consequência da experiência de nossa ligação com o tronco, com a vida em Cristo.

É o que Jesus nos fala neste final de semana. João escreve no Evangelho: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que em mim não dá fruto Ele o corta; e todo ramo que dá fruto, Ele o limpa, para que dê mais frutos ainda. Vós já estais limpos por causa da palavra que eu vos falei. Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permaneceu em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Quem não permanecer em mim será lançado fora como um ramo e secará. Tais ramos são recolhidos, lançados no fogo e queimados. Se permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes e vos será dado. Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos."(Jo 15, 1-18). Essa é uma palavra desafiadora de Deus para nós.

Paulo VI escreveu em 21 de agosto de 1964: "A vida cristã é como um sol que brilha sobre todos os nossos dias. Meus filhos, se este fosse o único fim para sair, o que você iria perder? Alguns dizem: nada. Mas você perde o sentido da vida. Por que trabalhar? Por que amar os outros? Por que ser bom, ser honesto? Por que sofremos? Por que viver, por que morrer, se há uma esperança sobre esta nossa vida peregrina sobre a terra? Cristã é uma vida imersa no amor do Pai – vale repetir – para dar significado, valor, dignidade, liberdade, alegria, amor à nossa passagem na Terra. Este convite paterno: "Permanecei em mim e eu em vós, quero ser como um grito poderoso que deve permanecer como um aviso. Devemos agora perguntar-nos com generosidade de intenções: o que significa, antes de tudo, o nosso “ser cristãos”? Isso significa perceber e se envolver, de que somos amados por Deus, de que existe quem de lá em cima nos ama; que age com sua providência sobre nós, o amor do Pai olha para nós, reveste-nos de infinita ternura. Este amor se faz irmão pelas nossas ruas, sofre a nossa angústia, fala a nossa língua, chega a se aproximar de nós para curar, para nos ensinar e tornar claro para todos: Eu sempre estarei convosco, sou aquele que é o Princípio e que é o Fim; Eu sou o seu pão, nosso Mestre, nossa força e nosso guia". Pode o Pai dizer mais para expressar o seu amor? Precisamos então saber que não podemos viver para nós mesmos, por nossos interesses pequenos e estreitos, mas é preciso amar não somente em palavras, mas em gestos: isso só é possível se nos permanecermos cada dia em Deus. Uma utopia? Não. A única regra de vida aqui, saboreando a doçura de ser amado por Aquele que é o amor, e amando ao próximo como Ele nos ensinou.

† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ







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