Rio de Janeiro (RV) - Os frutos do encontro com o Senhor são justamente os
frutos da caridade. O ramo para dar fruto precisa estar unido à ao tronco, como nos
recorda o evangelho deste domingo. E para dar frutos necessitamos ainda de podas para
produzirmos mais. São comparações simples de imensa profundidade que lemos neste final
de semana. E esse amor não pode ser só de palavras e de boca, mas com ações e de verdade!
Nós definimos a todos como amigos: aparentemente nós temos muitos, talvez
demasiado, mas quando olhamos para nós: “Filhinhos, não amemos somente com palavras
e de boca, mas com ações e de verdade! Aí está o critério para saber que somos da
verdade e para sossegar diante dele o nosso coração, pois, se o nosso coração nos
acusa, Deus é maior que o nosso coração e conhece todas as coisas. Caríssimos, se
o nosso coração não nos acusa, temos confiança diante de Deus. E qualquer coisa que
pedimos recebemos Dele, porque guardamos os seus mandamentos e fazemos o que é do
seu agrado. Este é o seu mandamento: que creiamos no nome do seu Filho, Jesus Cristo,
e nos amemos uns aos outros, de acordo com o mandamento que Ele nos deu. Quem guarda
os seus mandamentos permanece com Deus e Deus permanece com ele. Que Ele permanece
conosco, sabemo-lo pelo Espírito que Ele nos deu." (1 Jo 3, 18-24). Estas palavras
são tão claras, que não teriam sequer necessidade de comentários: o mandamento de
Deus é que amemos todos os homens, sem exceção, todos aqueles que o Senhor coloca
em nosso caminho. Devemos tornar-nos capazes de "amar por obra e em verdade".
Temos
diante de nós irmãos que sofrem de falta de moradia, esperança e até mesmo de dignidade.
Embora sejam infinitas as cruzes da vida, nossas palavras são aceitas na medida em
que forem acompanhadas de fatos. E a Igreja desde os seus inícios procura, como consequência
do amor ao próximo praticar o bem com inúmeras atividades. Descobrimos. Para todos
e cada um de nós é sempre hora de amar, "não com palavras, mas com ações". Amor, para
nós cristãos, tem a sua origem, não só do mandamento: "Amai-vos como eu vos amei",
mas o mesmo Pai, ou seja, como vivemos a nossa relação com Deus. A frase atribuída
a São Bernardo, dizendo que a medida do amor é amar sem medida, hoje é muito atual.
Deve ser consequência da experiência de nossa ligação com o tronco, com a vida em
Cristo.
É o que Jesus nos fala neste final de semana. João escreve no Evangelho:
“Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que em mim não dá
fruto Ele o corta; e todo ramo que dá fruto, Ele o limpa, para que dê mais frutos
ainda. Vós já estais limpos por causa da palavra que eu vos falei. Permanecei em mim
e eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer
na videira, assim também vós não podereis dar fruto se não permanecerdes em mim. Eu
sou a videira e vós os ramos. Aquele que permaneceu em mim, e eu nele, esse produz
muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Quem não permanecer em mim será lançado
fora como um ramo e secará. Tais ramos são recolhidos, lançados no fogo e queimados.
Se permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes
e vos será dado. Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus
discípulos."(Jo 15, 1-18). Essa é uma palavra desafiadora de Deus para nós.
Paulo
VI escreveu em 21 de agosto de 1964: "A vida cristã é como um sol que brilha sobre
todos os nossos dias. Meus filhos, se este fosse o único fim para sair, o que você
iria perder? Alguns dizem: nada. Mas você perde o sentido da vida. Por que trabalhar?
Por que amar os outros? Por que ser bom, ser honesto? Por que sofremos? Por que viver,
por que morrer, se há uma esperança sobre esta nossa vida peregrina sobre a terra?
Cristã é uma vida imersa no amor do Pai – vale repetir – para dar significado, valor,
dignidade, liberdade, alegria, amor à nossa passagem na Terra. Este convite paterno:
"Permanecei em mim e eu em vós, quero ser como um grito poderoso que deve permanecer
como um aviso. Devemos agora perguntar-nos com generosidade de intenções: o que significa,
antes de tudo, o nosso “ser cristãos”? Isso significa perceber e se envolver, de que
somos amados por Deus, de que existe quem de lá em cima nos ama; que age com sua providência
sobre nós, o amor do Pai olha para nós, reveste-nos de infinita ternura. Este amor
se faz irmão pelas nossas ruas, sofre a nossa angústia, fala a nossa língua, chega
a se aproximar de nós para curar, para nos ensinar e tornar claro para todos: Eu sempre
estarei convosco, sou aquele que é o Princípio e que é o Fim; Eu sou o seu pão, nosso
Mestre, nossa força e nosso guia". Pode o Pai dizer mais para expressar o seu amor?
Precisamos então saber que não podemos viver para nós mesmos, por nossos interesses
pequenos e estreitos, mas é preciso amar não somente em palavras, mas em gestos: isso
só é possível se nos permanecermos cada dia em Deus. Uma utopia? Não. A única regra
de vida aqui, saboreando a doçura de ser amado por Aquele que é o amor, e amando ao
próximo como Ele nos ensinou.
† Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo
Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ