Pontifícia Academia das Ciências Sociais dedica plenária à "Pacem in terris"
Cidade do Vaticano (RV) - A célebre encíclica de João XXIII Pacem in terris
norteará os trabalhos da 18º plenária da Pontifícia Academia das Ciências Sociais,
aberta esta sexta-feira e que prosseguirá até a próxima terça-feira, dia 1º de maio.
A Rádio Vaticano pediu à Presidente da Academia, Dra. Mary Ann Glendon – que abriu
os trabalhos da plenária –, que nos ilustrasse a finalidade do encontro deste ano
e a atualidade de pensamento da Pacem in terris:
Dra. Mary Ann Glendon:-
"Como o Papa repetiu várias vezes, a paz é uma coisa que deve ser construída e conquistada
em todas as gerações. Nesta Conferência temos reunido pessoas do mundo financeiro
– como o Presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi – que falarão sobre os
graves problemas em âmbito econômico. Esperamos, no final dessa Conferência, poder
ter uma idéia dos sinais de esperança que essas pessoas podem dar-nos, o que poderão
dizer-nos sobre as novas forças e novas idéias, sobretudo daquilo que nos dizer respeito.
Ou ainda, qual pode ser o papel da religião na busca daquela tranqüilidade da ordem
que é a paz."
RV: Um dos problemas principais que apareceram nestes últimos
anos, no âmbito financeiro e político, é o decaimento da moralidade global. Como a
Pacem in terris pode ajudar os líderes a encontrar uma nova interpretação da moralidade
a ser aplicada em seus campos específicos?
Dra. Mary Ann Glendon:-
"Creio recordar-me que pouco antes do Concílio Vaticano II, João XXIII dissesse coisas
que somente hoje conseguimos compreender melhor do que fora possível na época. Uma
delas afirma que são, sobretudo, "todas as pessoas de boa vontade" que têm a tarefa
de construir a paz – hoje diríamos, substancialmente os leigos, no que diz respeito
à Igreja. Podemos lembrar que já na época ele dizia que a Igreja não indica políticas
ou programas específicos: a Igreja indica alguns princípios gerais e nos pede que
os façamos de modo que eles sejam vividos em qualquer parte do mundo e em qualquer
âmbito da sociedade em que nos encontremos. Portanto, penso que a mensagem da Pacem
in terris se revele por ser não uma nova teoria de matiz católica das relações internacionais,
ou uma nova teoria de moralidade internacional, mas, sobretudo, uma mensagem para
todos os homens e as mulheres de boa vontade, no mundo inteiro, a fim de que busquem
neles mesmos e dentro de suas tradições os recursos para construir a paz."
RV:
Seguindo esse percurso será possível se alcançar uma governança global, ou se trata
simplesmente de um ideal que não podemos realizar concretamente?
Dra.
Mary Ann Glendon:- "Creio que a grande contribuição do pensamento social
católico nesse campo, que nós definimos como "subsidiariedade", é que existem determinadas
coisas que se conseguem melhor quando são colocadas na prática estando o mais próximo
possível das pessoas atingidas por essas decisões. Portanto, é preciso ser ter muito
cuidado quando se fala de governança global e considerar que é necessário desenvolver
abordagens internacionais ou transnacionais àqueles problemas que não podem ser tratados
em nível de responsabilidade em esfera inferior. Não há nada no pensamento católico
que compreenda o governo mundial." (RL)