Nova Evangelização: "Evangelii Nuntiandi" e evangelizadores artífices da unidade
Cidade do
Vaticano (RV) - Amigo ouvinte, voltamos ao nosso encontro semanal dedicado à nova
evangelização, questão prioritária para a Igreja em nossos dias. Neste nosso espaço
temos recorrido a alguns documentos magisteriais pertinentes à missionariedade da
Igreja. Nesse sentido, prosseguimos – prestes a concluir – nossa revisitação à Evangelii
Nuntiandi, Exortação Apostólica pós-sinodal do Papa Paulo VI, de 1975.
De
fato, estamos nos ocupando do 7º e último capítulo do documento magisterial que deu
um notável dinamismo à ação evangelizadora da Igreja nas décadas seguintes. Na edição
passada trouxemos o nº 76, que tem como título "Testemunhas autênticas".
Atendo-nos
ao espírito da evangelização de que trata o capítulo VII, e considerando o precedentemente
exposto no nº 76, podemos dizer, a título de breve comentário, que a evangelização
se faz no respeito pelas pessoas. É importante que o anúncio seja uma verdadeira notícia
e que os evangelizadores não se mostrem "super homens ou super mulheres", mas certos
de serem pecadores perdoados por Deus, não tenham vergonha em mostrar as suas vulnerabilidades
e estejam atentos a cada pessoa no sentido de evitar manipulá-las: admoestação que
serve para todo aquele que se apresenta qual evangelizador como testemunha autêntica
do Evangelho.
Mas voltemos agora à nossa revisitação à Exortação Apostólica,
passando ao nº 77, que tem como título "Artífices da unidade". Diz o texto:
77.
"A força da evangelização virá a encontrar-se muito diminuída se aqueles que anunciam
o Evangelho estiverem divididos entre si, por toda a espécie de rupturas. Não residirá
nisso uma das grandes adversidades da evangelização nos dias de hoje? Na realidade,
se o Evangelho que nós apregoamos se apresenta vulnerado por querelas doutrinais,
polarizações ideológicas, ou condenações recíprocas entre cristãos, ao capricho das
suas maneiras de ver diferentes acerca de Cristo e acerca da Igreja e mesmo por causa
das suas concepções diversas da sociedade e das instituições humanas, como não haveriam
aqueles a quem a nossa pregação se dirige vir a encontrar-se perturbados, desorientados,
se não escandalizados? O testamento espiritual do Senhor diz-nos que a unidade
entre os fiéis que o seguem, não somente é a prova de que nós somos seus, mas também
a prova de que ele foi enviado pelo Pai, critério de credibilidade dos mesmos cristãos
e do próprio Cristo. Como evangelizadores, nós devemos apresentar aos fiéis de
Cristo, não já a imagem de homens divididos e separados por litígios que nada edificam,
mas sim a imagem de pessoas amadurecidas na fé, capazes de se encontrar para além
de tensões que se verifiquem, graças à procura comum, sincera e desinteressada da
verdade. Sim, a sorte da evangelização anda sem dúvida ligada ao testemunho de unidade
dado pela Igreja. Nisto há de ser vista uma fonte de responsabilidade, como também
de reconforto. Quanto a este ponto, nós quereríamos insistir sobre o sinal da unidade
entre todos os cristãos, como via e instrumento da evangelização. A divisão dos cristãos
entre si é um estado de fato grave, que chega a afetar a própria obra de Cristo. O
Concílio Ecumênico Vaticano II afirma com justeza e com firmeza que ela "prejudica
a santíssima causa de pregar o Evangelho a toda a criatura e fecha a muitos o acesso
à fé".(123) Por isso mesmo, ao proclamar o Ano Santo consideramos necessário recordar
a todos os fiéis do mundo católico que "a reconciliação de todos os homens com Deus,
nosso Pai, pressupõe o estabelecimento da comunhão plena entre aqueles que já reconheceram
e acolheram, pela fé, Jesus Cristo como o Senhor da misericórdia, que liberta todos
os homens e os une no Espírito de amor e de verdade".(124) É com um grande sentimento
de esperança que nós vemos os esforços que estão a ser envidados no mundo cristão
para tal recomposição da plena unidade querida por Cristo. E São Paulo assegura-nos
que "a esperança não desilude".(125) Assim, ao mesmo tempo que continuamos a trabalhar
a fim de obter do Senhor a plena unidade, queremos que se intensifique a oração nesse
mesmo sentido. Ademais fazemos nosso o voto dos Padres da terceira Assembléia Geral
do Sínodo dos Bispos, isto é, que se colabore com maior empenho com os irmãos cristãos
com os quais não estamos ainda unidos por uma comunhão perfeita, baseando-se sobre
o fundamento do batismo e sobre o patrimônio de fé que é de todos, para dar daqui
por diante mais amplo testemunho comum de Cristo diante do mundo. A isso nos impele
o mandamento do Cristo, exige-o a obra de pregar e de dar testemunho do Evangelho."
Amigo
ouvinte, por hoje é só. Semana que vem tem mais, se Deus quiser! Até lá! (RL)