Card. Hummes: "Dialogar com a religiosidade dos povos indígenas"
Aparecida (RV) - Na coletiva de imprensa da 50ª AG dos bispos da CNBB, o arcebispo
emérito de São Paulo e Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia da CNBB, Cardeal
Cláudio Hummes. Na ocasião, afirmou que “a fé tem um caráter missionário”, e falou
sobre os desafios de levar a evangelização a povos longínquos da Amazônia como ribeirinhos,
povos da floresta e indígenas.
O cardeal ressaltou que um dos desafios da missão
evangelizadora é a falta de uma constante formação de clero local nessas comunidades
da floresta. “Existe uma dificuldade cultural de se formar padres nessas localidades”
- disse Dom Cláudio Hummes. De acordo com o cardeal, mesmo entre os índios católicos,
que fazem parte da Igreja há três ou quatro gerações, é complexa a tarefa de formação
de sacerdotes.
“Na igreja, a cultura europeia tem uma preponderância muito
grande, então como um índio, por exemplo, se sente em um seminário, onde a grande
maioria são brancos e há poucos índios? Obviamente eles não se sentem em casa” - explica.
Além da questão cultural, para ele, há a necessidade de se destinar mais verbas para
os povos da Amazônia. “Como acolher as vocações se os recursos são escassos?” - questiona
o cardeal.
Para Dom Cláudio, é sempre um desafio quando duas culturas distintas
têm que coexistir. Com os índios, por exemplo, ele explica que a forma ideal de conviver
e de evangelizar é a partir do diálogo. “Temos que ouvir os povos indígenas. Eles
têm uma forma própria de entender a vida, tem sua religiosidade. É preciso dialogar
com esses elementos verdadeiros que eles possuem” - disse.
O Cardeal acredita
que é necessário fazer com que a fé no Evangelho amadureça nas localidades cristãs.
“A Igreja missionária deve inculturar a fé nas culturas onde se prega o Evangelho.
Uma fé não inculturada não é uma fé vivida e madura” - alega.
O arcebispo finalizou
dizendo que um dos grandes desafios é fazer com que a Amazônia avance sem perder sua
identidade: “Temos que atender os pedidos dos povos, ouvir suas necessidades. Eles
precisam ser ouvidos para serem sujeitos de sua própria história. Temos que fazer
com que a Amazônia progrida, porém mantendo sua particularidade” – disse.
O
Cardeal Cláudio Hummes fez um breve relato de sua viagem missionária à Amazônia, no
último mês:
“Fiquei impressionado. Pudemos ver com nossos próprios olhos as
dificuldades enfrentadas por aquele povo. Pude perceber que a Igreja lá ainda está
florescendo. Visitei a diocese de São Gabriel da Cachoeira (AM), e fique encantado,
pois, de acordo com informações locais, a diocese é formada por 98% de indígenas.
E a floresta, por lá, ainda é intocada, com apenas 4% de desmatamento. Uma verdadeira
beleza” - destacou Dom Cláudio Hummes. (CNBB-CM)