Apelo dos Bispos da Igreja Catolica na Guiné Bissau
(17/4/2012) “Bu ermon i kin ki ta kontau bardadi”! (“Teu irmão é aquele que te
diz a verdade”)
A todos os irmãos na fé em Jesus Cristo Ressuscitado e a
todos os homens e mulheres de boa vontade, presentes na Guiné-Bissau.
Dirigimos-vos
este nosso Apelo em momento de enorme responsabilidade para todos e de grande risco
para toda a população da Guiné-Bissau. Efectivamente, estamos colocados perante um
problema nacional de enorme gravidade e de consequências ainda imprevisíveis. Os sinais
explícitos de mal-estar vêm já de longe, mas alguns desses sinais manifestaram-se
mais fortemente durante o último acto eleitoral. De facto, houve ainda algum esforço
para, através dum diálogo franco e honesto, se ultrapassarem as dificuldades encontradas.
Infelizmente, o golpe de estado, do dia 12 do mês em curso, veio agravar a situação,
com toda a carga de riscos, de problemas e de sofrimentos para toda a população que
esta acção militar arrasta consigo.
Agora, diante do facto consumado em que
nos encontramos e das enormes interrogações com que todos somos confrontados, nós
os Bispos da Igreja Católica na Guiné-Bissau, queremos confiante e empenhadamente
dizer o seguinte:
Nós repudiamos claramente mais esta opção militar e todas
as formas de violência escolhidas para resolver os nossos problemas. Infelizmente,
na nossa história recente, tem-se recorrido várias vezes a golpes semelhantes, e os
resultados práticos estão à vista de todos: não se atingem as causas profundas das
crises e assiste-se ao aparecimento de novos conflitos. Com a violência das armas,
desorganizam-se as estruturas básicas da sociedade e termina-se por sacrificar toda
a população, que finalmente é quem mais sofre, sem poder entender bem porquê. Como
diz a sabedoria popular: “Ora ki lifantis na guéria, padja ki ta paga kulpa”! (“Quando
os grandes guerreiam entre si, os pequenos é que pagam as consequências”!).
Neste
momento de alto risco e de decisão, nós aconselhamos vivamente a todos os Guineenses
o seguinte:
a)- Que, antes de mais, façamos apelo à nossa fé comum, pois acreditamos
no Deus Criador e Pai que intervém para proteger, ajudar e ensina-nos a viver como
irmãos. Também agora, nesta situação particular, queremos elevar os nossos olhos para
esse Deus providente e misericordioso que nos há-de seguramente ouvir.
b)-
Que formemos correctamente a nossa consciência moral, de modo a promover e defender
o bem comum, e a evitar comportamentos negativos que têm prejudicado enormemente
a nossa convivência pacífica, nomeadamente: - a busca desenfreada e ilegal do
poder e da riqueza, - a corrupção, nas suas variadas formas, - a impunidade
perante os crimes cometidos, - a falta de transparência na gestão dos bens públicos,
- a espiral de violência, que leva à morte de várias pessoas, - o desleixo
generalizado no exercício da própria profissão, etc
c)- Que tenhamos um respeito
sagrado pelas leis da República e pelas instituições democraticamente eleitas.
d)
– Que o diálogo seja a via nobre a percorrer por todos na busca da reconciliação,
da justiça e da harmonia social.
Neste momento de particular dificuldade, queremos
também deixar um pedido à Comunidade Internacional: - Que ela continue a ajudar
a Guiné-Bissau a encontrar soluções mais apropriadas para a nossa situação actual
e para a tranquilidade e paz de toda a população.
A terminar, como Pastores
da Igreja Católica, queremos convidar todos os crentes a rezarem insistentemente a
Deus, para que conceda a sua paz e a sua bênção à nossa terra, e a todos “dê vida
e vida em abundância” (Jo 10,10).