A mensagem do Papa nas quatro homilias da Semana Santa
Cidade do Vaticano (RV) - Bento XVI concederá nesta quarta-ferira, na Praça
São Pedro, no Vaticano, a primeira audiência geral deste Tempo de Páscoa: na Semana
Santa, o Pontífice introduziu-nos neste período com quatro belíssimas homilias em
que recordou como a ressurreição de Cristo mudou definitivamente a condição do homem
e do mundo.
Repropomos, a seguir, algumas passagens das reflexões do Santo
Padre.
No domingo de Ramos, o Papa mostrou a compaixão de Deus pelo mundo:
Jesus não vem para condenar, mas para salvar. Assim somos convidados a termos um olhar
benevolente sobre a humanidade.
"O olhar que o fiel recebe de Cristo é o olhar
da bênção: um olhar sapiente e amoroso, capaz de colher a beleza do mundo e de partilhar
a sua fragilidade. Nesse olhar transparece o próprio olhar de Deus sobre os homens
que Ele ama e sua criação, obra de suas mãos."
O caminho da compaixão desilude
as expectativas humanas porque passa pela Cruz. Os próprios discípulos perdem o ânimo:
"somos chamados a seguir um Messias que não assegura uma felicidade terrena fácil,
mas a felicidade do céu, a beatitude de Deus."
Na Missa do Crisma, o Papa precisou
que a cruz requer "uma conformação a Cristo", uma renúncia "à tão almejada auto-realização"
para colocar-se a disposição de Jesus. E não hesitou a dizer que, nesse contexto,
a situação da Igreja é "muitas vezes dramática". Há, mesmo entre os sacerdotes, quem
quer renovar a Igreja através da desobediência. Mas o desobediente anuncia somente
a si próprio, enquanto a obediência é "o pressuposto de toda verdadeira renovação".
A
verdadeira obediência não é imobilismo, não é cega submissão, mas é criadora: basta
ver a renovação eclesial que na era pós-conciliar "muitas vezes assumiu formas inesperadas
em movimentos repletos de vida":
"E se olharmos para as pessoas, das quais
brotaram e brotam esses rios vicejantes de vida, vemos também que para uma nova fecundidade
são necessários ser repletos da alegria da fé, a radicalidade da obediência, a dinâmica
da esperança e a força do amor."
Tudo isso comporta o combate da fé. Na missa
da Ceia do Senhor o Papa indicou-nos Jesus que no Monte das Oliveiras "luta com o
Pai... luta consigo mesmo. E luta por nós" contra a sujeira que invade a humanidade.
A sua alma encontra-se angustiada:
"Vê a maré suja de toda a mentira e de toda
a infâmia que recai sobre Ele naquele cálice que deve beber. É a turvação do totalmente
Puro e Santo frente à torrente do mal deste mundo, que se lança sobre Ele. Vê-me também
a mim, e reza por mim... e toma sobre Si o pecado da humanidade, toma a todos nós
e leva-nos para junto do Pai."
Nessa luta Jesus pede ao Pai que Lhe afaste
esse cálice. Porém acrescenta: "Mas não se faça o que eu quero, e sim o que tu queres".
Desse modo cura a soberba do homem, que "é a verdadeira essência do pecado", que nos
faz crer sermos livres se formos independentes de todos, independentes também de Deus.
Mas
os cristãos – afirmou o Papa – "justamente enquanto ajoelhados" diante de Deus, "permanecem
de pé frente ao mundo". Somente quem depende de Deus é verdadeiramente livre.
Na
Vigília pascal o Papa nos mostrou como Cristo na Cruz destruiu o homem velho e soberbo
para fazê-lo renascer como nova criatura. A ressurreição é a nova luz que muda o mundo.
O homem, porém, é tentado por suas próprias capacidades a permanecer na escuridão
de seus pequenos horizontes:
"Nas coisas materiais sabemos e podemos realmente
muito, mas aquilo que vai além disso, Deus e o bem, não mais conseguimos identificar.
Por isso é a fé que nos mostra a luz de Deus, a verdadeira iluminação, ela é uma irrupção
da luz de Deus em nosso mundo, uma abertura dos nossos olhos para a verdadeira luz."
Por
fim, volta à compaixão. A luz de Deus não somente ilumina, não é fria, mas é fogo
que aquece. Os cristãos – concluiu o Pontífice – são chamados a difundir no mundo
o calor do amor e da bondade de Deus. (RL)