Frei Cantalamessa no Sermão da Sexta-feira Santa: "o paraíso prometido é a paz da
consciência"
Cidade do Vaticano (RV) – O Frei Raniero Cantalamessa abordou, no Sermão da
Sexta-Feira Santa, na Basílica de São Pedro, a Paixão de Cristo a partir de uma perspectiva
atual, contudo, à luz de fatos históricos.
“A liturgia 'renova' o evento: quantas
discussões, durante cinco séculos até hoje, sobre o sentido desta palavra, especialmente
quando é aplicada ao sacrifício da cruz e à Missa! Paulo VI usou um verbo que poderia
pavimentar o caminho para uma compreensão ecumênica sobre tal argumento: o verbo “representar”,
compreendido no sentido forte de reapresentar, ou seja, tornar novamente presente
e operante o acontecido”( Cf Paolo VI, Mysterium fidei (AAS 57, 1965, p. 753 ss).
Ao citar Santo Agostinho, Frei Cantalamessa reiterou que nesta Sexta-feira
Santa “não estamos apenas comemorando um aniversário, mas um mistério. É ainda Santo
Agostinho que explica a diferença entre as duas coisas. Na celebração “à maneira de
aniversário”, não se pede outra coisa – diz – mais do que “indicar com uma solenidade
religiosa o dia do ano no qual cai a lembrança do mesmo acontecimento”; na celebração
a modo de mistério (“em sacramento”), “não somente se comemora um acontecimento, mas
é feito também de tal forma que se entenda o seu significado e seja acolhido santamente”
(Agostinho, Epistola 55, 1, 2; CSEL 34, 1, p. 170).
Convidou ainda para uma
reflexão sobre o nosso compromisso diante da Paixão de Cristo.
“ Não se trata
somente de assistir a uma representação, mas de “acolher” o significado, de passar
de espectador a ator. Cabe a nós, portanto, escolher qual parte queremos representar
no drama, quem queremos ser: se Pedro, se Judas, se Pilatos, se a multidão, se o Cireneu,
se João, se Maria ... Ninguém pode permanecer neutro; não tomar partido, é tomar um
bem preciso: aquele de Pilatos que lava as mãos, ou da multidão que de longe "permanecia
lá, a olhar " (Lucas 23, 35).
Frei Cantalamessa ainda fez uma alusão à cena
de Cristo na Cruz ao lado do ladrão para interpretar o que Jesus disse a ele: “Hoje
estarás comigo no paraíso”. (Lc, 23, 43).
“Quanto réus confessos podem confirmar
que foi assim também para eles: que passaram do inferno ao paraíso no dia que tiveram
a coragem de arrepender-se e confessar a sua culpa. Eu também conheci alguns. O paraíso
prometido é a paz da consciência, a possibilidade de olhar-se no espelho ou olhar
para os próprios filhos sem ter que desprezar-se”.