Rio de Janeiro (RV) - Estamos na Sexta feira da Paixão! Hoje nos detemos na
Cruz de Jesus. A cruz é o lugar do “duelo maravilhoso” travado entre a vida e a morte,
entre o amor e o ódio, entre o fazer a própria vontade e o doar-se completamente.
A vitória da morte é só aparente. A vitória do pecado é efêmera. Aqui, na Cruz de
Jesus temos a certeza da vitória definitiva da vida, da vida plena que Ele quer nos
dar. A cruz é, sem sombra de dúvidas, o local de uma misteriosa coincidência
de contradições, já que uma execução sangrenta e terrível é superada pelo seu oposto:
a boa notícia da salvação. A cruz é, assim, a manifestação final e definitiva de um
amor mais forte, mais intenso. O grande dom da Cruz é converter a morte
em vida, em uma luta profunda do amor, o dom absoluto da obediência. Essa é a sua
força principal, e não somente nas dos pregos que se fincaram na dor de Jesus.
Na sua morte, Jesus vê a realização do plano da salvação e da unidade para todos os
filhos de Deus. Vemos na Cruz o símbolo de um amor que transforma o horror
em beleza e denuncia o pecado e o perdoa. Cristo revela, assim, a prova
definitiva de amor que a humanidade pode e deve ter ao seu Deus. A árvore do Édem
foi definitivamente vencida pela árvore da vida, como nos explicita o Evangelista
João. Essa deveria ser o sentido de colocarmos os crucifixos expostos
em nossas Igrejas e locais de culto. E assim, também, deveria ser refletido por muitos
que o querem retirar dos locais públicos. Mas, infelizmente, estes últimos só querem
ver na Cruz um símbolo de uma “religião”, e não o sinal do amor. Neste momento,
os jovens de todo o Brasil estão carregando a Cruz da Jornada Mundial da Juventude.
Ela passa em diversas e inúmeras comunidades de nossa Igreja, de norte a sul do país.
Levar a cruz significa que os jovens querem se tornar portadores da boa nova da salvação
e anunciar que o mundo pode ser melhor. Os jovens querem dizer ao mundo que a Cruz
é a maior prova do amor de Deus aos homens e mulheres de todos os tempos.
Quando
tocamos a cruz, nós tocamos no mistério de Jesus Cristo. Mas também tocamos o mistério
maravilhoso do amor de Deus, a única verdade realmente redentora do homem.
Sem a Cruz, sem o nosso sim à Cruz, sem caminhar dia após dia em comunhão com Jesus,
a profundidade de nossa existência humana fica prejudicada. Quanto mais
o jovem buscar o mistério da Cruz mais ele irá perceber a importância do amor de Deus,
e mais ele vai querer transmitir isso aos demais jovens. Perceberá que o amor é exigente.
Perceberá que o amor gera consequências na vida de qualquer pessoa. Perceberá que
a Cruz produz responsabilidades em sua estrutura de ser. Jesus convida-nos
a tomar a nossa própria cruz. Discípulo de Jesus é quem traz a cruz, a glória da cruz
do Senhor, e que a testemunha na sua vida. Nessa Páscoa, os jovens são
convidados a abrir os seus corações e a mente para recuperar o verdadeiro significado
da cruz, hoje. De olhar para uma outra perspectiva de vida, e de reconhecer na sociedade
sinais de morte: o egoísmo, a indiferença humana, a difusão da injustiça, o sexo livre,
as drogas e seus desdobramentos. E ao aliviar a dor do irmão que sofre, poderá ser
para ele sinal de ressurreição, de vida e de esperança. A Cruz compromete
todos nós, mas sobremaneira a juventude que, vendo nela essa contradição – vida e
morte – verá também na sociedade os sinais de esperança de que nem tudo está perdido,
e compreenderá o significado definitivo da ressurreição: a vida plena.
Peçamos também a Virgem Maria que nos acompanhe nestes dias do Tríduo Pascal. Dela
foi pedida a aceitação e a disponibilidade. Maria Santíssima tornou-se pronta para
a Cruz, que ela soube não terminaria no Gólgota. Sabia que a Cruz vinha compartilhada
de amor. Assim, a sua dor de Mãe abandonou-se na profundidade do amor de Deus.
Caminhemos rumo à Jornada Mundial da Juventude que será uma graça para a Igreja, e
especialmente para o nosso continente: o Brasil, nossa cidade e nossa Arquidiocese.
Vamos experimentar esse fabuloso encontro com Jesus. Precisamos revigorar a Igreja
com o frescor da juventude. † Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano
de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ