(25/3/2012) Senhores Cardeais, Amados Irmãos no Episcopado!Sinto uma grande alegria
em rezar com todos vós nesta Basílica-Catedral de León, dedicada a Nossa Senhora da
Luz. Na linda imagem que aqui se venera, a Virgem Santíssima segura o seu Filho com
grande ternura numa mão, enquanto estende a outra para socorrer os pecadores. Assim
contempla Maria a Igreja de todos os tempos, que A louva por nos ter dado o Redentor
e se entrega a Ela por ser a Mãe que o seu divino Filho, pregado na cruz, nos deixou.
Por isso, frequentemente A invocamos como «esperança nossa», porque nos mostrou Jesus
e duma forma simples – como se as explicasse aos pequenitos de casa – nos transmitiu
as maravilhas que Deus fez e continua a fazer pela humanidade. Um sinal decisivo
destas maravilhas no-lo oferece a Leitura Breve que foi proclamada nestas Vésperas.
Os habitantes de Jerusalém e os seus chefes não reconheceram Cristo, mas, ao condená-Lo
à morte, de facto cumpriram as palavras dos profetas (cf. Act 13, 27). É verdade!
A maldade e a ignorância dos homens não é capaz de travar o plano divino de salvação,
a redenção. O mal não tem poder para isso. Outra maravilha de Deus é-nos recordada
pelo segundo salmo que recitámos: o «rochedo» transforma-se «em lago e a pedra em
fonte de água» (Sal 113, 8). O que poderia ser pedra de tropeço e de escândalo, com
o triunfo de Jesus sobre a morte, convertera-se em pedra angular: «Tudo isto veio
do Senhor, é admirável aos nossos olhos» (Sal 117, 23). Por isso não há motivos para
render-se à prepotência do mal. E peçamos ao Senhor Ressuscitado que se manifeste
a sua força nas nossas fraquezas e faltas. Esperava ardentemente este encontro
convosco, Pastores da Igreja de Cristo que peregrina no México e nos restantes países
deste grande Continente, como uma ocasião para, juntos, contemplarmos Cristo que vos
confiou a importante tarefa de anunciar o Evangelho no meio destes povos de forte
tradição católica. Com certeza, a situação actual das vossas dioceses apresenta desafios
e dificuldades de origem muito diversa. Mas, sabendo que o Senhor ressuscitou, podemos
avançar confiadamente, seguros de que o mal não tem a última palavra na história e
de que Deus é capaz de abrir novos espaços a uma esperança que não desilude (cf. Rm
5, 5). Agradeço a cordial saudação que me dirigiu o Senhor Arcebispo de Tlalnepantla
e Presidente da Conferência Episcopal Mexicana e do Conselho Episcopal Latino-Americano,
fazendo-se intérprete e porta-voz de todos. E a vós, Pastores das diversas Igrejas
particulares, peço que, ao regressar às vossas sedes, transmitais aos vossos fiéis
o profundo afecto do Papa, que guarda no seu coração todos os seus sofrimentos e aspirações.
Ao ver espelhadas em vossos rostos as preocupações pela grei que apascentais,
vêm-me à mente as Assembleias do Sínodo dos Bispos quando os participantes aplaudem
a intervenção de alguém que exerce o seu ministério em situações particularmente dolorosas
para a vida e a missão da Igreja. Este gesto brota da fé no Senhor, significando fraternidade
nos trabalhos apostólicos, bem como gratidão e admiração pelos que semeiam o Evangelho
entre espinhos, uns sob a forma de perseguição, outros sob a forma de marginalização
ou desprezo. E não faltam preocupações também pela carência de meios e recursos humanos
ou com as limitações impostas à liberdade da Igreja no cumprimento da sua missão. O
Sucessor de Pedro compartilha estes sentimentos e agradece a vossa solicitude pastoral
paciente e humilde. Não estais sozinhos nem nas dificuldades, nem nos sucessos da
evangelização; todos estamos unidos nos sofrimentos e na consolação (cf. 2 Cor 1,
5). Sabei que ocupais um lugar particular na oração daquele que recebeu de Cristo
o encargo de confirmar na fé os seus irmãos (cf. Lc 22, 31), e que os encoraja na
missão de fazerem com que Nosso Senhor Jesus Cristo seja cada vez mais conhecido,
amado e seguido nestas terras, sem se deixarem atemorizar pelas contrariedades. A
fé católica marcou significativamente a vida, os costumes e a história deste Continente,
onde muitas das suas nações estão a comemorar o bicentenário da independência. É um
momento histórico sobre o qual continua a brilhar o nome de Cristo, trazido para aqui
por insignes e generosos missionários, que O proclamaram com coragem e sabedoria.
Eles arriscaram tudo por Cristo, mostrando que o homem encontra n’Ele a sua consistência
e a força necessária para viver em plenitude e edificar uma sociedade digna do ser
humano, como o quis o seu Criador. O ideal de não antepor nada ao Senhor e de fazer
com que a Palavra de Deus chegue a todos, valendo-se das características próprias
de cada um e das suas melhores tradições, continua a ser uma válida orientação para
os Pastores de hoje. As iniciativas que surgirem motivadas pelo Ano da Fé devem
ter como finalidade conduzir os homens a Cristo, cuja graça lhes permitirá deixar
as cadeias do pecado que os escraviza e avançar para a liberdade autêntica e responsável.
Para isto mesmo contribui também a Missão Continental promovida na Conferência de
Aparecida e que já tantos frutos de renovação eclesial está dando nas Igrejas particulares
da América Latina e do Caribe. Entre eles, contam-se o estudo, a difusão e a meditação
da Sagrada Escritura, que anuncia o amor de Deus e a nossa salvação. Neste sentido,
exorto-vos a continuardes a abrir os tesouros do Evangelho, a fim de que se transformem
em força de esperança, liberdade e salvação para todos os homens (cf. Rm 1, 16). E
sede também testemunhas e intérpretes fiéis da palavra do Filho encarnado, que viveu
para cumprir a vontade do Pai e, sendo homem com os homens, Se consumiu por eles até
à morte. Amados Irmãos no Episcopado, no horizonte pastoral e evangelizador que
se abre diante de nós, é de capital importância cuidar com grande atenção dos seminaristas,
encorajando-os a não se gloriarem de «saber outra coisa a não ser Jesus Cristo, e,
Este, crucificado» (1 Cor 2, 2). Não menos fundamental se apresenta a solidariedade
com os presbíteros, a quem nunca deve faltar a compreensão e o encorajamento do seu
Bispo e, se necessária, também a sua paterna admoestação sobre atitudes contraproducentes.
São os vossos primeiros colaboradores na comunhão sacramental do sacerdócio, aos quais
deveis manifestar vossa proximidade constante e privilegiada. O mesmo se diga das
diversas formas de vida consagrada, cujos carismas devem ser estimados com gratidão
e acompanhados com responsabilidade e respeito pelo dom recebido. E uma atenção cada
vez mais especial é devida aos leigos mais comprometidos na catequese, na animação
litúrgica, na acção caritativa e no compromisso social. A sua formação na fé é crucial
para tornar presente e fecundo o Evangelho na sociedade actual. E não é justo que
se sintam tratados como quem pouco conta na Igreja, apesar do entusiasmo que sentem
em trabalhar nela segundo a sua vocação própria, e o grande sacrifício que às vezes
lhes requer esta dedicação. Em tudo isto, é particularmente importante para os Pastores
que reine um espírito de comunhão entre sacerdotes, religiosos e leigos, evitando
divisões estéreis, críticas e suspeitas nocivas. Com estes ardentes desejos, convido-vos
a ser sentinelas que proclamam dia e noite a glória de Deus, que é a vida do homem.
Estai do lado de quem é marginalizado pela violência, pelo poder ou por uma riqueza
que ignora quem carece de quase tudo. A Igreja não pode separar o louvor de Deus do
serviço aos homens. O único Deus Pai e Criador é que nos constituiu irmãos: ser homem
é ser irmão e guardião do próximo. Neste caminho com toda a humanidade, a Igreja deve
reviver e actualizar o que foi Jesus: o Bom Samaritano que, vindo de longe, se integrou
na história dos homens, nos levantou e se prodigalizou pela nossa cura. Amados
Irmãos no Episcopado, a Igreja na América Latina, que muitas vezes se uniu a Jesus
Cristo na sua paixão, deve continuar a ser semente de esperança, que permita a todos
ver como os frutos da Ressurreição alcançam e enriquecem estas terras. Que a Mãe
de Deus, invocada com o título de Maria Santíssima da Luz, dissipe as trevas do nosso
mundo e ilumine o nosso caminho, para podermos confirmar na fé o povo latino-americano
nas suas fadigas e aspirações, com fidelidade, valentia e fé firme n’Aquele que tudo
pode e a todos ama sem medida. Amen.