Cerimonia de boas vindas no aeroporto de Guanajuato: discurso do Papa
(23/3/2012) Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Senhores Cardeais, Venerados
Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio, Distintas Autoridades, Amado povo de
Guanajuato e do México inteiro!
Sinto-me muito feliz por me encontrar aqui,
dando graças a Deus que me permitiu realizar o desejo, presente há muito tempo no
meu coração, de poder confirmar na fé o Povo de Deus desta grande nação, na sua própria
terra. É notória a veneração do povo mexicano pelo Sucessor de Pedro, que, por sua
vez, sempre o tem muito presente na sua oração. Apraz-me dizê-lo neste lugar, considerado
o centro geográfico do território nacional; aqui desejou vir o meu venerado predecessor,
o beato João Paulo II, já na sua primeira viagem. Não podendo fazê-lo, deixou então
uma mensagem de encorajamento e bênção, quando sobrevoava o seu espaço aéreo. Hoje
tenho a alegria de me fazer eco das suas palavras, em terra firme e no vosso meio:
Agradeço – dizia ele na sua mensagem – a estima pelo Papa e a fidelidade ao Senhor
dos fiéis do Bajío e de Guanajuato. Que Deus vos acompanhe sempre (cf. Telegrama,
30 de Janeiro de 1979). Juntamente com esta íntima lembrança, agradeço-lhe, Senhor
Presidente, a sua calorosa recepção e, com deferência, saúdo a sua distinta esposa
e as outras autoridades que quiseram honrar-me com a sua presença. Uma saudação muito
especial a D. José Guadalupe Martín Rábago, Arcebispo de León, e também a D. Carlos
Aguiar Retes, Arcebispo de Tlalnepantla e Presidente da Conferência Episcopal Mexicana
e do Conselho Episcopal Latino-Americano. Com esta breve visita, desejo cumprimentar
todos os mexicanos e abraçar as nações e povos latino-americanos, aqui bem representados
por tantos Bispos, precisamente neste lugar onde o majestoso monumento a Cristo Rei,
no morro do Cubilete, testemunha o enraizamento da fé católica entre os mexicanos
que, em todas as vicissitudes, se acolhem à sua bênção incessante. O México e a
maioria dos povos latino-americanos comemoraram o bicentenário da sua independência,
ou estão para o fazer nestes anos. Muitas foram as celebrações religiosas promovidas
para dar graças a Deus por este momento tão importante e significativo. E nelas –
como se verificou na Santa Missa celebrada na Basílica de São Pedro, em Roma, na solenidade
de Nossa Senhora de Guadalupe –, invocou-se fervorosamente Maria Santíssima, que fez
ver, com doçura, como o Senhor ama a todos e por todos, sem distinção, Se entregou.
A nossa Mãe do Céu continuou a velar pela fé dos seus filhos também na formação destas
nações, e continua a fazê-lo hoje face aos novos desafios que se lhes apresentam. Venho
como peregrino da fé, da esperança e da caridade. Desejo confirmar e consolidar na
fé todos os crentes em Cristo e encorajá-los a revitalizá-la através da escuta da
Palavra de Deus, dos sacramentos e da coerência de vida. Deste modo poderão, como
missionários no meio dos seus irmãos, partilhar a fé com os outros e ser fermento
na sociedade, contribuindo para uma convivência respeitadora e pacífica, assente na
incomparável dignidade de toda a pessoa humana, criada por Deus, e que nenhum poder
tem o direito de esquecer ou desprezar. Tal dignidade manifesta-se de forma eminente
no direito fundamental à liberdade religiosa, quando vista no seu genuíno significado
e na sua plena integridade. Como peregrino da esperança, digo-lhes com São Paulo:
«Não andem tristes como os outros, que não têm esperança» (1 Ts 4, 13). A confiança
em Deus dá-nos a certeza de O encontrar e receber a sua graça, e nisto assenta a esperança
de quem crê. E, ciente disto, o fiel esforça-se também por transformar as estruturas
e os acontecimentos menos benignos da hora presente, que parecem imutáveis e invencíveis,
ajudando quem não encontra sentido nem futuro na vida. Sim, a esperança muda, efectivamente,
a existência concreta de cada homem e de cada mulher (cf. Spe salvi, 2). A esperança
aponta para «um novo céu e uma nova terra» (Ap 21, 1), procurando tornar palpáveis
já agora alguns dos seus reflexos. Além disso, quando se enraíza num povo e é compartilhada,
ela irradia como a luz que afugenta as trevas opacas e opressivas. Este país e o Continente
inteiro são chamados a viver a esperança em Deus como uma convicção profunda, transformando-a
numa atitude do coração e num compromisso concreto de caminhar juntos para um mundo
melhor. Como disse em Roma, «continuem a progredir sem desanimar na construção de
uma sociedade fundada no progresso do bem, no triunfo do amor e na difusão da justiça»
(Homilia na solenidade de Nossa Senhora de Guadalupe, Roma, 12 de Dezembro de 2011).
Juntamente com a fé e a esperança, o crente em Cristo e a Igreja no seu conjunto
vivem e praticam a caridade como elemento essencial da sua missão. Na sua acepção
primária, a caridade é «simplesmente a resposta àquilo que, numa determinada situação,
constitui a necessidade imediata» (Deus caritas est, 31a), tal como socorrer quem
padece fome, carece de abrigo, está doente ou necessitado em qualquer vertente da
sua vida. Ninguém fica excluído, por causa da sua origem ou das suas convicções, desta
missão da Igreja, a qual não entra em competição com outras iniciativas privadas ou
públicas, antes, pelo contrário, colabora de bom grado com quem persegue estes mesmos
fins. Nada mais pretende senão fazer, de maneira desinteressada e respeitadora, o
bem ao necessitado, a quem tantas vezes o que mais falta é precisamente uma prova
de amor autêntico. Senhor Presidente, amigos todos! Nestes dias, pedirei com insistência
ao Senhor e à Virgem de Guadalupe por este povo para que honre a fé recebida e as
suas melhores tradições; e rezarei de forma especial por quem mais necessita, particularmente
pelos que sofrem por causa de antigas e novas rivalidades, ressentimentos e formas
de violência. Já sei que estou num país que se orgulha da sua hospitalidade e deseja
que ninguém se sinta estranho na sua terra. Sei disso; mas, aquilo que já sabia, agora
vejo-o e sinto-o no mais íntimo do coração. Espero com toda a minha alma que o sintam
também tantos mexicanos que vivem fora da sua pátria nativa, mas que nunca a esquecem
e desejam vê-la crescer na concórdia e num verdadeiro desenvolvimento integral. Muito
obrigado!