Rio de Janeiro (RV) - Dando prosseguimento ao nosso itinerário quaresmal, o
Quarto Domingo da Quaresma, chamado de domingo Laetare (ou da alegria), nos apresenta
o caminho de conversão para a aliança definitiva com Deus, sancionada na Páscoa, morte
e ressurreição de Jesus, "levantado para que quem crê nele tenha a vida eterna" (Jo
3,14-21). Não é só uma referência à nova forma de pensar sobre Deus, de sentir a Sua
presença, a olhar a vida de Seu ponto de vista, mas abre-se sacramentalmente, agora,
a sua graça, seu amor incondicional, não merecido, mais forte do que todo o nosso
passado, cheio do seu espírito de misericórdia que nos projeta renovados no tecido
dos nossos dias. São Paulo (Ef 2,4-10) nos ensina que uma vez mortos para os pecados,
pela graça seremos salvos. A exortação do apóstolo Paulo é importante: "Pela graça
fostes salvos", "Por Sua misericórdia, quando estávamos mortos em nossos delitos,
nos deu vida em Cristo". Aquela "graça", diz Paulo, é também "para os séculos vindouros",
ou seja, é valida também para nós hoje. Para nós, aquela fé que é tocar com a mão
no sacramento como o perdão, um presente tangível que renova o ministro ao afirmar:
"Eu te absolvo". Graça que se abre à caridade para aquelas boas obras que, como diz
São Paulo, Deus "preparou para que andássemos nelas". A liturgia deste domingo
começa recordando (2Cr 36,14-16.19-23) que "Todos os príncipes de Judá, os sacerdotes
e o povo multiplicaram suas infidelidades". Aqui está a raiz de nosso mal: a infidelidade.
Desse modo, o pecado é esquecer que somos relação, e que na vida temos de aceitar
amar para poder ser amado. No entanto, Deus não cessa de surpreender. Então, com Ciro,
outras vezes após desastres e situações pensadas como intransponíveis. Subamos
para a montanha onde o Crucifixo revela a verdade mais verdadeira de nossas vidas:
"Deus não enviou o Seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas que o mundo seja
salvo por Ele." O desejo de Deus é que possamos de fato perceber: a luz veio. O
Evangelho é aberto. A vida é verdadeiramente definida em sua relação com Deus, quem
acredita não é condenado. O pensamento do homem é hoje facilmente perceptível: quem
segue mais o seu próprio poder que o bem comum, quem é movido apenas pelo ódio, pelo
rancor, quem trama no escuro para prejudicar o seu próximo é julgado pelo seu próprio
comportamento, que não conduz a nenhum futuro. "Aquele que faz o mal odeia a luz e
não vem para a luz", "porque ele sabe que suas obras seriam reprovadas". A quaresma
nos conduz para a renovação de nossas promessas batismais. O batismo também recorda
para nós que viver como cristão é ser “iluminado” pela Luz de Cristo compreendendo
a nossa história e o amor de Deus em nossas vidas. Por isso alegremo-nos pela graça
que nos foi concedida e procuremos responder com o coração generoso que experimenta
a misericórdia de Deus. Estamos aqui diante de Cristo, nós todos aqui, seu povo
amado, com suas faltas de fidelidade à vida, à família, ao trabalho, ao estudo, aos
necessitados e também à própria comunidade. Estamos como pecadores, mas não como escravos
do pecado, que nos abrimos à Graça, que nos abrimos para a Aliança que o Pai nos oferece
em Jesus. Isso nos conduz para a o alto, nos dá a salvação. "Peçamos que, neste tempo
quaresmal, caminhemos para estar na luz, para que as nossas obras sejam feitas claramente,
porque a queremos fazer em Deus."
† Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo
Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ