Cidade do Vaticano (RV) – Chamou-me a atenção
na última quinta-feira, por ocasião do Dia Internacional da Mulher, as inúmeras recordações
feitas para salientar os direitos das mulheres na sociedade moderna, bem como as injustiças
que sofrem. Um dos dados que grita e que é evidenciado pela Campanha Ecumênica da
Conferência dos Bispos Suíços, sobre o tema “Mais igualdade, menos fome” é que existe
um aspecto essencial da desigualdade entre homem e mulher, ou seja, sobre o fato que
60-70% das pessoas que passam fome são mulheres, como apontam as estatísticas da ONU.
Exatamente as mulheres, portanto, que alimentam o mundo, são aquelas que tem menos
o que comer.
A comemoração do Dia Internacional da Mulher remonta ao ano de
1857, quando as operárias de uma fábrica têxtil de Nova Iorque entraram em greve e
ocuparam a fábrica, pedindo a redução do horário de trabalho de 14 horas por dia para
10 horas. As mulheres nas suas 14 horas de trabalho recebiam menos de um terço do
salário dos homens; fecharam-se dentro do prédio e um incêndio causou a morte de 130
delas. Decênios depois, em 1919, numa conferência internacional na Dinamarca, decidiu-se
homenagear aquelas mulheres e comemorar o 8 de março como “Dia Internacional da Mulher”.
Todos
os anos comemoramos este dia, e junto com ele a lembrança não somente daquelas mulheres
que padeceram no fogo de Nova Iorque, como também daquelas que ao longo dos séculos
sofreram a marginalização pelo simples fato de ser mulher, como ocorre ainda hoje,
em pleno século 21, marginalizadas, desprezadas, exploradas, com seus direitos negados,
pisoteados. Basta pensar que no mundo são mais de 40 milhões as meninas que não vão
à escola e 500 milhões de mulheres são analfabetas, ignoram seus direitos e não participam
das decisões da sua comunuidade.
A mulher, com seu gênio, tem uma vocação particular,
precisamente, ser mulher. Uma vocação, nos dias de hoje muitas vezes contestada por
correntes mais fundamentalistas que gritam por uma “certa igualdade” que nem sempre
produz o tão almejado equilibrio entre homem e mulher. A mulher tem um papel particular
na sociedade de hoje, de humanização, num mundo que gira em torno do ter e não do
ser. Este aspecto humanizante, próprio da mulher, com a sua sensibilidade poderia
ser, de fato, um elemento importante para devolver o ser humano ao centro do interesse
da comunidade, como sujeito, em detrimento ao homem-mulher objeto.
A CNBB publicou
por ocasião do dia 8 de março uma nota na qual depois de saudá-las e recordar as palavra
do Beato João Paulo II dedicadas à mulheres fala da sua alegria em perceber que “cada
dia mais, cresce a consciência da dignidade da mulher e de sua específica contribuição
na construção de uma sociedade justa, fraterna e solidária”. Mas recorda também que
apesar dos grandes avanços obtidos pelas mulheres, o Dia 8 de Março continua sendo
uma data para recordar e denunciar as inúmeras situações de violação de seus direitos
e de sua dignidade.
Fazemos votos que 8 de Março não seja somente mais uma
data no calendário para dar um presente, uma recordação e depois no dia seguinte cair
no esquecimento. Fazemos votos de que se continue, não apenas no dia 8, mas em todos
os dias do ano, o chamado de atenção para o papel e a dignidade da mulher; que se
tome consciência do valor da mulher, do seu papel na sociedade, contestando e revendo
preconceitos e limitações impostos a ela. Viva a mulher e a sua dignidade! (Silvonei
José)