Síria: Núncio Apostólico fala da morte de crianças no conflito interno
Damasco (RV) - Ainda massacres na Síria. Outras 130 pessoas perderam a vida
nos últimos dois dias, vítimas da repressão. Para acabar com as violências, a União
Europeia aprovou novas sanções contra o regime de Damasco, enquanto registrou amplo
consenso, quase 90%, o referendo sobre a nova Constituição proposto pelo Presidente
Al-Assad. Sobre a emergência humanitária que está vivendo o povo sírio, a Rádio Vaticano
ouviu o Núncio Apostólico em Damasco, Dom Mario Zenari.
R. Todas as várias
denominações cristãs nestes últimos dias entraram no tempo litúrgico da Quaresma.
Estava refletindo que aqui na Síria teve inicio uma Quaresma 11 meses atrás, e olhando
bem devemos considerar que todo o povo sírio entrou nas últimas semanas no tempo da
paixão. Basta ler as notícias, ver as imagens... Todos estão vivendo esta Quaresma,
das crianças de alguns meses a pessoas de todas as idades, os jovens, os idosos ...
eu diria que esta Quaresma, esses dias de paixão, é algo que impressiona. Eu tive
- se assim posso dizer - uma breve pausa dessa Quaresma dois dias atrás, quando eu
estive em Tartus, uma cidade do Mediterrâneo, para a tomada de posse de um bispo,
e eu percebi todo o clima de insegurança... As autoridades deram-me permissão para
ir a esta cidade que até agora foi poupada da violência, mas me disseram que eu só
podia viajar de avião, porque a viagem pelas estradas era perigosa. Na segunda-feira,
contatou-me um sacerdote de Homs para me dizer que ele não podia sair às ruas, onde
há cadáveres de soldados, de civis, onde há feridos; é muito arriscado sair às ruas
e recolher os feridos, os corpos das vítimas. Quando retornei segunda-feira a Damasco,
fora do aeroporto, havia grupos de mulheres, vestidas de preto, e o sacerdote sírio
que me acompanhava disse que se tratava de uma manifestação de luto, saudamos essas
pessoas, e trocamos algumas palavras. As muilheres eram parentes de soldados cujos
corpos estavam prestes a chegar: 12 soldados mortos no conflito.
P. - O UNICEF
denunciou a morte de muitas crianças ...
R. - Fiquei impressionado ao ver as
crianças vítimas deste conflito. O UNICEF fala de 500 crianças mortas. Alguns dias
atrás eu li uma notícia sobre um bebê de apenas 10 meses, que foi pego junto com toda
a sua família, se não erro 17 pessoas, em uma cidade perto de Homs: toda a família
foi colocada na parede e metralhada, incluindo o bebê de 10 meses. Quantas dessas
histórias se conhecem e se pode ver as imagens. A situação humanitária é grave, especialmente
em certos lugares, como a cidade de Homs, onde há uma forte crise: faltam alimentos,
medicamentos, é difícil socorrer e curar os feridos, enterrar os mortos. Há também
os sofrimentos de todas as pessoas neste país. Fala-se de milhares e milhares de desabrigados,
de pessoas que vivem com graves dificuldades devido à falta de gêneros de primeira
necessidade. Muitas vezes falta luz e outras coisas necessidades, mas eu diria que
neste clima tão triste, tão doloroso, se quisermos ver também um pouco, o outro lado
da moeda, é bom ver a solidariedade internacional, um pouco em todos os níveis , às
vezes com grande dificuldade, com iniciativas que não atingiram a sua finalidade.
Mas a comunidade internacional tenta agir, e eu gostaria de mencionar, em particular
as organizações humanitárias, as mais importantes a Cruz Vermelha, o Crescente, mas
também inúmeras outras instituições assistenciais, de caridade, que trabalham para
aliviar o sofrimento de todas estas pessoas. (SP)