Pregador dos exercícios espirituais no Vaticano: refletimos sobre o valor da comunhão
na Igreja
Cidade do Vaticano (RV) - A comunhão com Deus, da qual a Igreja alcança "misericórdia"
e adquire um "guia amoroso": articula-se nessas duas pistas a dúplice meditação da
manhã desta terça-feira dos exercícios espirituais de Quaresma, que Bento XVI e a
Cúria Romana estão vivendo desde domingo passado. O pregador dos exercícios espirituais
deste ano é o Arcebispo de Kinshasa, Cardeal Laurent Monsengwo Pasinya, que escolheu
como texto-guia a primeira Carta de São João. Entrevistado pela Rádio Vaticano, o
purpurado congolês nos explica o motivo da escolha:
Cardeal Laurent Monsengwo
Pasinya:- "Vi que São João dá muita atenção à comunhão na Igreja, quer à comunhão
dos fiéis com os Apóstolos, quer dos fiéis com Deus e dos Apóstolos com Deus. Então
me disse: é um tema interessante que vale a pena, porque dentro dele se fala de todos
os problemas que a Igreja primitiva encontrou e que nós hoje podemos encontrar. Refiro-me
à ruptura da comunhão na Igreja: a ruptura da comunhão por falta de fé, a ruptura
da comunhão por falta de caridade, a ruptura da fé porque não se segue o ensinamento
dos Apóstolos. E vendo como desde o início João trata do tema, de maneira tão solene
– "aquilo que vimos, aquilo que ouvimos nós vos anunciamos para que estejais em comunhão
conosco" –, esse modo de apresentar as coisas mostra a importância que João dava a
esse aspecto. E, de fato, no início da Igreja havia pessoas que não acreditavam em
Jesus, como também hoje existem pessoas que não creem em Jesus: não creem que Jesus
é o Messias, não creem que Jesus se encarnou. Vemos que João começa a contatar aqueles
que não creem que Jesus tenha vindo e diz: "Estavam entre nós, mas nos deixaram".
Também hoje temos aquelas comunidades que estavam conosco e que não estão mais: todas
aquelas pequenas comunidades que na África chamamos de "Igrejas do despertar", ou
simplesmente fundamentalistas. Toda essa realidade é contemplada no texto de São João,
o qual, no final, começa a falar da fé em Jesus Cristo, da comunhão com Deus e, enquanto
isso, indica os critérios para se estar em comunhão com Deus. Portanto, hoje temos
interesse em ver novamente essas coisas."
RV: De que modo as palavras da
primeira Carta de São João se entrelaçam com os temas da Quaresma?
Cardeal
Laurent Monsengwo Pasinya:- "A Quaresma é, praticamente, um caminhar no deserto
com Jesus para estar perto d'Ele. Onde o Senhor venceu o demônio também nós devemos
vencer. Onde Israel, no deserto, foi vencido pelo demônio, nós devemos evitar ser
vencidos pelo demônio. Portanto, essa é a razão de ser da Quaresma: o fato que nos
ajuda a viver mais intensamente a comunhão com Deus. A comunhão com Deus, então, está
no coração da Quaresma, quando no texto da Carta se diz: "Vós vencestes graças à unção
do Espírito, graças à Palavra de Deus que recebestes no batismo"."
RV: Na
Mensagem para a Quaresma deste ano, Bento XVI insiste muito no aspecto da caridade
concreta. Como o senhor vê as palavras do Santo Padre nesse sentido?
Cardeal
Laurent Monsengwo Pasinya:- "O apelo do Papa para nós na África é profundamente
real: quando se está na África e se vê aquela pobreza, aquela miséria, se veem aquelas
guerras, todo o caos que existe, não se pode deixar de pensar nisso. Por isso, sem
dúvida, acolhemos a Mensagem do Papa: porque adere à nossa realidade." (RL)