2012-02-27 14:18:15

União Africana em fase de transição para um maior consenso



Que a realidade africana seja complexa e diversificada é um dado adquirido. Aliás, não poderia ser doutra forma, tendo em conta que se trata dos desejos e aspirações de um bilião de indivíduos em marcha para o desenvolvimento e a assunção do próprio destino!

A mais recente cimeira da UA em Adis-Abeba foi uma demonstração desta “diversidade”. A Rádio Vaticano e, de modo particular, as redacções africanas, procuram, na medida do possível, compreender as características dessa diversidade e relançá-las, por vezes, também em forma de editorial. Isto não as põe, obviamente, ao abrigo da tomada de posições discutíveis, embora sempre de boa fé.

Sobre a já referida cimeira da UA e sobre outros temas importantes, procuramos sempre pôr em relevo o bem que deveria substituir o mal, e o melhor que deveria tomar o lugar do bem. Fazemo-lo com as palavras que a nossas sensibilidades nos oferecem, sensibilidades, de resto, diferentes, também elas.

Em Janeiro passado, na sua magna reunião em Adis-Abeba, os representantes dos Estados-membros da UA não chegaram a acordo sobre um novo presidente da Comissão e decidiram, consequentemente, confiar o lugar a uma figura interina, que vai ocupar-se dos assuntos correntes e preparar as modalidades duma eleição mais consensual do presidente na próxima cimeira dos chefes de Estado, prevista para o próximo mês de Junho, em Lilongwe, no Malawi.

Esta situação de interinidade deveria, portanto, dar mais tempo para as consultas a fim de desbloquear a situação e levar a uma saída do impasse. Os dossiers que deveriam ser discutidos ficam, entretanto, em letargo, à espera que se encontre uma via de saída para a crise.

Não há dúvida de que seis meses de espera é sempre melhor do que uma decisão precipitada que em nada resolveria os grandes problemas da África. E as vozes que se elevaram contra uma interinidade, não prevista no estatuto, terão o tempo de se habituar à ideia de que a democracia se constrói passo a passo, através de concessões, de ajustamentos, de adaptações às realidades duma África em constante mutação. Como se sabe, está-se sempre a caminho dum ideal, que não é completamente atingido. Estamos, portanto, em crer que esta brecha nas regras é, passageira embora, revele, para dizer a verdade, uma fraqueza do sistema que pode, assim, favorecer intervenções estranhas e pouco sensíveis às realidades candentes do continente africano. A fraqueza do mecanismo pode facilitar a intrusão de estruturas cujas intenções e o modo de fazer poderiam revelar-se contrárias às esperanças dos africanos e à sua cultura, afastando, por conseguinte, a África da solução dos seus verdadeiros problemas e da implicação dos próprios africanos na procura do bem comum.

Não tendo podido chegar a um acordo sobre a escolha dum dos dois candidatos em lista para a presidência da Comissão – a ministra sul-africana Nkosazana Dhlamini-Zuma e o gabonês Jean Ping, presidente cessante, a África parece ter-se submetido, mais uma vez, ao peso das realidades que, de forma subentendida, exercem uma influência sobre a sua agenda sem ter em conta a vontade dos africanos. Uma sul-africana e um gabonês não são necessariamente expressão de duas visões antagonistas: a eficácia de uns e a diplomacia e o sentido de compromisso de outros, sairiam certamente a ganhar de um trabalho concertado.

A cimeira de Adis-Abeba mostrou que as clivagens, linguísticas ou históricas que sejam, têm ainda um certo peso quando se trata de tomar decisões importantes. Os sul-africanos fizeram advocacia a favor duma alternância que teria, portanto, levado à cabeça da Comissão um anglófono depois de dois francófonos terem sucessivamente exercido essa função. Sem falarmos numa verdadeira e própria fractura, não há, todavia, dúvida de que anglófonos e francófonos puxaram cada um a brasa para a própria sardinha e no fim nenhum deles saiu vencedor. Essa cacofonia já tinha impedido à UA de se fazer ouvir e respeitar junta da ONU e da NATO quando estes decidiram a sorte do dirigente líbio Mouammar Kadhafi, co-fundador da UA, em Syrte, sua cidade natal.

A cimeira de Adis-Abeba pôs em evidência a necessidade de respeitar as regras a fim de garantir a democracia e a tomada, pelo próprios africanos, das rédeas do seu destino. Esperemos que uma vez instalados na bela e nova sede oferecida, prontinha, pela China que para ela gastou nada menos de 200 milhões de dólares, o continente africano saiba, em Junho próximo, escolher com toda a independência necessária, pessoas capazes de agir em soberania.

Grandes convulsões, de que a África, aliás, foi o ponto de partida com a famosa “Primavera Árabe”, afectam actualmente o mundo e apresentam-se quotidianamente aos olhos duma juventude à procura de ideais e de modelos de vida. Não é lícito decepcionar esta grande esperança num mundo melhor pelo qual anseiam.

Por ocasião da sua memorável viagem ao Benin, em Novembro passado, Bento XVI usou palavras fortes e directas, que conservam ainda hoje toda a sua profecia e actualidade em qualquer contexto. Dizia o Papa: “Lanço um apelo a todos os responsáveis políticos e económicos dos países africanos e do mundo. Não priveis o vosso povo da esperança! Não lhe amputeis o futuro, mutilando o presente! Enfrentai as vossas responsabilidades com coragem e ética e, se sois crentes, rezai a Deus para que vos conceda a sabedoria.”

Esperemos que na sua próxima cimeira em Junho próximo na capital do Malawi, pelo bem do povo africano que é chamada a servir, a União Africana se recorde destas palavras do Papa

Albert Mianzoukouta – Programa Francês/África,








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