Catedral de Chartres, um labirinto de fé, beleza e espiritualidade
Chartres (RV)
- Especial Catedrais leva vocês hoje por um passeio pelo ícone da arte gótica
francesa, a Catedral de Chartres, que junto com a Notre-Dame de Paris e a de Reims
(sobre a qual falamos na semana passada) fecha o grupo das mais fiéis representantes
desse estilo arquitetônico na França.
Bem pertinho de Paris - ela dista somente
90 quilômetros da capital - em meio às cúpulas e telhados que despontam nessa cidadezinha
rodeada de verde, ergue-se magestosa a Notre-Dame de Chartres, ou Nossa Senhora de
Chartres. Ela, como toda Catedral, esconde tesouros e mistérios, mas essa, em especial,
tem gravado no piso um labirinto, um dos maiores e mais antigos da Europa. Mas nós
já chegamos lá, primeiro precisamos passar pelas ruelas dessa cidade medieval.
Chartres
é uma pequena cidade de menos de 100 mil habitantes, conhecida mundialmente, aliás,
justamente pela sua Catedral, que é o primeiro dos 35 Patrimônios Mundiais da Humanidade
declarados pela UNESCO na França. Mas para além da Catedral, a cidade é atravessada
pelo rio Eure, circundado por uma bela natureza, que depois sede lugar às suas ruelas
medievais, onde se escondem prédios e igrejas que nos fazem sentir como se em um cenário
de filme. Filme de tirar o fôlego quando saímos de uma dessas estradinhas estreitas
para nos depararmos com a gigantesca Catedral, ornada por mais de 4 mil estátuas esculpidas
em meados do século XII e encantadoramente iluminada por dois mil e 600 metros quadrados
de vitrais do séc. XIII, tornando-a única.
A Catedral teve a sua construção
iniciada em 1145 e foi reconstruída após um incêndio de 1194. Sua consagração deu-se
em 24 de outubro de 1260, o que aconteceu na presença do rei Luís IX, enquanto Henrique
IV foi o único monarca francês a ser coroado neste templo.
A construção tem
uma área superior a 10.000 m², com sua estrutura alcançando os 130 metros de comprimento
e 46 de largura. A vasta nave ogival é premiada por nove portais. Especialmente famosas,
as esculturas do séc. XII da fachada ocidental, chamada de Pórtico Real. O pórtico
principal apresenta um magnífico relevo de Jesus Cristo glorificado. Tem também o
do transepto meridional, que traz imagens do Novo Testamento, narrando o Juízo Final,
enquanto o pórtico oposto, situado no lado norte do transepto, é dedicado ao Antigo
Testamento e ao Advento de Cristo, e se destaca pela beleza das esculturas representando
a Criação. Além disso, as 150 janelas medievais cobertas por vitrais coloridos proporcionam
um belíssimo efeito luminoso no interior do templo. Um convite à contemplação.
O
misticismo envolvendo a Catedral inicia já no seu subsolo, onde correm veios d'água
as quais, segundo antigas tradições, formam campos de forte energia. Na cripta do
templo existe um poço profundo, ao redor do qual, até hoje, pessoas se prostram em
oração. Até o século XVI, peregrinos vinham beber água dessa fonte, cultuada desde
os tempos pré-cristãos, atribuindo a ela poderes curativos e milagrosos.
A
cripta também contém um santuário dedicado à Nossa Senhora do Subterrâneo, de cor
negra e olhos fechados. Sugere-se que ela estaria dizendo: "Prestem atenção no Menino
que carrego, não em mim." Para alguns historiadores, no entanto, as virgens negras
correspondem ao antigo culto celta à Grande Mãe Terra, assimilado pela Igreja nos
primeiros tempos do cristianismo.
Mas não se pode falar da Catedral de Chartres
sem dedicar um espaço especial ao labirinto que protege no seu interior. Trata-se
de um dos poucos labirintos medievais que permanecem até hoje, datado do ano de 1200,
feito de pedras de calcário branco e preto. Com diâmetro de 12 metros e meio, esse
labirinto é uma projeção da rosácea principal, localizada na fachada oeste entre as
duas torres, rebatida no chão, como um espelho. Até hoje, é um dos maiores atrativos
para fieis e visitantes dessa igreja. Mas os labirintos nos templos são uma tradição
antiga no ocidente, principalmente na Europa. Fiéis caminhavam sobre eles, em oração,
com o objetivo simbólico de libertar o espírito e encontrar a paz. Caminhar até o
centro desses labirintos espiralados era uma metáfora da peregrinação à Jerusalém
Celeste, a iluminação espiritual.
E com essa figura que é uma perfeita representação
da espiral do tempo, chegamos ao final desse Especial Catedrais. Bom final de semana
e até sábado que vem. (ED)