2012-02-23 12:56:01

Missão na África: as experiências de um bispo brasileiro


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Cidade do Vaticano (RV) – África. Guiné-Bissau. País-irmão do Brasil. Bafatá, interior do país que, oficialmente, é um dos que falam a língua portuguesa mas nem sempre é fácil de entender. E este é só um dos inúmeros desafios de ser missionário por lá, como relata o bispo brasileiro Dom Cláudio Zilli.

– Para o missionário que chega, sem dúvida a língua é o primeiro desafio. Aí, alguém no Brasil diz: mas você é brasileiro! Sim, saber o português não é pouco, mas depois é preciso estudar o crioulo – que é parecido – mas não é o português. Existem ainda as línguas étnicas que são muito difíceis de aprender mesmo já que nada têm a ver com o português ou com o crioulo. Por isso, a comunicação é uma coisa difícil. São culturas diferentes. Na verdade, Brasil e África têm muita coisa em comum por causa da história, dos africanos que foram para o Brasil, mas mesmo assim há muitas diferenças culturais, sensibilidades diferentes de uma pessoa que chega mas, também, mesmo entre as pessoas de lá, uma etnia é um pouco diferente da outra. Mas essa questão cultural, que é uma beleza, é uma grande riqueza também traz consigo algumas dificuldades. Outra dificuldade é a economia. Eu sempre digo que na Guiné-Bissau as nossas crianças não são como aquelas que aparecem na TV, magrinhas, tem também, claro, mas é a pobreza o maior desafio.
É quase habitual chegar uma pessoa às 4 da tarde e dizer: “hoje eu não comi porquê não tinha nada para comer”. Ou faltam medicamentos e não há dinheiro, pedem ajuda. A questão econômica é muito séria. É importante que, como Igreja, temos procurado trabalhar dentro dos nossos limites. E têm os próprios limites internos da Igreja: muitas pessoas procuram o Batismo, querem ser batizadas. Mas, depois, como acontece um pouco por toda a parte, às vezes vivem um cristianismo um pouco superficial e nem sempre conseguimos um aprofundamento. Mas é claro que também existem muitas riquezas, apesar de todos os desafios.

Faz muitos anos que Dom Zilli está longe de casa. Mas para o missionário, o que significa “casa”?

– Eu cheguei na Guiné-Bissau como missionário do PIME (Pontíficio Instituto para as Missões Estrangeiras) em 1985. Como bispo na Diocese de Bafatá, desde 2001, quando foi criada. Mas o lugar em que a pessoa nasceu, onde a pessoa tem uma família, restará sempre uma referência. Isso, sem dúvida. E quando vou ao Brasil eu me sinto bem, verdadeiramente me sinto em casa. Procuro acompanhar, principalmente agora com a internet, aquilo que está acontecendo no Brasil, na política, na sociedade, na Igreja. E quando vou, gosto muito de estar lá. Mas quando faltam três dias para voltar para a Guiné eu sinto que é tão difícil deixar a casa, a mãe, o pai e os familiares mas eu me encontro muito bem na Guiné-Bissau, afinal já quase metade da minha vida é guineense. E quando volto para a Guiné, mesmo vindo do Brasil, tenho o sentimento de estar voltando para casa. Aliás, quando eu fui nomeado bispo em 2001 eu estava no Brasil. Eu fiquei na Guiné de 1985 até 1998. E quando eu voltei uma senhora de Bafatá me disse uma coisa tão bonita: “é um filho que torna a casa”. E aquilo me fez tão bem e me faz tão bem ainda hoje. Nunca me senti tão em família depois daquela frase daquela senhora. É bom estar no Brasil, mas também é bom estar na Guiné-Bissau!

Colaborou Bianca Fraccalvieri











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