Bento XVI celebrou o início da Quaresma presidindo à missa e à imposição das cinzas,
na Basílica de Santa Sabina, em Roma
(22/2/2012) Na homilia, Bento XVI refletiu sobre “o sinal litúrgico das cinzas”,
observando que se trata de “um daqueles sinais materiais que transportam o cosmos
para o interior da Liturgia”, a começar pelos sinais dos Sacramentos: a água, o óleo,
o pão e o vinho, que se tornam verdadeira e própria matéria sacramental, instrumento
através do qual se comunica a graça de Deus que chega até nós”. Embora não sejam um
sinal sacramental, as cinzas encontram-se ainda assim ligadas à oração e à santificação
do Povo cristão, com uma bênção apropriada e a imposição (das cinzas) sobre a cabeça
de cada um. Comentando a expressão do capítulo terceiro do Livro do Génesis –
“Lembra-te que és pó e ao pó tornarás”, palavras que concluem o juízo pronunciado
por Deus depois do pecado original, observou o Papa:
“o sinal da cinza conduz-nos
ao grande fresco da criação, onde se diz que o ser humano é uma singular unidade de
matéria e de sopro divino, através da imagem do pó da terra plasmado por Deus e animado
pelo seu respiro insuflado nas narinas da nova criatura”.
Só depois do pecado
é que o símbolo do pó assume uma conotação negativa – fez notar Bento XVI:
“O
pó da terra deixa de evocar o gesto criador de Deus, todo aberto à vida, para se tornar
sinal de um inexorável destino de morte: ‘Tu és pó e ao pó voltarás’.”
No
texto bíblico, a terra participa da sorte do homem. E, se o homem e a mulher não são
diretamente amaldiçoados (como o foi a serpente), o facto é que, devido ao pecado
de Adão, é amaldiçoado o solo (a terra) de onde ele tinha sido tirado. Em todo o caso
– assegurou Bento XVI – a maldição do solo tem uma função medicinal. Por
outras palavras: a intenção de Deus, sempre benéfica, é mais profunda do que a sua
própria maldição, a qual se deve ao pecado, não a Deus. Deus não pode deixar de a
infligir, porque respeita a liberdade do homem e as suas consequências. No interior
da maldição permanece uma intenção boa, que vem de Deus. Quando Deus diz ao homem
– És pó e ao pó voltarás – juntamente com a justa punição entende também anunciar
uma via de salvação, que passará precisamente através da terra, através daquele pó,
daquela carne que será assumida pelo Verbo…
“É nesta perspetiva salvífica
que a palavra do Génesis é retomada pela Liturgia da Quarta-feira de Cinzas: como
convite à penitência, à humildade, a ter presente a própria condição mortal. Não para
levar ao desespero, mas antes para acolher, precisamente nesta nossa mortalidade,
a impensável proximidade de Deus, que, para além da morte, abre a passagem para a
ressurreição, para o paraíso finalmente reencontrado”.