Egito: primavera árabe pode provocar "outono religioso". Ouça!
Cidade do Vaticano (RV) - Neste espaço reservado
aos Direitos Humanos, hoje vamos falar de violência anticristã. Nosso destino é o
Egito:
Nos últimos meses, mais de uma vez Bento XVI se manifestou a favor das
minorias religiosas presentes no Egito, em especial dos coptas, vítimas de perseguições.
Antes da primavera árabe, quando ainda Hosni Mubarak estava no poder, essas comunidades
viviam poderíamos dizer, um outono religioso, ou seja, eram toleradas pelos muçulmanos,
tratadas com hostilidade, mas a convivência era possível. Com a queda de Mubarak,
as agressões se tornaram mais explícitas e o que era um outono, se tornou inverno:
A
reportagem do Programa Brasileiro encontrou a família Ghattas. Em abril passado, o
filho mais novo do casal, com então nove anos, foi sequestrado por membros da Irmandade
Muçulmana quando jogava num centro desportivo perto de casa. No segundo dia do seqüestro,
a família concordou em pagar 20 mil euros para o resgate, com medo de que a criança
fosse assassinada. O susto foi tão grande, que o casal decidiu abandonar o Egito com
os dois filhos.
Um amigo do casal recomendou que Marcos e Miriam Ghattas obtivessem
um visto para Moscou, na Rússia, com conexão em Roma. A própria Agência de viagem
aconselha a Itália como local de trânsito, porque o país acolhe pedidos para asilo
político. E assim foi feito, no aeroporto Leonardo da Vinci, o casal com os dois filhos
pediu asilo à Itália. Desde agosto do ano passado, eles se encontram no Centro para
requerentes de asilo da Cruz Vermelha, que fica em Castelnuovo di Porto, a 30 km de
Roma, onde esteve a nossa emissora.
Seis meses é o tempo que a Constituição
italiana prevê para que o processo de pedido de asilo seja acolhido ou rejeitado.
Esse período já passou, e eles estão à espera da resposta. Enquanto isso, a desesperança
tomou conta da família, principalmente de Mariam, a mãe. Eles deixaram para trás um
emprego público, casa, carro; Mariam trabalhava numa boutique de roupas. Deixaram
tudo. Questionada sobre como vê sua vida daqui um ano, Mariam é pessimista: ela se
diz desmoralizada. Vivendo num centro de acolhimento, não consegue projetar um futuro
diante de si.
Estando neste centro, as crianças frequentam a escola pública
italiana. Outro dia, a escola organizou uma excursão, mas eles não tinham nem mesmo
o dinheiro para que o filho mais novo participasse – fatos da cotidianidade que só
fazem aumentar a angústia que Mariam sente. Se eles obtiverem o asilo político, com
duração de cinco anos e que normalmente é renovado, eles terão que recomeçar do zero:
encontrar um lugar para morar e meios para se sustentar.
Se a primavera árabe
se tornará efetivamente um período de florescimento das liberdades, o que é certo
é que a família Ghattas não estará lá para comprovar essa transformação, pois não
têm intenção nenhuma de regressar ao Egito.