2012-02-16 19:17:33

Nova Evangelização e a "Evangelii Nuntiandi": adaptação e fidelidade da linguagem


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Cidade do Vaticano (RV) - Amigo ouvinte, chegamos assim ao espaço semanal do nosso programa dedicado à nova evangelização, através da qual a Igreja é chamada a responder, hoje, aos inúmeros desafios pastorais a ela apresentados neste terceiro milênio, num mundo em contínua transformação.

De fato, a nova evangelização estará no centro da próxima Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, a realizar-se, no Vaticano, de 7 a 28 de outubro próximo, com o tema "A nova evangelização para a transmissão da fé cristã".

Segundo nos afirmam os Lineamenta – documento preparatório para o referido Sínodo –, "a nova evangelização é o nome dado a esta nova atenção da Igreja à sua missão fundamental, à sua identidade e razão de ser. Por isso, é uma realidade que não diz respeito apenas a algumas regiões bem definidas, mas é a estrada que permite explicar e pôr em prática a herança apostólica no nosso e para o nosso tempo" (Lineamenta, nº 10).

Como se pode constatar, o tema da "nova evangelização" não é um modismo na Igreja, mera elucubração teológica, mas representa uma necessidade dos nossos tempos. Ela não é, como tal, "primeira evangelização", e nem mesmo "reevangelização" – como já ressaltado neste espaço.

Mas passemos à nossa revisitação à Exortação Apostólica do Papa Paulo VI, "Evangelii Nuntiandi", de 1975, prosseguindo o capítulo VI – que trata dos obreiros da evangelização – trazendo o nº 63, que tem como título "Adaptação e fidelidade da linguagem". Diz o texto:

63. "As Igrejas particulares profundamente amalgamadas não apenas com as pessoas, como também com as aspirações, as riquezas e as limitações, as maneiras de orar, de amar, de encarar a vida e o mundo, que caracterizam este ou aquele aglomerado humano, têm o papel de assimilar o essencial da mensagem evangélica, de a transpor, sem a mínima traição à sua verdade essencial, para a linguagem que esses homens compreendam e, em seguida, de a anunciar nessa mesma linguagem.
Uma tal transposição há de ser feita com o discernimento, a seriedade, o respeito e a competência que a matéria exige, no campo das expressões litúrgicas, (92) como de igual modo no que se refere à catequese, à formulação teológica, às estruturas eclesiais secundárias e aos ministérios.
E aí linguagem deve ser entendida menos sob o aspecto semântico ou literário do que sob aquele aspecto que se pode chamar antropológico e cultural.
O problema é sem dúvida delicado. A evangelização perderia algo da sua força e da sua eficácia se ela porventura não tomasse em consideração o povo concreto a que ela se dirige, não utilizasse a sua língua, os seus sinais e símbolos; depois, não responderia também aos problemas que esse povo apresenta, nem atingiria a sua vida real. De outro lado, a evangelização correria o risco de perder a sua alma e de se esvaecer se fosse despojada ou fosse desnaturada quanto ao seu conteúdo, sob o pretexto de a traduzir melhor; o mesmo sucederia, se ao querer adaptar uma realidade universal a um espaço localizado, se sacrificasse essa realidade ou se destruísse a unidade, sem a qual já não subsiste a universalidade. Ora, sendo assim, só uma Igreja que conserva a consciência da sua universalidade e demonstra de fato ser universal, pode ter uma mensagem capaz de ser entendida por todos, passando por cima de demarcações regionais.
Uma legítima atenção para com as Igrejas particulares não pode senão vir a enriquecer a Igreja. Tal atenção, aliás, é indispensável e urgente. Ela corresponde às aspirações mais profundas dos povos e das comunidades humanas, a descobrirem cada vez mais a sua fisionomia própria."

Como vimos, também aí ao tratar de "adaptação e fidelidade da linguagem", o texto fala em transpor o essencial da mensagem evangélica, fala em traduzir.

Como precedentemente ressaltado, na época do Concílio era comum se falar em traduzir a fé na cultura local, sem corrompê-la. Somente mais tarde – com uma reflexão ulterior a esse respeito – é que se amadureceu o conceito de inculturar, passando assim a se falar não mais em traduzir, mas inculturar.

De fato – recalcamos –, traduzir é limitante, porque indica uma evangelização unilateral, dedutiva da fé. Já a inculturação trata também de entrar nessa cultura e enriquecer-se com os valores que ela possui. Efetivamente, quantos valores encontramos em culturas não-cristãs das quais nós mesmos nos enriquecemos ao evangelizá-las, culturas muitas vezes distantes da nossa "Cultura Ocidental", mas nas quais entrevemos claramente "as sementes do Verbo"!

Amigo ouvinte, por hoje nosso tempo já acabou. Semana que vem tem mais, se Deus quiser! (RL)







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