Papa no Dia Mundial do Enfermo: "Levanta-te e vai; a tua fé te salvou!"
Cidade do Vaticano (RV) - Os doentes e os que sofrem encontrem na fé "uma âncora
segura": este é o encorajamento do Santo Padre, que em sua Mensagem para o Dia Mundial
do Enfermo ressalta que "quem crê jamais está sozinho". O tema da Mensagem foi extraído
do Evangelho segundo São Lucas (17, 19): "Levanta-te e vai; a tua fé te salvou!".
O
Papa dirige-se com palavras de particular proximidade aos doentes e aos sacerdotes
– que dão assistência espiritual nos hospitais, chamados a se sentirem "verdadeiros
ministros dos enfermos". E reitera que, a exemplo de Cristo, os fiéis são chamados
a acolher toda vida humana, particularmente se frágil e enferma", e a curvar-se "sobre
os sofrimentos materiais e espirituais do homem para curá-los".
Em seguida,
se detém sobre os "Sacramentos de cura", ou seja, da Penitência e da Reconciliação
e sobre o Sacramento dos Enfermos, que alcançam seu natural cumprimento na Comunhão
Eucarística". Sacramentos que iluminam "o binômio entre saúde física e renovação das
dilacerações da alma".
Quem na doença "invoca o Senhor" – escreve o Papa –,
está "certo de que o Seu amor jamais o abandona" e de que jamais falta "o amor da
Igreja". No Sacramento da Penitência, na "medicina da confissão" – observa –, "a experiência
do pecado não degenera em desespero, mas encontra o amor que perdoa e transforma".
Por
isso, o momento do sofrimento, ao invés de ser motivo de desespero, pode transformar-se
num tempo de graça para voltar-se para si mesmo, repensar a própria vida e nos próprios
erros, como o filho pródigo.
Depois, faz votos de que seja valorizado o Sacramento
da Unção dos Enfermos, que – escreve – não deve ser considerado "quase um sacramento
menor em relação aos outros". Pelo contrário, este Sacramento "merece hoje uma maior
consideração, quer na reflexão teológica, quer na ação pastoral para com os doentes".
Por
fim, a Mensagem evidencia a importância da Eucaristia. Recebida no momento da doença,
"contribui de modo singular para realizar tal transformação", associando o enfermo
à oferta que Jesus "fez de si mesmo ao Pai para a salvação de todos". (RL/BF)
Eis
a Mensagem de Bento XVI:
«Levanta-te e vai, a tua fé te salvou!» (Lc 17, 19)
Amados irmãos e irmãs Por ocasião do Dia Mundial do Doente, que celebraremos
no próximo dia 11 de Fevereiro de 2012, memória da Bem-Aventurada Virgem de Lourdes,
desejo renovar a minha proximidade espiritual a todos os enfermos que se encontram
nos lugares de cura ou recebem os cuidados das famílias, enquanto manifesto a cada
um deles a solicitude e o afecto da parte de toda a Igreja. No acolhimento generoso
e amoroso de cada vida humana, sobretudo da frágil e doente, o cristão expressa um
aspecto importante do seu testemunho evangélico, segundo o exemplo de Cristo, que
se debruçou sobre os sofrimentos materiais e espirituais do homem para os curar. 1.
Neste ano, que constitui a preparação mais próxima para o solene Dia Mundial do Doente,
que será celebrado na Alemanha no dia 11 de Fevereiro de 2013 e que meditará sobre
a emblemática figura evangélica do bom samaritano (cf. Lc 10, 29-37), gostaria de
chamar a atenção para os «Sacramentos de cura», ou seja, o Sacramento da Penitência
e da Reconciliação, e o Sacramento da Unção dos Enfermos, que encontram o seu cumprimento
natural na Comunhão Eucarística. O encontro de Jesus com os dez leprosos, narrado
no Evangelho de são Lucas (cf. Lc 17, 11-19), de maneira particular as palavras que
o Senhor dirige a um deles: «Levanta-te e vai, a tua fé te salvou!» (v. 19), ajudam
a tomar consciência acerca da importância da fé para aqueles que, angustiados pelo
sofrimento e pela enfermidade, se aproximam do Senhor. No encontro com Ele, podem
experimentar realmente que quantos acreditam nunca estão sozinhos! Com efeito, no
seu Filho Deus não nos abandona às nossas angústias e sofrimentos, mas está próximo
de nós, ajuda-nos a suportá-los e deseja curar profundamente o nosso coração (cf.
Mc 2, 1-12). A fé daquele único leproso que, vendo-se purificado, cheio de admiração
e de alegria, contrariamente aos demais, vai imediatamente até Jesus para lhe manifestar
o próprio reconhecimento, deixa entrever que a saúde readquirida é sinal de algo mais
precioso do que a simples cura física, pois constitui um sinal da salvação que Deus
nos concede através de Cristo; ela encontra expressão nas palavras de Jesus: a tua
fé te salvou! Quem, no seu próprio sofrimento e enfermidade, invoca o Senhor, está
convicto de que o Seu amor nunca o abandona, e que também o amor da Igreja, prolongamento
no tempo da Sua obra salvífica, jamais desfalece. A cura física, expressão da salvação
mais profunda, revela deste modo a importância que o homem, na sua integridade de
alma e corpo, reveste para o Senhor. De resto, cada Sacramento expressa e põe em prática
a proximidade do próprio Deus que, de modo absolutamente gratuito, «nos toca por meio
de realidades materiais... que Ele assume ao seu serviço, fazendo deles instrumentos
do encontro entre nós e Ele mesmo» (Homilia, Santa Missa Crismal, 1 de Abril de 2010).
«Aqui, torna-se visível a unidade entre criação e redenção. Os sacramentos são expressão
da corporeidade da nossa fé, que abraça corpo e alma, isto é, o homem inteiro» (Homilia,
Santa Missa Crismal, 21 de Abril de 2011). A tarefa principal da Igreja é, sem
dúvida, o anúncio do Reino de Deus, «mas precisamente este mesmo anúncio deve revelar-se
um processo de cura: “...tratar os corações torturados” (Is 61, 1)» (Ibidem), em conformidade
com a função confiada por Jesus aos seus discípulos (cf. Lc 9, 1-2; Mt 10, 1.5-14;
e Mc 6, 7-13). Por conseguinte, o binómio entre saúde física e renovação das dilacerações
da alma ajuda-nos a compreender melhor os «Sacramentos de cura». 2. Il Sacramento
da Penitência esteve com frequência no centro da reflexão dos Pastores da Igreja,
precisamente devido à sua grande importância no caminho da vida cristã, uma vez que
«toda a eficácia da Penitência consiste em restituir-nos à graça de Deus e em unir-nos
a Ele numa amizade perfeita» (Catecismo da Igreja Católica, n. 1.468). Dando continuidade
ao anúncio de perdão e de reconciliação feito ressoar por Jesus, a Igreja não cessa
de convidar a humanidade inteira a converter-se e a crer no Evangelho. Ela faz seu
o apelo do apóstolo Paulo: «Em nome de Cristo... sejamos embaixadores: através de
nós, é o próprio Deus quem exorta. Suplicamo-vos, em nome de Jesus Cristo: deixai-vos
reconciliar com Deus» (2 Cor 5, 20). Ao longo da sua vida, Jesus anuncia e torna presente
a misericórdia do Pai. Ele veio não para condenar, mas para perdoar e salvar, para
incutir esperança também na obscuridade mais profunda do sofrimento e do pecado, para
conceder a vida eterna; deste modo, no Sacramento da Penitência, na «medicina da confissão»,
a experiência do pecado não degenera em desespero, mas encontra o Amor que perdoa
e transforma (cf. João Paulo II, Exortação Apostólica pós-sinodal Reconciliatio et
paenitentia, 31). Deus, «rico de misericórdia» (Ef 2, 4), como o pai da parábola
evangélica (cf. Lc 15, 11-32), não fecha o coração a nenhum dos seus filhos, mas espera
por eles, procura-os e alcança-os onde a rejeição da comunhão aprisiona no isolamento
e na divisão, chamando-os a reunir-se ao redor da sua mesa, na alegria da festa do
perdão e da reconciliação. O momento do sofrimento, no qual poderia surgir a tentação
de se abandonar ao desânimo e ao desespero, pode transformar-se assim em tempo de
graça para voltar a si mesmo e, como o filho pródigo da parábola, reconsiderar a própria
vida, reconhecendo os próprios erros e fracassos, sentindo a saudade do abraço do
Pai e repercorrendo o caminho rumo à sua Casa. No seu grande amor, Ele vigia sempre
e de qualquer modo sobre a nossa existência, e espera-nos para oferecer a cada um
dos filhos que volta para Ele, o dom da plena reconciliação e da alegria. 3. Da
leitura dos Evangelhos sobressai claramente o modo como Jesus sempre demonstrou uma
atenção particular para com os enfermos. Ele não só convidou os seus discípulos a
curar as feridas dos mesmos (cf. Mt 10, 8; Lc 9, 2; 10, 9), mas também instituiu para
eles um Sacramento específico: a Unção dos Enfermos. A Carta de Tiago dá testemunho
da presença deste gesto sacramental já na primeira comunidade cristã (cf. 5, 14-16):
mediante a Unção dos Enfermos, acompanhada pela oração dos presbíteros, a Igreja inteira
recomenda os doentes ao Senhor sofredor e glorificado, a fim de que alivie as suas
penas e os salve, aliás, exorta-os a unir-se espiritualmente à paixão e à morte de
Cristo, para contribuir deste modo para o bem do Povo de Deus. Tal Sacramento leva-nos
a contemplar o dúplice mistério do Monte das oliveiras, onde Jesus se encontrou dramaticamente
diante do caminho que lhe fora indicado pelo Pai, a senda da Paixão, do supremo gesto
de amor, e aceitou-a. Naquela hora de provação, Ele é o mediador, «transportando em
si mesmo, assumindo em si próprio o sofrimento e a paixão do mundo, transformando-os
em clamor a Deus, levando-os diante dos olhos e até às mãos de Deus, e assim conduzindo-os
realmente até ao momento da Redenção» (Lectio divina, Encontro com o Clero de Roma,
18 de Fevereiro de 2010). Mas «o Horto das Oliveiras é... inclusive o lugar a partir
do qual Ele subiu ao Pai, tornando-se assim o lugar da Redenção... Este dúplice mistério
do Monte das Oliveiras também está sempre “activo” no óleo sacramental da Igreja...
sinal da bondade de Deus que nos toca» (Homilia, Santa Missa Crismal, 1 de Abril de
2010). Na Unção dos Enfermos, a matéria sacramental do óleo é-nos oferecida por assim
dizer, «como medicamento de Deus... que agora nos torna seguros da sua bondade e deve
revigorar-nos e consolar, mas ao mesmo tempo aponta para além do momento da enfermidade,
para a cura definitiva, a ressurreição (cf. Tg 5, 14)» (Ibid.). Este Sacramento
merece hoje uma maior consideração, quer na reflexão teológica, quer na obra pastoral
em favor dos doentes. Valorizando os conteúdos da oração litúrgica que se adaptam
às diversas situações humanas ligadas à doença e não só quando o doente está no fim
da própria vida (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1.514), a Unção dos Enfermos
não deve ser considerada como que «um sacramento menor» em relação aos demais. A atenção
e a cura pastoral pelos enfermos, se por um lado é sinal da ternura de Deus por aqueles
que se encontram no sofrimento, por outro traz benefício espiritual também aos sacerdotes
e a toda a comunidade cristã, na consciência de que o que fazemos aos mais pequeninos,
é ao próprio Jesus que o fazemos (cf. Mt 25, 40). 4. A propósito dos «Sacramentos
de cura», santo Agostinho afirma: «Deus cura todas as tuas enfermidades. Portanto,
não temas: todas as tuas enfermidades serão curadas... Tu só deves permitir que Ele
te cure e não deves rejeitar as suas mãos» (Exposição sobre o Salmo 102, 5: PL 36,
1319-1320). Trata-se de meios preciosos da Graça de Deus, que ajudam o doente a conformar-se
cada vez mais plenamente com o Mistério da Morte e Ressurreição de Cristo. Juntamente
com estes dois Sacramentos, gostaria de sublinhar também a importância da Eucaristia.
Recebida no momento da doença ela contribui, de maneira singular, para realizar tal
transformação, associando aquele que se alimenta do Corpo e do Sangue de Jesus, à
oferenda que Ele fez de si mesmo ao Pai, para a salvação de todos. Toda a comunidade
eclesial, e as comunidades paroquiais em particular, prestem atenção para garantir
a possibilidade de se aproximarem com frequência da Comunhão sacramental àqueles que,
por motivos de saúde ou de idade, não podem acorrer aos lugares de culto. Deste modo,
a estes irmãos e irmãs é oferecida a possibilidade de revigorar a relação com Cristo
crucificado e ressuscitado, participando com a sua vida oferecida por amor a Cristo,
na missão da própria Igreja. Nesta perspectiva, é importante que os sacerdotes que
exercem a sua obra delicada nos hospitais, nas casas de cura e nas habitações dos
doentes se sintam verdadeiros «“ministros dos enfermos”, sinal e instrumento da compaixão
de Cristo, que deve alcançar cada homem assinalado pelo sofrimento» (Mensagem para
o XVIII Dia Mundial do Doente, 22 de Novembro de 2009). A conformação com o Mistério
pascal de Cristo, realizada também mediante a prática da Comunhão espiritual, adquire
um significado totalmente particular, quando e Eucaristia é administrada e acolhida
como viático. Naquele momento da existência ressoam de modo ainda mais incisivo as
palavras do Senhor: «Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna,
e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia» (Jo 6, 54). Com efeito a Eucaristia, principalmente
como viático, é — segundo a definição de santo Inácio de Antioquia — «remédio de imortalidade,
antídoto contra a morte» (Carta aos Efésios, 20: PG 5, 661), sacramento da passagem
da morte para a vida, deste mundo para o Pai, que a todos espera na Jerusalém celeste. 5.
O tema desta Mensagem para o XX Dia Mundial do Doente: «Levanta-te e vai, a tua fé
te salvou!», visa também o próximo «Ano da Fé», que terá início a 11 de Outubro de
2012, ocasião propícia e preciosa para redescobrir a força e a beleza da fé, para
aprofundar os seus conteúdos e para a testemunhar na vida de todos os dias (cf. Carta
Apostólica Porta fidei, 11 de Outubro de 2011). Desejo encorajar os doente e quantos
sofrem a encontrar sempre uma âncora segura na fé, alimentada pela escuta da Palavra
de Deus, da oração pessoal e dos Sacramentos, enquanto convido os Pastores a permanecerem
cada vez mais disponíveis à sua celebração para os enfermos. Segundo o exemplo do
Bom Pastor e como guias do rebanho que lhes foi confiado, os presbíteros sejam repletos
de alegria, atentos aos mais frágeis, aos simples, aos pecadores, manifestando a misericórdia
infinita de Deus com as palavras tranquilizadoras da esperança (cf. Santo Agostinho,
Carta 95, I: PL 33, 351-352). Àqueles que trabalham no mundo da saúde, assim como
às famílias que nos seus próprios entes queridos veem a Face sofredora do Senhor Jesus,
renovo o meu agradecimento e o da Igreja a fim de que, na competência profissional
e no silêncio, muitas vezes inclusive sem mencionar o nome de Cristo, manifestam-no
concretamente (cf. Homilia na Santa Missa Crismal, 21 de Abril de 2011). A Maria,
Mãe de Misericórdia e Saúde dos Enfermos, elevemos o nosso olhar confiante e a nossa
prece; a sua compaixão materna, vivida ao lado do Filho agonizante na Cruz, acompanhe
e sustenha a fé e a esperança de cada pessoa enferma e sofredora ao longo do caminho
de cura das feridas do corpo e do espírito. A todos asseguro a minha recordação
orante, enquanto concedo a cada um uma especial Bênção Apostólica. Vaticano, 20
de Novembro de 2011, Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo.