«Nunca mais» abusos sexuais, exige prefeito da Congregação para os Bispos. Em Roma
uma vigília de oração para pedir perdão às vítimas
(8/2/2012) O cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos, disse
esta terça-feira em Roma que é intolerável haver “abusos de crianças” dentro da Igreja
Católica. “Nunca mais”, exigiu o responsável da Cúria Romana, que presidiu a uma
‘vigília penitencial’ para pedir perdão às vítimas de abusos sexuais por membros do
clero ou em instituições eclesiais. A celebração juntou participantes no simpósio
internacional que decorre em Roma, até quinta-feira, com representantes de 110 conferências
episcopais, e 30 ordens religiosas. A iniciativa, com o tema ‘Rumo à cura e à renovação’,
é organizada pela Universidade Pontifícia Gregoriana, de Roma, contando com o apoio
da Santa Sé, em particular da Congregação da Doutrina da Fé que em 2011 solicitou
aos episcopados católicos de todo o mundo a elaboração de diretivas próprias para
tratar os casos de abusos sexuais, a serem entregues até final de maio deste ano. “Esperamos
sinceramente que o compromisso da Igreja para erradicar este grande mal possa favorecer
a renovação, também nas outras comunidades e estruturas da sociedade”, declarou o
cardeal Ouellet. O prefeito da Congregação para os Bispos falou em “grande vergonha”
e “enorme escândalo”, frisando que o gesto de “purificação” que se promoveu, simbolicamente,
na vigília de oração, deve envolver “toda a Igreja”. “O abuso sexual é um crime
que causa uma experiência de morte aos inocentes”, alertou. A cerimonia tinha começado
com uma procissão silenciosa e encerrou-se com uma declaração simbólica de arrependimento
por parte de sete representantes de membros da Igreja que enfrentaram de modo inadequado
o problema da pedofilia: um bispo, um educador, um superior, um padre, um pai, um
fiel e um cardeal (o próprio D. Ouellet).
Na conclusão, uma senhora irlandesa
que quando adolescente foi vítima de abusos, Marie Collins, tomou a palavra diante
da cruz e em nome das vítimas, rezou: “Senhor, ofendido pelos homens, homem de dores,
para nós é difícil perdoar aqueles que nos fizeram mal; somente a tua graça nos pode
conceder este dom; pedimos-te a força de unir-nos ao perdão que da cruz fizeste descer
sobre a humanidade pecadora como uma consolação, para que a tua Igreja seja curada
também com o nosso perdão. Perdoa-lhes”. O coro entoou o 'Kyrie eleison'. Os
trabalhos do simpósio prosseguiram hoje com uma intervenção do promotor de justiça
da Congregação para a Doutrina da Fé , organismo da Santa Sé, o qual afirmou que “a
busca da verdade” nos casos de abusos sexuais é “um dever moral e legal”. D- Charles
Scicluna frisou que as leis da Igreja Católica nesta matéria são “claras”, mas admitiu
que isso pode não bastar “para a paz e para a ordem da comunidade”. Desde 2010,
por decisão do Papa, é possível que o bispo de uma diocese ou o superior de uma congregação
religiosa possam “impor limitações ao ministério” de quem é acusado, nas primeiras
fases do procedimento. O religioso brasileiro Edenio Valle abordou o tema ‘Religião,
sociedade e cultura em diálogo’, afirmando a necessidade de “situar a crise interna
que aflige a Igreja no contexto maior do que se passa hoje na sociedade e na cultura
contemporâneas”. Os responsáveis católicos, indicou, devem “discernir com maior
objetividade e lucidez os elementos negativos e positivos que condicionam a vivência
da sexualidade no mundo de hoje”.