Mons. Scicluna em Simpósio sobre abusos contra menores: quem não denuncia um crime
é inimigo da Igreja
Cidade do Vaticano (RV) - Prosseguem, na Pontifícia Universidade Gregoriana
de Roma, os trabalhos do Simpósio "Rumo à cura e à renovação", dedicado aos abusos
sexuais ocorridos na Igreja contra menores, do qual participam delegados de 110 conferências
episcopais e de mais de 30 ordens religiosas.
Para o Diretor da Sala de Imprensa
da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, está emergindo com clareza – da reflexão destes
dias – a vontade da Igreja de dotar-se dos meios para proteger as crianças e construir
um ambiente seguro para elas, tornando-se exemplo para toda a sociedade.
As
atividades desta terça-feira concluíram-se com uma vigília penitencial na Igreja de
Santo Ignácio, com o pedido de perdão a Deus e às vítimas dos abusos. Já os trabalhos
desta quarta-feira foram abertos pelo Promotor de Justiça da Congregação para a Doutrina
da Fé, Mons. Charles Scicluna, com uma conferência sobre o tema da busca da verdade
nos casos de abusos sexuais do ponto de vista das obrigações morais e legais.
"Quem
engana, quem não denuncia, é inimigo da justiça e, consequentemente, da Igreja" –
declarou Mons. Scicluna em coletiva de imprensa. Ademais, o Promotor de Justiça reiterou
o dever da Igreja de "escutar a dor das vítimas, de assisti-las, e de tratá-las com
dignidade", e acrescentou que "se nota uma redução do número de novos casos e se assiste
a um andamento decrescente" desses crimes.
"O problema e a grande preocupação
é com a Europa" – revelou –, onde emergiram ou estão emergindo muitos casos. Portanto,
a Igreja tem a obrigação de cuidar das vítimas de abusos e de ajudá-las em seu percurso
de cura, mas, sobretudo, tem a obrigação de denunciar tais crimes às autoridades civis
do país em que eles se verificaram.
Nesse sentido, as indicações da Congregação
para a Doutrina da Fé aos bispos são muito explícitas. Em particular, quando se afirma
que a cooperação com os organismos de investigação deve ser total e imediata.
Já
no que diz respeito ao mecanismo sancionador dentro da Igreja, vinculado a normas
do Direito Canônico, já existentes, a questão é diferente – precisou o Promotor de
Justiça.
É o caso, por exemplo, das eventuais sanções em relação àqueles bispos
que se tornassem responsáveis por atitudes omissivas ou que não se tivessem atido
às diretivas da Congregação para a Doutrina da Fé. Em todo caso – ressaltou Mons.
Scicluna –, seria uma atitude intolerável no âmbito da Igreja.
A imprensa internacional
deu destaque à vigília penitencial realizada no final desta terça-feira na Igreja
de Santo Ignácio. Não se tratou, como dizem muitos, de um simples mea culpa da Igreja
– defendeu Mons. Scicluna –, foi muito além, prevendo medidas de prevenção e de assistência
às vítimas.
Um dos conferencistas da manhã desta quarta-feira foi o psicólogo
e terapeuta Pe. Edênio Valle, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP),
a quem nossa colega do programa Português-África Dulce Araújo perguntou em que medida
as reflexões e debates destes dias terão conseqüências práticas para a Igreja em relação
à questão dos abusos contra menores: