Abusos sexuais do clero: onde estão as causas? Ouça
Roma
(RV) - O simpósio aberto segunda-feira em Roma, intitulado “Rumo à cura e renovação”,
tem um relator brasileiro: Pe. Edenio Valle, SVB, psicólogo e fundador do Centro ITA,
Instituto Terapêutico “Acolher”, em São Paulo, que atende o clero e a vida religiosa
com problemas psicológicos ligados a desvios sexuais.
Nos últimos anos foram
denunciados milhares de casos de abusos contra menores nos Estados Unidos, Irlanda,
Alemanha, Bélgica, Áustria, Itália, Austrália, Malta e Holanda, entre outros países.
Segundo
Pe. Edenio, as causas deste fenômeno podem ser encontradas nas rápidas transformações
sociais e no impacto que estas têm sobre o clero.
“A mudança acelerada
da sociedade pós-moderna neo-capitalista e dos valores culturais que ela propõe às
multidões... como isso atinge as religiões? No clero de modo especial, porque o clero
sofre o impacto destas transformações. A Igreja propõe modelos, que em minha opinião,
devido a uma origem muito antiga, já não são mais capazes de dar todos os recursos
que um padre, numa cidade como São Paulo, por exemplo, ou no interior da Amazônia,
na beira de um rio, precisa para se manter um padre a serviço daquela cultura, e não
só: sendo capaz de dar um sentido à sua afetividade, à sua sexualidade, mas colaborando
para a cura e a renovação da própria sociedade, da própria cultura”.
“Nos
três momentos em que a minha palestra vai se dividir, terei muito presente que os
valores propostos pela Igreja para esta cura e renovação estão na linha do que o Papa
Bento XVI propõe, mas a Igreja só terá credibilidade, só será aceita pela sociedade
e ajudará as pessoas no nível do comportamento e cultura se primeiramente nós, dentro
da nossa própria casa, a começar pelo clero, tivermos uma política clara na qual a
visão e o valor que a Igreja dá à vida e à espiritualidade do padre encontrarem um
embasamento psicossocial adequado”.
“O Papa Bento XVI vê que este problema
está desmerecendo e está, sobretudo, levando a uma perda de prestígio religioso, ético,
moral e político da Igreja Católica nos principais países católicos do mundo. No Brasil,
na América Latina, este tema ainda não é tratado; a grande mídia toca no assunto,
mas de uma maneira aberta. O Papa, com muita coragem, está abrindo uma discussão e
propõe que em nível mundial, a Igreja discuta isso e parta para medidas e ações”.
“É
preciso que em todos os campos: na família, na escola, na educação, na cultura, na
mídia, tenhamos condições de ajudar o processo de formação humana, afetiva, sexual,
religiosa e espiritual, daqueles que aderem à nossa Igreja, porque está havendo um
êxodo maciço de católicos em toda a América Latina, e fortíssimo no Brasil. A Igreja
Católica vai diminuir muito; em cidades como o Rio de Janeiro, só a metade da população
se diz católica”. (CM)