Abusos sexuais, uma tragédia para a Igreja Católica. Papa enviou mensagem a participantes
em colóquio internacional, em Roma
(7/2/2012) Bento XVI considera que os casos de abusos sexuais que envolveram membros
do clero ou instituições eclesiais são uma “tragédia” para a Igreja Católica, que
exige uma “salvaguarda efetiva” e apoio às vítimas. “A atenção pelas vítimas deve
ser uma preocupação prioritária na comunidade cristã e deve andar lado a lado com
uma profunda renovação da Igreja, a todos os níveis”, indica uma mensagem papal, enviada
esta segunda-feira pelo Secretário de Estado , cardeal Tarcisio Bertone aos participantes
no simpósio sobre os casos de abusos sexuais na Igreja que decorre em Roma, até quinta-feira,
com representantes de 110 conferências episcopais, incluindo a portuguesa, e 30 ordens
religiosas. A iniciativa é organizada pela Universidade Pontifícia Gregoriana,
de Roma, contando com o apoio da Santa Sé, em particular da Congregação da Doutrina
da Fé que em 2011 solicitou aos episcopados católicos de todo o mundo a elaboração
de diretivas próprias para tratar os casos de abusos sexuais, a serem entregues até
final de maio deste ano. Os trabalhos, que têm como tema ‘Rumo à cura e à renovação’,
foram inaugurados na tarde desta segunda-feira pelo cardeal norte-americano, D. William
Levada, prefeito da, Congregação da Doutrina da Fé o qual falou em mais de 4000 casos
de abusos relatados à Santa Sé, na última década. Esse número, indicou, revelam
a “desadequação de uma resposta exclusivamente canónica a esta tragédia”. Para
este responsável, a Igreja deve concentrar-se na prevenção, criando um “ambiente seguro”
para as crianças e investindo na formação dos sacerdotes. O cardeal Levada destacou,
por outro lado, o exemplo dado pelo Papa ao ouvir as vítimas “nas suas visitas pastorais
na Grã-Bretanha, Malta, Alemanha, Austrália e Estados Unidos da América”. O prefeito
da Congregação da Doutrina da Fé observou ainda que as autoridades eclesiásticas devem
cooperar com as “autoridades civis” relativamente à “denúncia destes crimes” de abusos
sexuais. Esta manhã, os participantes no encontro ouviram o testemunho de Marie
Collins, uma irlandesa vítima de abuso aos 13 anos de idade, quando se encontrava
num hospital, há mais de meio século. “É impossível esquecer e não posso escapar
aos seus efeitos”, disse, sobre estes acontecimentos. Collins falou do processo
de denúncia, revelando ter sido tratada como “alguém com uma agenda contra a Igreja”
e acusando os responsáveis diocesanos de darem prioridade ao “bom nome” do abusador,
que acabaria por ser preso, por este e outros crimes. A vítima irlandesa trabalha,
há mais de uma década, com a sua diocese e a Igreja Católica no seu país para “melhorar
as políticas de proteção de menores”. Hoje, às 18h30 (hora de Roma), o cardeal
canadiano D. Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos, vai presidir a
uma ‘vigília penitencial’, na qual responsáveis de sete instituições católicas “culpadas
ou negligentes” nestas questões vão pedir perdão, publicamente, às vítimas.